Nos últimos dez anos, o comércio da laranja tem deixado um gosto amargo na boca de produtores e processadores da fruta. Alguns fatores colaboraram para isso. A lista inclui desde problemas relacionados à infestação de pragas nas plantações até a cobrança de sobretaxa para entrar nos Estados Unidos. Isso não significa que o setor esteja em risco. Mas é correto dizer que seu futuro já não parece tão doce quanto vinha sendo até o final de 2005. Desde então, o consumo mundial do suco caiu 10%.

É nesse contexto que deve ser entendida a decisão do empresário paulista José Luis Cutrale, dono do grupo Cutrale, que tentou assumir o controle da americana Chiquita Brands International. Para isso, ele se uniu ao banqueiro José Safra e ofereceu US$ 625 milhões pelo controle de uma das líderes globais na produção e comercialização de bananas. A oferta foi recusada dias depois pelos americanos. Apesar disso, Cutrale não deve desistir de expandir seus domínios, de acordo com analistas ouvidos pela DINHEIRO. “A Chiquita era a chance de a empresa diversificar seu portfólio sem se afastar de sua vocação, que é o agronegócio”, disse a fonte, que não quis se identificar.

“Por isso, o empresário não deve parar por aí.” O apetite da dupla Cutrale-Safra é tamanho que eles ofereceram um prêmio de 30% sobre a cotação atual da Chiquita e estavam dispostos a liquidar a fatura à vista e em espécie. O objetivo era tentar atrair os acionistas da Chiquita, descontentes com o processo em curso de fusão com a irlandesa Fyffes, que envolve apenas troca de ações. “Estamos confiantes que nossa oferta vai gerar mais valor para os acionistas da Chiquita”, afirmou a direção da Cutrale em comunicado enviado aos americanos, junto com a proposta.

Apesar de ser conhecida por sua atuação na produção de banana, com uma participação de 22% no mercado global, a Chiquita possui um portfólio diversificado que inclui abacaxi in natura, saladas processadas e embaladas e chips de frutas. Com vendas anuais estimadas em US$ 1 bilhão, a Cutrale é a maior processadora de concentrado de laranja, com plantações no Brasil e na Flórida. Mas a queda no consumo do suco e a saída de inúmeros agricultores do setor, especialmente em São Paulo, levou a Cutrale a diversificar os negócios. Em 2013, quase metade de suas receitas foi obtida com a venda de soja. Por isso o não da Chiquita não deve aplacar o apetite de Cutrale.