Para muitos analistas esportivos, o craque colombiano James Rodríguez, 22 anos, é a principal revelação da Copa do Mundo – a Fifa o elegeu o melhor jogador da primeira fase. No dia 19 de junho, em Brasília, o meio-campista levou ao delírio o presidente recém-reeleito do seu país, Juan Manuel dos Santos, nas tribunas de honra do Estádio Nacional Mané Garrincha, ao marcar um dos gols na vitória por 2 a 1 contra a Costa do Marfim. Mas não é apenas o bom futebol que vem encantando o mandatário. O país vem brilhando na economia, com um crescimento médio de 4,7% nos últimos quatro anos.

Nesse ritmo, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), ultrapassará a Argentina em 2015, conquistando o segundo lugar na América do Sul, com um PIB nominal de US$ 409 bilhões, contra US$ 378 bilhões dos vizinhos da Prata. Surpreendente para alguns, a ascensão colombiana sempre esteve no radar da subsidiária brasileira da Volvo. No fim dos anos 1990, quando o vizinho era mais conhecido pela violência da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e pelas atrocidades do narcotráfico, a fabricante apostou no país e hoje colhe os frutos daqueles investimentos.

Ao contrário da maior parte dos seus concorrentes, que dependem demais da Argentina, a companhia encontrou na Colômbia uma forma de diversificar as exportações. “A economia veio sendo preparada para o crescimento sustentável, com simplificação fiscal”, diz Luis Pimenta, presidente da Volvo brasileira. “Outra coisa extremamente boa é o respeito aos contratos, o que nos dá mais confiança lá.” Não depender dos argentinos seria um alívio em tempos de crise econômica e ameaça de calote.

Para o Brasil, porém, a Colômbia, com seus 47,7 milhões de habitantes, é apenas seu 29º parceiro, com fluxo comercial de US$ 1,53 bilhão entre janeiro e maio, enquanto a Argentina ocupa a terceira colocação, com US$ 12 bilhões. Na América do Sul, a Colômbia fica atrás de Chile, Venezuela e Bolívia, além da própria Argentina. Com a prosperidade econômica dos últimos anos, combinada com um rígido controle da inflação, a Colômbia passou a ganhar relevância nos planos das empresas brasileiras.

“Se a Colômbia se tornar a segunda maior economia da América do Sul, o Brasil vai ter de ampliar os laços”, afirma Marcus Vinicius de Freitas, professor de relações internacionais da Faap. “E terá dee reavaliar sua relação com a Argentina.” Queridinha do mercado, a Colômbia é prioridade para 41 dos 78 setores parceiros da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) , só atrás dos EUA, preferidos por 58. “Havia um processo de acomodação do Brasil, que tinha um mercado do tamanho da Argentina”, diz Marcos Lelis, gerente-executivo da Apex.

“Com a crise, as empresas fizeram um movimento de se reorganizar e a Colômbia entra como uma forte oportunidade.” A recente reeleição do presidente Juan Manuel dos Santos, que visitou a presidenta Dilma Rousseff antes de assistir ao jogo da Copa, deve ser um passo importante para uma maior aproximação. “Falamos sobre a necessidade de fortalecer e intensificar as nossas relações. Elas já são boas, mas não aproveitamos todo o potencial que temos”, disse o presidente em entrevista ao Valor Econômico. “Temos de fazer esforços, no nível dos governos, para fomentar contatos entre os agentes econômicos.”

A costura de um acordo com as Farc é vista com otimismo pelos empresários brasileiros, pois ajuda a afastar a principal frente de instabilidade do país, deflagrando uma onda de investimentos em infraestrutura. Historicamente, a Colômbia escolheu os EUA como o principal parceiro econômico. Um acordo de livre-comércio finalizado em 2012 abriu de vez as portas do país aos americanos e chegou a ser considerado “pedra angular” do seu desenvolvimento. Hoje, os americanos respondem por 24% das compras do Exterior, percentual que chega a quase 40% quando somados México e Canadá, também contemplados no acordo. O Brasil representa 5% das importações.

OBSTÁCULOS A forte presença americana é um dos obstáculos que as empresas brasileiras terão de enfrentar nos esforços para intensificar o comércio com o vizinho, um desafio que passa por um problema presente em outros mercados: a competitividade da indústria nacional. Outra barreira natural é a questão logística. A extensão amazônica no meio do caminho dificulta as trocas por terra, o que pode fazer com que uma exportação do Brasil se torne tão cara quanto uma carga trazida da Europa.

“O Brasil nunca buscou uma posição estratégica, porque há uma Floresta Amazônica no meio do caminho”, afirma Otto Nogami, professor de economia do Insper. “A Colômbia acabou se transformando no quintal dos EUA.” Para os analistas, a intensificação da corrente de comércio ajudará a justificar uma melhora dos acessos entre os dois países. Outro importante passo para o incremento das vendas, dizem, é a construção de fábricas por empresas brasileiras. Trata-se de uma lição que a fabricante de cosméticos Natura logo aprendeu. Hoje, 15% dos produtos da marca comercializados no país são produzidos localmente e já há planos para expansão.

Para o vice-presidente do grupo, Erasmo Toledo, há potencial para que o país supere a Argentina em número de consultoras de vendas – são 50 mil colombianas contra 100 mil argentinas. É cedo para dizer se a Colômbia terá condições de tomar a posição de principal parceiro do Brasil na América do Sul, mas não há dúvidas de que o país amadureceu e merece mais atenção. “Honestamente, a relação depende mais do Brasil do que da Colômbia”, diz Pimenta, da Volvo. “É uma oportunidade que não podemos perder.” Não mesmo. Chegou a hora de reduzir a dependência dos parceiros argentinos.