13/04/2012 - 21:00
Há sete meses sem operar no Brasil, o bilionário investidor americano Sam Zell, dono do fundo de investimentos Equity International (EI), está de volta. A diferença agora é que em vez do eixo Rio-São Paulo, onde estavam sediados seus antigos investimentos – a BR Malls, dona de shopping centers, e a Gafisa, construtora de alto padrão –, seu quartel-general está em Curitiba. É na capital paranaense que funciona o QG do grupo Thá, que atua nas áreas de construção, incorporação e venda de imóveis, que desde o início deste mês passou a ser controlado por Zell, dono de 80% de seu capital. Fundado pelo imigrante italiano Maurizio Thá, em 1895, o grupo centenário teve um volume de vendas de R$ 1,5 bilhão em 2011.
Rumo ao sul: depois de tentar voltar à Gafisa, Zell monta
base em Curitiba.
A primeira providência de Zell foi reorganizar a estrutura do Thá, com a criação de um novo conselho de administração, formado por dois representantes da EI e um da família, que está na quarta geração e é composta de 40 herdeiros. Além disso, Zell convidou para diretor-financeiro o experiente executivo Alexandre Augusto Leal, cujo currículo inclui passagens por empresas globais, como o braço financeiro da CNH, do Grupo Fiat, e a subsidiária da Electrolux. Do ponto de vista operacional, sua prioridade será o braço de construção, representado pela Thá Engenharia, que, no ano passado, contribuiu com R$ 400 milhões da receita global do grupo.
“Queremos transformá-la em uma das maiores construtoras do País,” afirma Sandro Westphal, CEO do Grupo Thá. No comando desde 2008, Westphal foi mantido no posto e recebeu uma participação acionária. Com a Thá, Zell se credencia para ser um competidor destacado em um mercado em franca expansão. Em 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná cresceu 4%, quase 50% acima da média nacional. No caso específico da construção civil, o cenário é especialmente favorável. Dados da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-PR) mostram a existência de uma demanda forte em todos os segmentos.
O CEO WestPhal: ”Queremos transformar a Thá em uma das maiores construtoras do Brasil”
Inclusive no de alto padrão, composto por imóveis com preço de venda acima de R$ 1 milhão, que respondeu por 15% do valor dos lançamentos feitos, em 2011, no Estado. “As empresas locais não contam com capital suficiente para explorar todo o potencial desses mercados emergentes”, afirma Ricardo Gonçalves, coordenador do curso de negócios imobiliários da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). “A chegada de Zell ao Paraná mostra que a região Sul está entrando no radar dos grandes investidores.” O grupo Thá conta com uma carteira de terrenos do braço de incorporação, avaliada em R$ 2 bilhões e que inclui ativos no Paraná e em Santa Catarina. Como opera de forma verticalizada, atuando em todas as etapas – da construção à comercialização dos imóveis –, consegue controlar melhor seus custos operacionais.
Essa intensa movimentação na região Sul não significa dizer, porém, que Zell tenha desistido de voltar a trabalhar no eixo Rio-São Paulo. Em fevereiro, ele fez uma oferta por um bloco de ações da Gafisa, em parceria com o GP Investments. A proposta foi rechaçada pela direção da construtora que se tornou um dos símbolos do estilo de atuação do bilionário americano. Em 2005, Zell desembolsou US$ 50 milhões para adquirir 32% do capital da Gafisa. Cinco anos mais tarde ele começou a reduzir sua participação. Nessa caminhada, uma tacada chamou a atenção do mercado, quando ele embolsou US$ 107 milhões com a venda de uma participação de apenas 4,58%. Resta saber se a paranaense Thá vai render um retorno tão expressivo à velha raposa do setor imobiliário.