06/06/2012 - 21:00
Desde que assumiu o volante do Banco Votorantim, em setembro do ano passado, o executivo João Roberto Teixeira vem tocando uma discreta, mas implacável reestruturação na instituição paulista. Sua missão é corrigir a rota do banco e estancar o prejuízo com a carteira de crédito de veículos. A inadimplência nesta carteira, que é o carro-chefe do Votorantim e representa quase 50% de seu total de crédito, disparou no último ano, colocando os resultados do banco no vermelho. Em três trimestres, o banco acumulou perdas de R$ 1,34 bilhão. As perdas reduziram o patrimônio para R$ 7,5 bilhões. O índice de Basileia, que representa o capital do banco em relação aos ativos totais, caiu de 14,1% em dezembro para 13% em março. Com isso, ficou mais próximo do mínimo de 11% exigido pelo Banco Central, o que limita o crescimento futuro das operações do Votorantim.
Teixeira, o presidente: foco em retorno sobre o capital e não no crescimento a qualquer preço.
O problema deve ser resolvido por um aumento de capital feito pelos sócios, o Banco do Brasil e a família Ermírio de Moraes. A instituição federal divide o controle com o grupo industrial desde 2009, quando comprou 49,99% do banco por R$ 4,2 bilhões. A injeção de recursos, de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões, deve ser aprovada ainda em junho, antes do fechamento do balanço do semestre. Os sócios e executivos do banco admitem a interlocutores que o Votorantim provavelmente fechará o ano com prejuízo, mas dizem que os resultados já começam a melhorar a partir do segundo semestre, sob os primeiros efeitos do redirecionamento da instituição. A injeção de recursos será aprovada agora, mas deve ser feita aos poucos. O maior problema no curto prazo é a rentabilidade da carteira de veículos da BV Financeira.
A inadimplência disparou, saltando de 2,1% em março do ano passado para 7,8% no mesmo mês deste ano. Vários fatores contribuíram para a piora da qualidade da carteira, segundo os sócios e fontes do banco. A política anterior, sob a gestão de Wilson Kuzuhara, focava mais em ganho de participação de mercado do que em rentabilidade. Um dos erros foi reduzir muito os valores de entrada, abaixo dos 20%, e estender os prazos acima de quatro anos para ganhar clientes da concorrência. O aumento da inadimplência no segmento de veículos, associado à perda de valor dos seminovos em razão do aquecimento do mercado de veículos zero-quilômetro, pegou a carteira já mais frágil no contrapé. Outro tropeço ocorreu na tentativa de disputar, a partir de 2010, o mercado nas concessionárias, competindo diretamente com os grandes bancos e instituições das montadoras.
Até então, a BV Financeira emprestava apenas em lojas de carros usados. O modelo está sendo revisto: a partir de agora, a instituição atuará nas concessionárias apenas representando o Banco do Brasil, com um custo mais baixo de capital, e contabilizando os empréstimos no balanço do BB. Teixeira colocou o pé no freio da concessão de crédito, que caiu de R$ 2 bilhões mensais no primeiro semestre de 2011 para R$ 900 milhões neste ano. Os créditos estão concentrados na área de maior rentabilidade, as revendas de usados, que representaram 77% dos novos empréstimos. Outro fator que deve continuar pesando nos resultados do banco é a nova maneira de contabilizar vendas de carteiras de crédito, segundo as exigências do Banco Central a partir deste ano.
Hoje, os bancos não podem mais reconhecer o ganho com a venda de uma só vez, mas ao longo do tempo de vida da carteira, o que reduz suas receitas. O Votorantim também quer depender um pouco menos do varejo e diversificar suas receitas. O objetivo é que as atividades de atacado (incluindo crédito a empresas, tanto grandes quanto de médio porte) cheguem a 50% da receita total. Atualmente, o crédito a empresas é de R$ 41,5 bilhões, enquanto os empréstimos para o varejo são de R$ 56 bilhões. A reestruturação e o aumento de capital acentuaram rumores de que o Banco do Brasil pode comprar os 50,01% que a holding Votorantim Finanças, da família Ermírio de Moraes, tem no negócio. Mas o grupo industrial nega. Em nota, afirmou que “a Votorantim Finanças está preparada para a capitalização e reitera que não está vendendo sua participação”.