22/07/2022 - 1:50
Uma bela taça de gim-tônica (G&T para os iniciados), decorada com flor comestível, é oferecida aos que chegam à sede da BEG Destillery após ter se inscrito no programa Gin Experience. São 14h de um sábado e as poucas cadeiras em frente ao bar montado no salão principal da casa que já foi sede de uma fazenda do século 19 no distrito de Joaquim Egidio, em Campinas (SP), já estão ocupadas. Pelas próximas três horas, todos ali serão alunos. Exceto os dois que estão em pé, do outro lado do balcão: o barman Ulisses e o master distiller Arthur Flosi, um dos sócios fundadores da BEG que será o professor nesta tarde. Enquanto a turma vai sendo abastecida, Flosi começa a contar sua história, a da empresa, e claro, a da bebida que reuniu todos naquele lugar.
“Eu fiz essa experiência em Londres, a um custo de 100 libras por pessoa, e com direito a apenas um welcome drink”, afirmou Flosi. “Ajustamos o preço aos valores da bebida no mercado brasileiro e deixamos o bar aberto. Raramente alguém passa da terceira dose”, disse. Muito mais importante que a receita gerada pela experiência que já atraiu cerca de 3 mil pessoas é a estratégia de converter apreciadores de gim em fãs da BEG. Para quem vai sozinho, o custo é R$ 350. Duplas pagam R$ 400. Além do open bar, o valor inclui uma garrafa com a bebida preparada sob a supervisão do master distiller. Um gim para chamar de seu — e com a qualidade de uma “destilaria boutique” vencedora de alguns dos principais prêmios do segmento no mundo. Seu carro-chefe, o BEG Dry Gin, conquistou ouro no Concurso Mundial de Bruxelas (2019), no World Gin Award (2020) e no San Francisco Worls Spirits Competition (2021). A lista de medalhas se estende para outros rótulos da BEG, o que faz dela a mais premiada destilaria artesanal brasileira.
O gim (originalmente grafado com n, mas já dicionarizado em português) é um destilado alcoólico de cereais que, segundo Flosi, só pode receber esse nome a partir da infusão de zimbro e de pelos menos outros dois botânicos: semente de coentro e raiz de angélica, usada também como fixador de aromas. A graduação alcoólica pode variar de acordo com o estilo de cada destilaria. No caso do Gin Experience, a escolha é do freguês, respeitando o limite legal de 54 graus. Mas antes de chegar a esse ponto muitas decisões são tomadas pelos alunos do curso. A primeira é escolher os botânicos, que podem somar até 11, em diferentes famílias de aromas: dos cítricos (limão siciliano ou taiti, tangerina) às pimentas, passando por aniz, cardamomo, noz pecan, flores (como hibisco) e ervas (capim limão, tomilho, manjericão).
A escolha é feita em torno de uma grande mesa sobre a qual estão dispostos dezenas de frascos contendo botânicos. Flosi orienta sobre as proporções indicadas de cada um e os possíveis resultados das interações entre eles. Evitar o excesso de anis é um de seus muitos conselhos valiosos, assim como dicas sobre o que comprar — e o que evitar — em um mercado com cada vez mais opções para todos os bolsos. Enquanto selecionam e pesam os ingredientes, os alunos aprendem também o básico sobre o processo de destilação.
CABEÇA, CORAÇÃO E CAUDA Assim como ocorre na produção de cachaça, utiliza-se um alambique de cobre onde o álcool é aquecido até ser transformado em vapor, seguindo por um cano onde é condensado para voltar ao estado líquido. É então dividido em três frações: a “cabeça” (desprezada por concentrar maior teor alcoólico e químicos nocivos), o “coração” (onde está o que interessa), e a “cauda”, também inutilizada. “Preservamos apenas a melhor parte, que é depois diluída com água para chegar à gradação alcoólica desejada”, disse Flosi. A principal diferença da destilação de gim para a da cachaça (ou de vodca) é a infusão de botânicos.
Concluído o processo, o aroma (para os leigos, evidentemente) é de álcool puro. Parece que todos dos ingredientes escolhidos não alteraram em nada o produto final. Essa impressão, felizmente, muda em pouco tempo. Uma semana depois, a garrafa preparada naquela agradável e instrutiva tarde de sábado revelou conter um gim espetacular, que faz jus ao slogan adotado pela destilaria: “Don’t ask, beg for gin” (não peça, implore por gim).