O terremoto, seguido de tsunami, que abalou a economia do Japão em março, chegou ao Brasil. Na semana passada, as duas maiores montadoras japonesas presentes no País congelaram a produção de suas fábricas nacionais. O motivo: escassez de peças vindas do país asiático. A Toyota suspendeu as atividades de sua fábrica em Indaiatuba (SP) na segunda-feira 25. 

Ela pretende repetir a medida nos dias 6 e 20 de maio. Nesse local é produzido o sedã médio Corolla, que usa motor e câmbio importados do Japão. A Honda, de acordo com comunicado oficial, antecipou a paralisação da fábrica de Sumaré (SP), que produz os modelos Civic, Fit e City, de julho para o período de 23 de maio até 3 de junho. 

 

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Procuradas por DINHEIRO, as outras montadoras japonesas com presença no Brasil só se pronunciaram por meio de notas oficiais, com exceção da Suzuki. A Mitsubishi informou que não teve suas instalações afetadas e “tem estoque de produtos e peças, inclusive para pós-venda, para os próximos meses”. 

 

A Nissan, que havia paralisado por alguns dias duas fábricas nos EUA e duas no México, anunciou que “está preparada para ajustar de forma flexível seu volume de produção global e nacional à medida que o fornecimento de peças seja retomado”. O presidente da Suzuki Veículos, Luiz Rosenfeld, disse à DINHEIRO que está adotando planos de contingência para que a comercialização de seus carros não seja afetada. “Nosso estoque garante a continuidade de nossas operações”, afirmou. 

 

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Freio de arrumação: direção da Honda antecipa as férias coletivas

em sua fábrica situada em Sumaré (SP)

 

A falta de produtos e peças para os consumidores brasileiros não é um risco descartado, mas não deve chegar a uma escala maior. De acordo com João Carlos Rodrigues, diretor de vendas da consultoria de mercado Jato Dinamics do Brasil, modelos de menor volume, como Honda Accord e Toyota Camry, que são importados do Japão, devem ficar em falta nos próximos meses. 

 

Por outro lado, Rodrigues acredita que, com uma boa estratégia de administração de estoques, os abalos podem ser minimizados. “Temos um ponto a favor que é o altíssimo nível de nacionalização dos componentes”, afirma Rodrigues. Apesar disso, cerca de 100 mil carros devem deixar de ser fabricados no Brasil em razão da falta de peças vindas do Japão, segundo levantamento feito pelo especialista Fernando Trujillo, da CSM Consultoria. 

 

No início deste ano, a expectativa da indústria para 2011 era vender 3,469 milhões de veículos leves, cerca de 139 mil a mais do que no ano passado. Se as previsões de Trujillo se concretizarem, esse aumento pode baixar para 39 mil, que equivale a apenas 1,2% de crescimento, e não aos otimistas 4,2% esperados. 

 

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Prejuízos à vista: a Toyota teve de interromper a fabricação do Corolla, seu único modelo feito no Brasil

 

A situação do mercado brasileiro, contudo, não é tão grave quanto na Europa, na América do Norte e no próprio Japão. Estudo da consultoria americana IHS Automotive mostra que, até o momento, mais de 500 mil carros já deixaram de ser fabricados no país asiático. A IHS Automotive estima que, se a produção no Japão não for retomada em algumas semanas, pode afetar a produção de 100 mil veículos por dia. 

 

A crise de uma grande potência, como o Japão, evidencia a fragilidade de uma produção globalizada. “O método Toyota Just in Time influenciou toda a indústria”, diz Trujillo. “Agora deixa diversas montadoras em maus lençóis com suas atividades atreladas a fornecedores.” 

 

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O método, criado pela marca japonesa na década de 1970, entre outras coisas, insere os fornecedores na cadeia produtiva de forma a diminuir drasticamente os estoques, produzindo apenas o que já está vendido ou que será comercializado em um curto espaço de tempo. Normalmente, as montadoras trabalham com apenas dois meses de estoque. Saber lidar com esse problema será o grande desafio de 2011 para toda a indústria mundial.