13/04/2012 - 21:00
A abertura de capital que promete chacoalhar a BM&FBovespa neste ano terá início na terça-feira 17. Nessa data começa o período de reserva dos papéis do banco de investimentos BTG Pactual, do banqueiro André Esteves. O lançamento promete reviver os momentos de euforia do mercado de ações. A demanda está aquecida. Profissionais do setor indicam que investidores, principalmente os qualificados, com mais de R$ 300 mil para aplicar, já fizeram inúmeros pedidos de reserva. Poucos bancos e corretoras comentam o assunto, porque quase todos estão envolvidos no IPO (sigla em inglês para Initial Public Offering).
André Esteves incendeia a Bovespa: oferta de ações pode colocar até R$ 4 bilhões
nos cofres do banco.
A oferta será realizada simultaneamente no Brasil e no Exterior, inicialmente, com 90 milhões de papéis, sendo 72 milhões de units em oferta primária (novas ações) e 18 milhões de units em colocação secundária (dos acionistas vendedores). Há previsão de um lote suplementar de até 15% e de outro, adicional, de até 20%. O código a ser negociado na Bovespa é BBTG11. Os recursos levantados em bolsa devem financiar a expansão do banco. Em fevereiro, o BTG iniciou sua internacionalização com a compra da corretora chilena Celfin. Na ocasião, informou ter R$ 178 bilhões em ativos sob gestão. Ao anunciar essa transação, Esteves disse que o BTG não pretende atuar diretamente no varejo fora do Brasil, mas que há muitas oportunidades no atacado, financiando o comércio exterior e a consolidação das empresas na América Latina.
Por qualquer métrica, será um lançamento grande. O intervalo definido no prospecto está entre R$ 28,75 e R$ 33,75. Se as ações forem vendidas pelo preço máximo, o banco pode captar R$ 4,1 bilhões. Quem quiser associar-se a Esteves tem de ficar de olho no período de reserva das ações, que se encerra na segunda-feira 23 de abril. O valor definitivo só será conhecido na terça-feira 24. Vale a pena apostar no BTG? Para Silvio Alexandre, diretor da corretora paulista Novinvest, alguns setores do mercado são sempre atrativos – entre eles, o sistema financeiro. “Ações de bancos sempre devem marcar presença na carteira do investidor, mas para saber se um IPO vale a pena é preciso avaliar os pressupostos de rentabilidade e receita, que são divulgados pelo agente da oferta”, diz.
Em termos gerais, a queda dos juros vai aumentar o apetite dos investidores por papéis mais arriscados, afirma Samy Dana, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV). No entanto, o banco tem algumas especificidades que podem provocar dor de cabeça nos acionistas. A principal é o fato de que a instituição presidida por Esteves é bem diferente de outras já listadas na bolsa. Luís Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da Austin Asis, pondera que a avaliação do BTG é singular porque o banco tem muitos concorrentes, dependendo da área de atuação. “Podemos dizer que a área de banco de investimentos é a mais destacada e se assemelha ao americano Goldman Sachs”, diz Santacreu. Na administração de recursos, o BTG pode ser comparado ao brasileiro Itaú BBA.
Já as atividades concentradas no PanAmericano são como as de qualquer banco comercial focado no crédito, ao passo que a aquisição da Brazilian Mortgage, no fim do ano passado, abriu as portas para o promissor mercado imobiliário. “O BTG também atua muito na tesouraria e tem tido bastante sucesso nessa atividade”, completa Santacreu. No entanto, essa gama extensa de atividades torna muito mais difícil para o investidor comparar o desempenho do BTG com o de seus pares. Além disso, o retorno do investimento vai depender, mais do que em outros casos, do preço final de venda. “Quanto mais perto dos R$ 33 for o preço, mais tempo o investidor terá de esperar para ver seu dinheiro voltar”, diz Ricardo Vitale, especialista em mercado de capitais.
No entanto, os pontos fortes do BTG são indiscutíveis. É uma das instituições financeiras mais agressivas, possui um time gerencial de primeiríssima linha e estabeleceu alicerces sólidos no financiamento ao consumo e nos imóveis. Ao mesmo tempo, porém, é preciso considerar que sua principal atividade, a atuação como banco de investimentos, possui poucas barreiras de entrada, atraindo novos concorrentes internacionais, da Ásia em particular. Mais um risco a considerar por quem quiser ser sócio de André Esteves e fazer companhia a potências das finanças como os fundos soberanos de Cingapura e o fundo J.C. Flowers, dos Estados Unidos, que investiram R$ 1,8 bilhão no BTG, em dezembro de 2010, aumentando o capital do banco de R$ 2,4 bilhões para R$ 4,2 bilhões.