Mark Hurd tem fama de ser um cara durão. Demitido em meio a acusações de assédio sexual no começo de agosto, o ex-presidente da fabricante de computadores HP parecia ter sofrido um duro revés. Saiu pela porta do fundo, com a reputação abalada, apesar do bom desempenho à frente da companhia. Na semana passada, ele deu a volta por cima ao ser contratado pela rival de seu ex-patrão Oracle, empresa americana que vende banco de dados e software de gestão para empresas. 

 

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E o novo presidente da Oracle é?: o bilionário Larry Ellison (à esq.) deu emprego para o amigo Mark Hurd,

demitido da HP em meio a acusações de assédio sexual 

 

Quem saiu em seu socorro foi o sexto homem mais rico do mundo e – claro – seu amigo, Larry Ellison, um dos mais polêmicos e agressivos empresários do Vale do Silício, região da Califórnia onde estão localizadas as principais empresas de tecnologia dos EUA. 

 

Quando a HP anunciou a saída de Hurd, Ellison já havia saído em defesa do amigo. Em e-mail enviado ao jornal americano The New York Times, disse que essa era a “decisão mais idiota desde que os estúpidos do conselho da Apple demitiram Steve Jobs”. 

 

Hurd vai para o lugar de Charles Philips, que renunciou ao cargo. O curioso é que Philips também esteve envolvido em um escândalo no começo deste ano. Sua ex-amante tornou público o affair entre os dois com um gigantesco cartaz na Broadway, em Nova York. “Mark fez um trabalho brilhante na HP”, diz comunicado de Ellison. O executivo atuará como copresidente ao lado de Safra Catz.

 

A jogada de Ellison, que é mais visto disputando provas da America’s Cup, uma das mais tradicionais e importantes regatas náuticas do mundo (um breve parêntese, vencida por ele neste ano), provocou a ira da HP. 

 

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Cada um com o seu escândalo: Charles Philips deixou o cargo de presidente da Oracle.

Ex-amante publicou cartazes gigantes na Broadway com cenas do casal

 

A companhia foi à Justiça para tentar impedir a contratação de Hurd pela rival. Ela alega que antes de deixar a HP, o executivo assinou um acordo de confidencialidade. 

 

Esse contrato lhe teria garantido uma remuneração de até US$ 40 milhões. Ao assumir a Oracle, diz a HP em sua ação, Hurd levaria segredos comerciais da empresa que ele comandou por cinco anos e tinha acesso a planos estratégicos, detalhes sobre margens de lucros e acordos especiais que a empresa oferece a clientes. 

 

A preocupação da HP é legítima. Durante 30 anos, a Oracle vendeu banco de dados e programas para empresas. Isso lhe garantiu um faturamento de US$ 26 bilhões e o título de a segunda maior empresa de software do mundo, atrás apenas da Microsoft. 

 

 

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Mas, no começo deste ano, completou a aquisição por US$ 7,4 bilhões da Sun Microsystems, que desenvolve computadores para corporações. Com isso, ela passa a competir com a HP, a maior fabricante de computadores pessoais e servidores do planeta. 

 

Ellison também já declarou que pretende comprar mais empresas nessa área. Ao contratar Hurd, o executivo buscou no campo inimigo o aliado para fazer sua empresa crescer no competitivo e desconhecido segmento de hardware. 

 

Em seu novo emprego, Hurd ganhará US$ 950 mil por ano, que podem chegar até US$ 10 milhões com bônus. As ações da Oracle subiram 6% com o anúncio. As da HP já caíram mais de 16% desde a demissão do executivo.