04/03/2016 - 19:40
Com a habilidade de um gestor privado e a astúcia de um governante que rechaça o populismo de sua antecessora, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, firmou, na segunda-feira 29, um acordo histórico com os credores internacionais que haviam sido tungados por Cristina Kirchner. Desde que assumiu o cargo, no fim do ano passado, Macri vem promovendo um choque de administração na máquina pública, a exemplo do que fizera na Prefeitura de Buenos Aires e na presidência do Boca Juniors, o clube de futebol mais popular do país. Essas iniciativas já melhoraram o clima dos negócios, resgataram as expectativas da população e, principalmente, asfaltaram a retomada do crescimento econômico no médio prazo. Inspirado nesse exemplo argentino, o empresário paulistano João Doria, 58 anos, tentará convencer o PSDB paulistano de que é o melhor nome para disputar a prefeitura da maior cidade da América Latina.
A seu favor, Doria tem um currículo que mescla experiência em cargo público – foi secretário de Turismo de São Paulo e presidente da Embratur – com uma intensa atuação no setor privado. Ele preside o Grupo de Líderes Empresariais (Lide), que reúne mais de 1.600 companhias, que, juntas, representam 52% do PIB privado. É visto pelos seus pares como um empresário-político e não como um político-empresário, o que lhe permite propor uma agenda que contempla lições dos manuais corporativos. Uma delas é a meritocracia, que será implementada, por exemplo, na Educação, com a adoção de metas e pagamento de bônus para os professores da rede municipal de ensino. O tucano pretende, ainda, ampliar as parcerias com os hospitais privados para melhorar a administração da saúde.
Doria também se diferencia dos demais políticos ao incorporar ao discurso o termo “privatização”, que se transformou num tabu dentro do próprio PSDB, nas últimas campanhas. “Vamos privatizar o que não é essencial para a prefeitura administrar”, afirma Doria, que promete passar para a iniciativa privada o autódromo de Interlagos, o estádio do Pacaembu e o Complexo do Anhembi, que inclui o centro de convenções e o sambódromo. “O objetivo é reduzir despesas e gerar receitas para investimento em saúde e educação, que são as prioridades.” Doria planeja promover road shows para atrair o capital estrangeiro. Além de arrecadar quase R$ 6 bilhões com essas privatizações, o empresário estima que, em quatro anos, a Prefeitura economizará R$ 860 milhões com a administração desses equipamentos públicos. O orçamento do município, em 2016, é de R$ 54 bilhões. Já o vereador Andrea Matarazzo, que vai disputar com Doria o segundo turno das prévias tucanas, em 20 de março, é contra a privatização do estádio e do autódromo.
Filho do ex-deputado federal baiano João Agripino da Costa Doria, que foi cassado no regime militar, o presidente do Lide quer transformar as 32 subprefeituras em prefeituras regionais, com autonomia operacional e recursos para desempenhar suas funções. “Se eleito, vou escolher representantes do bairro, que sejam ‘ficha limpa’ e tenham eficiência de gestão comprovada no setor público ou privado”, diz o pré-candidato tucano, que promete não elevar nenhum imposto. Jornalista e publicitário de formação, Doria quer colocar a megalópole São Paulo no topo da tecnologia digital, com internet grátis e de alta velocidade para toda a população em locais públicos. “Vamos firmar parcerias com as operadoras de telefonia celular para a implantação de antenas”, diz o tucano, que é apoiado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. “A cidade terá aplicativos de celular para a população marcar consultas e acessar o seu prontuário médico, checar o horário dos ônibus e obter informações quando houver enchentes.” Antes de pensar na Prefeitura, no entanto, Doria terá uma enorme missão, caso vença as prévias: unir o partido após a disputa acirrada das prévias. “O PSDB sabe que, se for unido, ganha a eleição em São Paulo e fortalece o projeto nacional, em 2018”, afirma.