[posts-relacionados]Candidaturas sob risco na Justiça, especulações sobre estreantes no cenário político e negociações para eventuais alianças. Até mesmo mudanças de partido estão previstas. A cerca de dez meses das eleições, não são poucos os fatores que ainda fazem da relação de nomes que estarão no páreo pela Presidência da República uma grande incógnita. No entanto, em um contraponto às indefinições desse cenário, uma parcela considerável do empresariado brasileiro já escolheu claramente a agenda liberal como o modelo que julga ser ideal para que o País consolide sua retomada e uma trilha de crescimento verdadeiramente sustentável para os próximos anos.

Um sinal de que esse será o caminho defendido por boa parte do mercado foi dado na quarta-feira 10, em Nova York, durante a NRF Retail’s Big Show, maior evento do varejo mundial. A feira foi palco da leitura de uma carta-manifesto, elaborada e divulgada por Flávio Rocha, presidente da rede varejista Riachuelo. “É preciso tirar o Estado das costas da sociedade, do cidadão, dos empreendedores, que estão sufocados e não aguentam mais seu peso”, afirma o empresário. O documento marcou também o lançamento do Movimento Brasil 200 anos, em uma alusão ao bicentenário da Independência do País, que será comemorado em 2022. No texto, ele ressalta que o livre mercado é a única forma de gerar oportunidades e riquezas para todos. E convoca seus pares: “Sem uma elite empresarial comprometida de corpo e alma com o progresso, com o avanço institucional, com mais liberdade, menos intervencionismo e a diminuição do estado hipertrofiado, não vamos a lugar algum.”

De imediato, a iniciativa ganhou a adesão de treze nomes de peso do setor produtivo brasileiro. A relação dos empresários que assinaram a carta-manifesto inclui Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza; o publicitário Roberto Justus; Antônio Alberto Saraiva, fundador da rede Habib’s, entre outros. “Precisamos dar um basta nesse modelo, que favorece o fisiologismo, a mamata e os cabides de empregos das estatais”, diz Sonia Hess, fundadora da marca de roupas Dudalina, outra signatária do documento.

Sinal de alerta: Ronaldo Pereira, CEO da Óticas Carol, destaca os avanços recentes na economia. Mas entende que esse cenário pode ser abalado caso o ex-presidente Lula seja absolvido em segunda instância e possa disputar as eleições (Crédito:Murillo Constantino/Agência O Dia)

A empresária ressalta as candidaturas e propostas extremistas como mais um aspecto que deve, necessariamente, ser levado em conta no processo eleitoral e em seus possíveis reflexos no mercado até a definição das urnas. “Não podemos mais ser reféns de fanáticos. Tudo o que é extremo se torna fundamentalista, o que é extremamente prejudicial para o País.” Em entrevista recente à DINHEIRO, Hélio Rotenberg, cofundador e CEO da Positivo Tecnologia, afirmou que a volatilidade dependerá dos resultados das pesquisas de intenção de voto. Mas ressalta: “Não podemos ter malucos na condução do País. Espero que o próximo presidente tenha consciência social e responsabilidade com a economia.”

Nesse contexto, a rejeição ao discurso populista e antirreformas, defendida por nomes como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado Jair Bolsonaro, é outra tônica entre os empresários. “É uma cartilha criminosa, falsa, com o único intuito de desestabilizar o Brasil”, afirma Ronaldo Pereira, presidente da Óticas Carol, que também diz estar 100% alinhado com a agenda liberal defendida por Flávio Rocha e seus colegas. Ele acredita que o candidato petista será condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e considerado inelegível. No entanto, Pereira observa que, caso essa decisão não se confirme, o fato de Lula estar apto a concorrer trará muita instabilidade e prejudicará os bons fundamentos econômicos conquistados recentemente, como o controle da inflação e a queda na taxa dos juros. “Para as empresas que já estão no Brasil, os investimentos serão mantidos. Mas, para quem está pensando em chegar ou voltar, isso trará insegurança e retardará a recuperação econômica.”

Os efeitos negativos que as cartilhas de cunho populista podem trazer para a economia do País, antes e depois da s eleições, são um ponto destacado por todos os empresários ouvidos pela DINHEIRO. No entanto, eles também observam que, à parte dos discursos nos palanques, até mesmo os candidatos e partidos que defendem o intervencionismo do Estado sabem que esse modelo tem poucoespaço para vingar. “Nós precisamos de um pensamento liberal, para aprovar reformas, gerar empregos e atrair investimentos”, diz Pedro Thompson, presidente da Estácio. “Não há como fugir dessa agenda. Mesmo quem, eventualmente, entrar com esse viés populista, não terá orçamento e bala na agulha para seguir nesse caminho”, afirma o executivo.