05/12/2014 - 20:00
Poucas horas antes da confirmação do senador pernambucano Armando Monteiro (PTB) para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), na segunda-feira 1o, técnicos da pasta anunciavam o pior desempenho da balança comercial desde 1998, um déficit de US$ 4,2 bilhões no acumulado até novembro, e admitiam a possibilidade de um resultado negativo em 2014, o primeiro em 14 anos. Reverter esse quadro é só um dos desafios que o novo ministro enfrentará ao longo do mandato. A deterioração da indústria e do comércio exterior já vinha se acentuando nas gestões anteriores. A novidade, na vez de Monteiro, será o espaço limitado para elaborar novas medidas de estímulo, ao mesmo tempo que o governo procura meios de reduzir os gastos públicos.
Monteiro conhece bem os problemas da indústria. Administrador e advogado, o pernambucano comandou por 15 anos a federação das indústrias do seu Estado e em 2002 foi eleito presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), onde permaneceu até 2010. “Ele possui conhecimento e experiência como poucos. Foi presidente da CNI durante muito tempo e conhece as necessidades do setor industrial profundamente”, diz o ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, Julio Gomes de Almeida. Na política, o primeiro cargo foi conquistado em 1998, quando se tornou deputado pelo PMDB. Já no Senado, pelo PTB, lançou-se, neste ano, candidato ao governo de Pernambuco.
Foi derrotado por Paulo Câmara (PSB), afilhado de Eduardo Campos, mas não ficou de mãos abanando. Sua escolha para o ministério não deixa de ser um gesto de agradecimento da presidenta Dilma Rousseff. Durante as eleições, o senador esteve no grupo de parlamentares do PTB que apoiaram a petista, apesar da decisão do partido de se aliar a Aécio Neves (PSDB). À frente do Mdic, Monteiro terá de correr contra o tempo, como mostram os dados de novembro. O déficit de US$ 2,35 bilhões foi o maior da história da balança comercial para o mês. Com a perda de competitividade e os problemas enfrentados pela Argentina, principal comprador da indústria nacional, as exportações de manufaturados recuaram 32% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Já as exportações de produtos básicos caíram 25%, afetadas pela queda dos preços internacionais. A economia chinesa, que impulsionou o Brasil e outros emergentes nos últimos anos, está desacelerando. Enquanto isso, a Europa patina, o Japão entrou em recessão e somente os Estados Unidos mostram alguma recuperação, mas com taxas de crescimento ainda tímidas. O cenário nebuloso pela frente não abala o otimismo do estreante. Em discurso no Palácio do Planalto, ele apresentou uma agenda com cinco pontos para o aumento da competitividade das empresas, que deve abrir caminho para a melhora do saldo comercial.
O plano inclui reformas que permitam a desoneração das exportações e dos investimentos, a ampliação dos acordos comerciais, a renovação do parque fabril e o estímulo à inovação, além do tão cobrado diálogo com o setor produtivo. Sobre o câmbio, reclamação de dez entre dez empresários, a mensagem foi de que haverá um realinhamento natural, resultado dos ajustes nos Estados Unidos. “Mais importante que a taxa de câmbio nominal é a taxa real e, para isso, o Brasil precisa ter uma inflação menor do que os países com os quais se relaciona”, disse Monteiro, alinhado ao discurso da nova equipe econômica.
A data da posse dos novos ministros ainda não foi definida. Poucos dias depois do anúncio, Monteiro já começou a receber representantes da iniciativa privada. O primeiro a fazer uma visita foi Jorge Gerdau Johannpeter, que já demonstrara admiração pelo pernambucano antes da confirmação de seu nome. Em depoimento gravado para a campanha de Monteiro ao governo estadual, Gerdau se lembrou de sua atuação ao lado do candidato. “Ele escuta, analisa e conceitua de forma objetiva e simples, o que faz com que os temas tenham resoluções extremamente construtivas”, afirmou o industrial.