11/07/2014 - 20:00
Uma equipe composta por chineses, japoneses, americanos e até por um austríaco se movimentava pelos corredores do Sheraton São Paulo WTC Hotel, na segunda-feira 7. Funcionários da fabricante chinesa de painéis de energia solar Yingli, eles se preparavam, às vésperas das semifinais da Copa do Mundo, para receber seus convidados que viriam assistir, dois dias depois, na Arena Corinthians, a partida entre Argentina e Holanda. No time de patrocinadores oficiais da Copa, o nome mais exótico e menos conhecido é inegavelmente o da Yingli.
Fundada em 1998 na província de Hebei, pelo empresário Liansheng Miao, a empresa está longe de ser uma empresa centenária, como Johnson & Johnson. Tampouco tem relação direta com o esporte, como a Adidas. Ou se constitui em uma potência de marca para consumidores globais, como a Coca-Cola. Mas a estratégia de patrocinar a Copa do Mundo, um alto investimento que custa às empresas em torno de US$ 75 milhões, segundo especialistas de marketing, deu à Yingli uma exposição inédita para uma companhia chinesa junto ao público brasileiro.
“Com a Copa, atraímos muita curiosidade por parte de empresas e consumidores”, diz o austríaco Markus Vlasits, diretor-geral, que comandou a instalação da Yingli no Brasil, a partir do fim de 2012. “Chegamos para ficar.” Como destaque de sua estratégia de apoio à maior festa do futebol está a instalação de sistemas de energia solar em duas arenas do Mundial. O telhado do Estádio do Maracanã recebeu 1,5 mil painéis, o suficiente para abastecer 240 casas por ano. Já o plano para a Arena Pernambuco foi mais ambicioso, com 3.650 painéis e a capacidade de gerar 1,5 mil megawatts por hora de eletricidade.
Esses projetos se somam a outros contratos relevantes fechados pela Yingli no Brasil, dos quais se destaca o fornecimento de 20 mil painéis para a Tractebel Energia montar a Usina Solar Cidade Azul, em Tubarão, no Sul de Santa Catarina. Mas essa instalação não deve continuar sendo por muito tempo a maior da empresa no País. A filial dirigida por Vlasits possui negociações avançadas com a Enova Solar para realizar o maior projeto de energia solar em terras brasileiras, que deverá ser montado em Caetité, no interior da Bahia.
“O momento é perfeito para a tecnologia no Brasil, devido à crise energética e ao aumento de preços da eletricidade que deve acontecer no próximo ano”, afirma Vlasits. Mas, além do interesse de se apresentar para o mercado brasileiro, o que justifica o interesse da chinesa pela Copa? Os países emergentes estão no centro da estratégia de crescimento da Yingli. A América do Sul e a África, dois continentes que acompanham apaixonadamente o futebol, são vistos como os espaços de maior potencial de expansão da tecnologia de painéis fotovoltaicos nos próximos anos.
Além disso, aparecer na Copa do Mundo deve trazer impactos para outros mercados-chave da Yingli, incluindo a sua terra natal. A China já é o país com o maior número de espectadores de futebol, além de ter se tornado no ano passado o maior consumidor de energia solar do mundo. E, acima de tudo isso, a empresa pretende ficar mais parecida com as suas parceiras de patrocínio, como Coca-Cola, Adidas e Johnson & Johnson. “O mercado passa por um momento de virada, se voltando para os consumidores finais”, diz Judy Tzeng Lee, vice-presidente global de marketing da Yingli. É um avanço que a empresa não pretende perder depois de assumir a sua atual posição de protagonismo no mercado global de energia limpa.
Em 2010, quando se tornou a última companhia a fechar patrocínio para a Copa do Mundo da África do Sul, a Yingli exportava seus equipamentos para apenas nove países. Agora, são 50. Em 2012, ela se tornou a maior empresa em unidades de painéis solares negociados e, no ano passado, se tornou a maior em receita, com um faturamento de US$ 2,2 bilhões. Atualmente, um de cada dez painéis fotovoltaicos instalados no planeta foi construído pela chinesa. Um lema do fundador Miao demonstra a postura agressiva da Yingli: “Seja maior ou volte para casa”. Quando os funcionários que passaram um mês no Brasil cuidando das ações de marketing da empresa voltarem para os seus países, eles terão terminado um esforço que, com certeza, ajudou a tornar a Yingli maior e mais reconhecida.