15/12/2014 - 10:50
Quando o Uber foi avaliado em US$ 18 bilhões, em junho deste ano, muitos analistas de mercado ficaram de queixo caído. Na ocasião, o aplicativo que transforma qualquer carro em táxi passou a ser mais valioso que a tradicional locadora de veículos americana Hertz, cuja capitalização é de quase US$ 11 bilhões. Mas o Uber surpreenderia mais uma vez os especialistas. Na semana passada, a companhia baseada em São Francisco recebeu um novo aporte de US$ 1,2 bilhão de um fundo de investimento, cujo nome não foi revelado. Com o dinheiro, seu valor de mercado subiu para estratosféricos US$ 40 bilhões.
Para efeito de comparação, a startup passou a valer mais no mercado do que a italiana Fiat (US$ 17 bilhões), a americana Tesla (US$ 28 bilhões) e a japonesa Mazda (US$ 15 bilhões). A GM e a Ford, duas das maiores fabricantes de carros do mundo, valem US$ 53 bilhões e US$ 59 bilhões, respectivamente. Em média, o valor do Uber cresceu US$ 19 milhões por dia desde que foi fundado, em março de 2009. A empresa atribui essa vertiginosa valorização à expansão de seu alcance. “Há um ano, operávamos em 60 cidades de 21 países”, afirma Fabio Sabba, diretor de comunicação da Uber no Brasil.
“Hoje, estamos em mais de 250 cidades e em 52 países. Somos seis vezes maiores do que há 12 meses.” Pode ser. Mas como uma empresa novata, fundada pelo americano Travis Kalanick, pode valer mais que indústrias estabelecidas? Como aconteceu anteriormente na história recente do capitalismo, há quem suspeite de que esse fenômeno não tem sustentação nos fundamentos da companhia. “Isso me dá náuseas. Estão comprando uma especulação pura”, disse Sam Hamadeh, CEO da consultoria de mercado americana PrivCo. O ceticismo também marca o tom das declarações do professor de finanças da Universidade de Nova York, Aswath Damodaran.
“O Uber tem potencial de ser o próximo Facebook?”, questiona. “Claro, mas nem sempre a empresa que quebra um paradigma é a grande vencedora.” Analisado sob outra perspectiva, o Uber não é uma ameaça apenas a taxistas ou a locadoras de automóveis, como a própria Hertz. Seu modelo de negócio pode colocar em xeque a própria indústria automobilística. “Se a próxima geração pensar que não vale a pena gastar US$ 30 mil num veículo que você usa 20 minutos por dia, isso atinge a estrutura de empresas como BMW e Volvo”, afirma o consultor-chefe da belga Across Technology, Peter Hinssen.
O setor de entregas é outro que pode ser afetado. Com capital fechado, a startup não divulga faturamento. Segundo o site Business Insider, o aplicativo deve movimentar US$ 10 bilhões em 2015. Como sua comissão é de 20%, a receita pode atingir US$ 2 bilhões. A ascensão meteórica do Uber pode esbarrar na resistência que enfrenta nos locais onde opera. Os taxistas de todas as partes do globo consideram o aplicativo um inimigo a ser abatido. A Justiça da Espanha, por exemplo, proibiu na semana passada a atuação em seu território após atender a um pedido da associação dos taxistas de Madri.
Situação similar aconteceu na Tailândia, no Canadá e até mesmo nos EUA. O Estado americano de Nevada e a cidade de Portland (Oregon) estão processando o Uber por não se enquadrar nas regras locais. No Brasil, o negócio também passa por turbulências. Em São Paulo, por exemplo, quatro carros foram apreendidos. Segundo o diretor do Departamento de Trânsito da Secretaria Municipal de Transportes, Daniel Telles, a startup infringe ao menos quatro leis, sendo três delas federais. Uma notificação foi enviada e, se não houver uma resposta, o caso pode virar processo da procuradoria do município.
A Polícia Civil carioca já remeteu à Justiça um inquérito sobre as atividades do Uber. A Agência Nacional dos Transportes Terrestres, que cuida do transporte interestadual, também confirmou a ilegalidade do serviço. O Uber diz que é necessária uma nova legislação. “Mantemos conversas com todas as esferas do poder público para explicar nosso modelo de negócio e contribuir para a criação de um ambiente legal no Brasil que fomente a cultura da inovação”, afirma Sabba. As autoridades contatadas por DINHEIRO negaram que exista esse diálogo mencionado. A única certeza, até agora, é que, de polêmica em polêmica, o Uber não para de se valorizar.