14/10/2016 - 20:00
Foi o duelo mais tenso da história dos debates presidenciais dos Estados Unidos, avaliaram os analistas políticos que acompanharam o confronto da democrata Hillary Clinton e do republicano Donald Trump, no domingo, 9 de outubro, na Washington University, em St. Louis. Acuado por conta do vazamento de um vídeo com comentários sexistas, Trump saiu das cordas ameaçando de prisão a mulher de Bill Clinton. Na plateia, mulheres que supostamente teriam sido estupradas e assediadas pelo ex-presidente americano foram citadas pelo magnata nova-iorquino. O homem com o topete mais famoso da América também desqualificou sua rival o tempo inteiro, abusando do adjetivo desastre. Segundo Trump, tudo que Hillary fez em sua carreira política foi “desastre”. “Acredite em mim, ela tem um ódio tremendo em seu coração”, acusou Trump.
A experiente Hillary não sentiu os golpes. Em vez de ficar na defensiva, a primeira mulher que pode ser tornar presidente dos Estados Unidos cobrou de Trump sua declaração de imposto de renda, algo que o candidato republicano ainda não apresentou, quebrando uma longeva tradição de os presidenciáveis mostrarem seus dados fiscais.Ela também citou o vídeo em que Trump foi flagrado em uma conversa em que diz que “quando você é uma estrela, elas te deixam fazer tudo. Agarrá-las pela b….eta”. De acordo com Hillary, a gravação mostra exatamente quem é Trump, que durante toda a campanha insultou mulheres, imigrantes, negros, latinos, pessoas com deficiências, prisioneiros de guerra e muçulmanos. “Ele não serve para ser presidente”, sentenciou Hillary.
Os americanos nunca ouviram tantas desqualificações pessoais e impropérios nos 90 minutos de debate. As propostas para governar o mais poderoso e rico país do planeta ficaram na superfície e passaram muito longe do encontro mediado pelos jornalistas Martha Raddatz, da ABC, e Anderson Cooper, da CNN. Mas vamos ser francos. Será mesmo possível formular propostas ou descrever planos de governos em respostas que não ultrapassam os dois minutos? Em 120 segundos não conseguimos nem discutir o desempenho da seleção brasileira sob o comando do técnico Tite. Imagine debater educação, saúde, segurança e política internacional em tão pouco tempo.
Por essa razão, adoro os debates agressivos. Nos que veem baixo nível nesses embates, vejo a oportunidade de conhecer a alma do candidato, seus podres, suas contradições, seus defeitos e suas mentiras. Como são figuras públicas, acredito ser altamente relevante debater questões pessoais. É a hora em que os presidenciáveis se mostram frágeis, a guarda fica mais baixa e o verniz diplomático desaparece. O segundo debate americano solidificou a percepção que Trump desrespeita mulheres e tem uma série de problemas com o Fisco americano. De Hillary, ficou claro que conta também com vários telhados de vidro em relação ao comportamento de seu marido, o ex-presidente Bill Clinton. Ela enfrenta também enorme dificuldade em explicar o caso do uso de um servidor privado para armazenar e-mails considerados segredos de Estado. Pior: deletou 30 mil deles e até agora não apresentou uma explicação convincente.
Há ainda um terceiro debate entre Hillary e Trump, no dia 19 de outubro, na Universidade de Nevada, em Las Vegas. Depois, as urnas darão o seu veredicto final, no dia 8 de novembro. Não espero menos do que um embate ainda mais tenso. Minha única certeza é que não dormirei em frente à televisão, como invariavelmente aconteceu nos longos e engessados debates das recentes eleições municipais brasileiras.