Sob a ótica dos negócios, investir no varejo farmacêutico faz todo o sentido no Brasil. Afinal, em um País com dimensão continental, populoso e com o sistema de saúde pública sucateado, a saída é buscar medicamentos em drogarias tradicionais. Não por acaso, até mesmo em tempos de crise, este é o único segmento do comércio que está crescendo. Mas esse não é o caso da BR Pharma, controlada pelo banco BTG Pactual e que fatura R$ 3,6 bilhões. Criada em 2009 para consolidar as aquisições das redes Mais Econômica, Rosário, Farmais, Sant’Anna e Big Ben, a companhia vem sendo, gradualmente, desconstruída pelos seus controladores.

Na segunda-feira 26, foi anunciada a venda da Rosário, forte no Centro-Oeste, para o grupo paulista Profarma, por R$ 173 milhões. Em novembro, o BTG já havia vendido a Mais Econômica, famosa no Sul, por R$ 44 milhões para o fundo americano Verti Capital. O problema com a BR Pharma era antigo. A empresa já sofria com uma série de erros de gestão e com deficiências no processo de integração das redes compradas. A situação piorou com a inesperada prisão do ex-presidente do BTG André Esteves pela Operação Lava Jato, em novembro de 2015.

O executivo foi solto, mas o efeito foi devastador. Diversos investidores correram para tirar suas aplicações do banco, que precisou vender participações em empresas para se capitalizar. As fatias do banco de investimento em negócios como a Rede D’Or e a Pan Seguros foram rapidamente comercializadas. A falta de experiência no varejo farmacêutico, contudo, contribuiu bastante para os resultados ruins. A falta de integração entre as redes, localizadas principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, era notória, segundo especialistas.

Enquanto algumas bandeiras vendiam desde bombons de cupuaçu até brinquedos, outras mal possuíam remédios nos estoques. “Eles compraram um leão, um bode, um elefante e um crocodilo”, diz Douglas Carvalho, sócio da Target Advisor, consultoria de fusões e aquisições. “Todos são animais, mas um não tem nada a ver com outro.” O resultado das aquisições sem sinergia podia ser visto nos balanços. Apenas no primeiro semestre desse ano, o prejuízo da BR Pharma foi de R$ 165 milhões. Resultado: queda de 70% das ações nos últimos doze meses.

Após se desfazer da Rosário, a próxima da lista poderá ser a Big Ben, com 258 unidades e considerada a joia da companhia. Segundo fontes do setor, concorrem pela aquisição a família Aguilera, antiga controladora, e o Grupo Ultra (dona dos postos Ipiranga), por meio de sua rede Extrafarma. O valor pode alcançar R$ 1 bilhão. “O BTG pensou que administrar banco e farmácia era a mesma coisa”, diz Lourival Stange, especialista farmacêutico da consultoria Solution. “Agora, não querem perder mais dinheiro.” Procurado pela DINHEIRO, o BTG não deu entrevista.