Quem frequenta academia sabe que não adianta fazer exercícios físicos durante uma semana e esperar que os resultados perdurem pelo restante do ano. Mas, quando se trata de educação corporativa, a lógica é essa. Não é raro um funcionário fazer um curso de especialização de segunda a sexta-feira para, no fim, receber um certificado que ficará no fundo da gaveta, sem efeitos práticos no dia a dia do escritório. No entanto, o cenário econômico mais desafiador obrigou as empresas a dar prioridade a treinamentos que tenham impactos mensuráveis.

Esse quadro chamou a atenção da International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, e resultou no seu primeiro aporte em uma companhia voltada à educação corporativa. A escolhida foi a brasileira Affero Lab, a maior do setor, que faturou R$ 135 milhões, em 2014 (veja quadro). O investimento da IFC foi de cerca de US$ 21 milhões (R$ 65 milhões), por 30% da empresa, e foi realizado através da IFC Asset Management Company, uma subsidiária que investe capital de terceiros.

Ao todo, a gestora administra US$ 8,1 bilhões por meio de oito fundos de investimento, incluindo US$ 1 bilhão do Fundo para África, América Latina e Caribe (ALAC), que tem como investidores a própria IFC, o gestor de fundo de pensão holandês PGGM e o saudita Saudi Pension Fund, entre outros. “A capacitação dos funcionários aumenta a renda familiar e melhora a condição sócio-econômica do País, que é um dos nossos principais objetivos”, diz Carmen Valéria de Paula, diretora de investimento da IFC. Como maior investidor multilateral em educação, a IFC beneficiou 2,5 milhões de pessoas no mundo todo, ao longo do ano fiscal de 2014.

A IFC não está sozinha no aporte feito na Affero Lab. A Bertelsmann, que atua nos segmentos de mídia, serviços e educação em cerca de 50 países, também investiu cerca de R$ 100 milhões por 40% do negócio, segundo fontes familiarizadas com a negociação. A gestora Bozano Investimentos, por outro lado, vendeu sua participação de 27,7% na Affero Lab. A empresa, agora, espera dobrar de tamanho em dois ou três anos. “Fomos muito procurados por fundos de investimento nos últimos anos, mas queríamos parceiros que tivessem a mesma visão estratégica e os mesmos valores que os nossos”, diz Alexandre Santille, presidente da Affero Lab, que negociou por mais de um ano com a IFC e a Bertelsmann.

“O crescimento virá por meio de aquisições e com o lançamento de produtos e soluções”, diz, sem dar mais detalhes. Na quinta-feira 2, a IFC também assinou um acordo de financiamento com o grupo Ser Educacional, que irá custear as construções do campi da Faculdade Maurício de Nassau em Aracaju e em Fortaleza, assim como a reforma de unidades existentes em outros estados, além de futuras aquisições. O montante equivale US$ 40 milhões (ou R$ 125 milhões) e será firmado em reais, utilizando a taxa de câmbio a ser definida no dia do desembolso. A operação terá taxa de juros equivalente a CDI + 2,05% ao ano, com vencimento em 15 de abril de 2022.

Segundo Carmen, a expectativa é que as atividades da Affero Lab tenham efeito replicador até mesmo em outros países. “Diferentemente de fundos tradicionais, não pagamos dividendos e não temos prazo para sair das empresas investidas, só o fazemos quando cumprimos nosso papel”, afirma. A forma de medir o resultado, portanto, é o número de estudantes beneficiados ou, nesse caso, será o total de funcionários mais bem preparados para enfrentar o mercado de trabalho. Isso é importante especialmente porque a produtividade no Brasil cresceu menos do que em outros países, nos últimos anos. Segundo estudo da CNI, divulgado em março, de 2002 a 2012, o produto por hora trabalhada no País avançou 0,6% ante uma elevação de 6,7% na Coreia do Sul.

Com maior acesso ao mundo digital, o brasileiro passou a recorrer a cursos à distância para impulsionar a sua carreira. Isso explica porque, em apenas nove meses, o Brasil se tornou o quarto maior mercado do Coursera, plataforma de ensino online, atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. “Sabemos como é difícil acessar educação de qualidade nas melhores universidades do mundo por um preço acessível, e nós permitimos que isso aconteça”, diz Lila Ibrahim, vice-presidente de negócios do Coursera, que oferece cursos em parceria com Yale, Standford, Princeton, USP, entre outras. “Existe um poder transformacional nesse acesso.” É o que esperam as empresas, os funcionários e até mesmo o Produto Interno Bruto do País.