13/05/2016 - 19:00
Os solavancos políticos e o mau desempenho da economia fizeram o Índice Bovespa apresentar um desempenho ruim nos últimos tempos. Nos 12 meses findos na quinta-feira 5, o principal indicador do mercado acionário brasileiro amargou uma queda de 11%. Porém, se o investidor tivesse olhado para fora e apostado nos Brazilian Depositary Receipts (BDR), títulos de empresas estrangeiras negociados em reais, o desempenho teria sido bem melhor. Na média, esses papéis subiram 17,3% no período.
As líderes em rentabilidade foram as ações da Amazon.com, do bilionário americano Jeff Bezos, que subiram 81%. Futuramente, a diversidade poderá será ainda maior. A BM&FBovespa pretende viabilizar a entrada de novos BDR de empresas listadas nas bolsas de valores da Comunidade Europeia. Procurada, a BM&F Bovespa confirmou que estuda lançar programas de empresas europeias, mas não previu uma data para que isso aconteça. A decisão da Bolsa ainda esbarra em um problema de comunicação, que é como tratar os os anúncios dos eventos corporativos, tanto resultados quanto os chamados fatos relevantes, que as empresas abertas têm de divulgar ao mercado.
Por conta da grande diferença de fuso horário entre Brasil e Europa, onde atualmente os relógios marcam cinco horas a mais que os que seguem a hora de Brasília, as empresas europeias teriam de esperar até muito tarde da noite para divulgar seus números. Enquanto isso não se resolve, as companhias americanas marcam presença e aumentam seus negócios no mercado. No fim de abril, o Deutsche Bank anunciou o lançamento de mais 19 programas de BDR de companhias americanas. Nomes como a varejista Gap, a rede Macy´s e a gestora de fundos BlackRock, entre outras, tornaram-se acessíveis a investidores brasileiros sem disposição para mandar seu dinheiro para fora do País.
Com isso, o total de empresas Made in USA negociadas por aqui subiu para 106. Os negócios são poucos, mas expressivos. Sem contar as recém-chegadas, o volume total nos quatro primeiros meses do ano foi de R$ 1,2 bilhão negociados em BDR. Em abril, foram R$ 273 milhões. Isso ocorreu em parte porque o mercado está bem mais acessível. Até outubro do ano passado, apenas investidores qualificados, como são chamados os que têm bala na agulha para investir ao menos R$ 1 milhão, tinham acesso aos BDRs. Uma nova regulamentação da CVM, a Instrução 555, ampliou o universo dos investidores.
Foi uma questão de tempo até que a oferta de produtos, por meio de fundos crescesse, assim como o montante de recursos, que chegava a R$ 12 bilhões no fim de abril. Cerca de 78 fundos dedicados especificamente a esses papéis estão à disposição do investidor. Hoje, uma pessoa com R$ 200 pode diversificar sua carteira com BDR e ter o gostinho de ter uma parte de seu ganho influenciado pelos resultados da Apple, cuja ação vale US$ 94,19 (R$ 332,50). O papel faz parte do fundo BB Ações BDR, lançado em dezembro e restrito aos correntistas do Banco do Brasil, e que fechou abril com R$ 1,191 milhão em investimentos.
O retorno está atrelado a riscos como o efeito cambial, o desempenho da empresa e outros, além da taxa de administração do fundo, que é de 2,6% ao ano. De acordo com Carlos Frederico Valadares, gerente de fundos de ações ativos do Banco do Brasil, o produto deve ajudar aos investidores brasileiros a conhecer melhor o mercado de capitais, uma vez que traz um componente emocional: marcas conhecidas e que fazem parte do dia a dia das pessoas, como Starbucks, Time Warner, Netflix, Disney e Google.
Para o gestor, o fundo ajuda a divulgar o mercado de capitais e pode ser uma boa porta de entrada para iniciantes. “Ter esse tipo de investimento faz com que o cotista acompanhe o resultado trimestral da companhia, o que cria cultura de investimento. Existe uma demanda reprimida por esse tipo de oferta”, afirma Valadares. Mesmo com a recente valorização do real, que reduz a atratividade dos BDRs no momento atual, o gestor do Banco do Brasil segue otimista com o potencial e com a performance futura do novo produto. “É um investimento de médio a longo prazo, e o recomendado é que se espere ao menos 24 meses para o resgate.”
Don Linford, diretor de serviços para investidores na América Latina do Deutsche Bank, afirma que os BDRs cumprem mais uma função, que é a de atrair ativos internacionais para o mercado brasileiro. O banco, que não tem operação local de gestão de recursos, é o depositário das ações de 68 companhias. Para Linford, a presença tímida de empresas brasileiras no mercado de capitais limita a aderência dos investidores – e a atuação dos bancos de investimentos que existem no País. “Quanto mais ações, melhor.” Os BDRS não têm prazo para compra e venda, e o resgate pode ser feito pela corretora em até dois dias, de acordo com o executivo.
Vale a pena? Segundo Ricardo Almeida, superintendente de Renda Variável da empresa de gestão de recursos do Bradesco, os BDR, tanto diretamente quanto por meio de fundos, são uma excelente alternativa para o investidor diversificar seu risco. “É uma maneira de investir em bolsa e em dólar ao mesmo tempo”, diz ele. No entanto é preciso estar atento aos solavancos da taxa de câmbio, que afetam diretamente os resultados, e ao preço das ações da empresa em seu mercado de origem. Segundo Almeida, não se espera uma nova alta significativa do dólar, que vem mostrando sinais de fraqueza no mercado internacional, e a economia americana ainda tem de provar que já superou a crise. “É uma recomendação para diversificação para quem pensa em prazos mais longos, como um ou dois anos”, diz Almeida