Agora é oficial: a presidenta da Petrobras, Graça Foster, confirmou, na semana passada, que a estatal está negociando a utilização do Porto de Açu, situado no litoral norte do Rio de Janeiro e pertencente ao empresário Eike Batista, para o escoamento de parte da produção de petróleo obtida na região. “O grupo X é um dos que estamos avaliando para projetos a serem atendidos no médio e no longo prazo”, disse Graça, na terça-feira 9, após participar de um evento na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). “É um negócio, não se trata, definitivamente, de ajuda.” 

 

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A maré virou?: as ações de empresas que integram o grupo EBX

chegaram a subir até 19%, em um único dia, na semana passada 

 

Mas, por que, afinal, a Petrobras, em particular, e o governo, em geral, deveriam socorrer Eike? Não somente ele – um empreendedor obstinado e sonhador que todo país precisa –, mas qualquer um que decida correr os riscos da livre iniciativa? Até que ponto o dinheiro público (“o meu, o seu, o nosso”, como diria o economista Armínio Fraga) deve ser usado para aliviar a situação de companhias privadas que estão indo mal? Existem razões suficientes para defender os dois lados (veja quadro). Os motivos favoráveis ao empresário se devem à magnitude de seus projetos, cuja interrupção poderia pôr em risco a política de retomada da economia, implementada pelo governo Dilma. 

 

Mas seria função do governo, em uma economia de mercado, funcionar como um hospital de empresas, como critica o economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES? Em diversas ocasiões, no entanto, o governo federal assumiu esse papel. Nos anos 1980, o BNDES socorreu diversas empresas em dificuldades financeiras. Entre os seus pacientes, havia nomes estrelados como Gradiente e Villares.Mais recentemente, no governo Lula, ajudou a criar os “campeões nacionais”, união de grandes empresas para competir globalmente. Todas elas foram intervenções estatais na economia, patrocinada com o dinheiro público. Ninguém no governo federal assume abertamente que exista o compromisso de ajudar o bilionário. 

 

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Governo decide ajudar as companhias de Eike Batista. Mas será que o dinheiro

público deve ser usado para socorrer empresas privadas?

 

O que se diz, de forma reservada, é que “os projetos de Eike são muito importantes para o País”. Em 16 de janeiro, quando ele fez um périplo pelos gabinetes de Brasília acompanhado do pai, Eliezer Batista, o homem que ajudou a fazer da Vale uma empresa global, e de diversos diretores da EBX, a primeira parada foi no gabinete de Dilma, no terceiro andar do Palácio do Planalto. Desde então, a maré de Eike mudou. A possibilidade da entrada da Petrobras como parceira da LLX, empresa que constrói o Porto do Açu, ajudou a dissipar a onda de más notícias colecionadas por ele desde meados de 2012. A fala da presidenta da Petrobras também ajudou a tirar do marasmo algumas ações, com destaque para os papéis da OSX, que atua no setor naval, que chegaram a subir 19%, e da LLX, com alta de até 9% na quarta-feira 10, na Bolsa de Valores de São Paulo. 

 

Muitos dos problemas vividos pelo empresário estão diretamente ligados ao entendimento do mercado de que ele não teria cumprido as promessas de ganhos expressivos para os investidores que resolveram apostar nos seus IPOs, nos quais foram arrecadados R$ 13,6 bilhões desde 2006. Apesar de colecionar reveses em diversas frentes, o empresário se mantém otimista. Por meio de comunicado, a direção da holding EBX minimizou a entrada em cena da Petrobras e garantiu que “todas as suas companhias contam com funding substancialmente equacionado para os próximos anos e perfil de endividamento, majoritariamente, de longo prazo.” Independentemente disso, a crise de confiança das empresas do mundo X afetou o rating da OGX. 

 

As agências Fitch e Moody’s rebaixaram, na semana passada, a nota de crédito da petroleira. Essas iniciativas podem encarecer ou limitar o acesso da OGX a linhas de financiamento. O Porto de Açu, um megacomplexo logístico-industrial, também tem estado sob escrutínio de analistas e investidores. Até agora, estão previstos US$ 850 milhões em investimentos no complexo, feitos pela National Oilwell Varco, fabricante de insumos para sondas de perfuração terrestre, e pela Technip Brasil, de instalações offshore. A lista inclui outros nove potenciais clientes, dos quais três são empresas do próprio Eike: OSX (que possui encomendas de US$ 460 milhões de duas embarcações para a Petrobras), BP Marine (de venda de combustíveis) e MPX, encarregada de suprir a energia utilizada no complexo. 

 

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