O então CEO do Yahoo!, Terry Semel, em 2002, era saudado pelo mercado por ter preservado o portal durante o estouro da bolha da internet, que resultou na quebra de várias companhias digitais no início da década passada. Embora não tivesse experiência em empresas de tecnologia, ele se mostrava confiante de estar no caminho certo ao endurecer a conversa com dois rapazes que pretendiam vender, por U$ 5 bilhões, um site especializado em buscas na internet. O próprio Yahoo! na época usava o sistema desenvolvido pela dupla. Semel fez uma contraproposta de US$ 3 bilhões e se manteve irredutível: nenhum um tostão a mais. Os garotos com quem o CEO do Yahoo! negociava – Larry Page e Sergey Brin, fundadores do Google – se recusaram vender sua cria por um preço abaixo do que pretendiam. Hoje, o valor de mercado do Google é de quase U$ 200 bilhões, ou 40 vezes mais do que Page e Brin desejavam. A invenção dos dois passou a ser o principal mecanismo de buscas do mundo, tirando boa parte da receita e da audiência do Yahoo!, que atualmente vale U$ 18,5 bilhões.  

 

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Contratado para reerguer o portal, Scott Thompson pediu demissão após ser questionado por informação

errada em seu currículo.

 

Passados dez anos, o Yahoo! permanece entre os líderes do mercado de internet em audiência e faturamento, mas vai perdendo a relevância, pois não soube se adaptar à era das redes sociais e da mobilidade. Como se não bastasse a dura missão de entrar nos trilhos, a companhia se vê agora em novas complicações. Na semana passada, veio à tona a notícia de que Scott Thompson, que ocupava desde janeiro o cargo de CEO, forneceu dados errados em seu currículo. O executivo dissera ter formação em ciências da computação, o que não é verdade. A informação equivocada constou em comunicação oficial enviada à SEC (espécie de CVM dos Estados Unidos). O episódio acabou provocando a demissão de Thompson. Em comunicado divulgado no domingo 13, o grupo de internet anunciou que Ross Levinsohn, diretor da divisão de mídia da empresa, assumirá o cargo interinamente.  
 

Thompson foi contratado com a missão de reconduzir o Yahoo! ao topo do mercado.  Uma de suas primeiras atitudes foi deixar claro que privilegiaria a área de criação de conteúdo, em detrimento de serviços. Para isso, demitiu 2 mil funcionários – 14% do quadro– e anunciou o fechamento de cerca de 50 departamentos que trazem prejuízos para a empresa. Antes de ser afastado da companhia, segundo um memorando obtido pela CNN, o ex-CEO disse aos funcionários que “lamentava profundamente o fato desse problema ter afetado a empresa.” Suas palavras, porém, não acalmaram o mercado. Enquanto internautas faziam críticas pelo Facebook, Daniel Loeb, acionista do fundo Third Point, que detém 6% das ações do portal, pedia a cabeça do executivo.

 

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Larry Page (à esq.) e Sergey Brin negociaram a venda do Google

para o Yahoo! na década passada.

 

Na tentativa de se reerguer, o Yahoo! tem a seu favor, a despeito dos tropeços e cabeçadas, uma marca reconhecida em todo o planeta e alguns serviços importantes.  Um exemplo é o Yahoo! Mail. Segundo a consultoria comScore, é o correio eletrônico número 2 no mundo, usado até o ano passado por mais de 310 milhões de pessoas. A questão é que a ferramenta parece parada no tempo, sem grandes evoluções desde o aparecimento do rival Gmail, do Google. Mais gritante ainda é a oportunidade perdida com o Flickr, a rede social de fotografia adquirida em 2005. Sem nenhum problema de segurança ou privacidade dos usuários, algo que costuma incomodar o Facebook, o serviço impôs restrições draconianas para as contas gratuitas, como a limitação de exibição de 200 fotos para quem não pagar US$ 25 por ano. Uma mordaça difícil de justificar em tempos de álbuns totalmente livres no Facebook, no Google Plus ou no Orkut. O Yahoo! poderia também ter investido antes na adaptação do Flickr para os smartphones – isso só ocorreu no segundo semestre de 2011. Como demorou, o caminho ficou livre o Instagram, aplicativo que hoje reina absoluto nessa área e que foi vendido por US$ 1 bilhão para o Facebook recentemente. É por essas e outras razões que, ao que tudo indica, a trajetória para o Yahoo! retomar os dias de glória será longa e árdua.