25/07/2012 - 21:00
As ações da MRV não foram exceção no setor de construção civil. Em maio, despencaram quase 20% com a desconfiança do mercado. Diferente foi a reação da empresa ao pessimismo dos investidores: no início de junho, a assembleia de acionistas aprovou a recompra de dez milhões de papéis da empresa mineira, ou 2% do total disponível em mercado. O controlador e presidente da MRV, Rubens Menin, colocou a mão no próprio bolso para demonstrar confiança na empresa. “Como pessoa física comprei mais cinco milhões de papéis”, disse Menin à DINHEIRO. “Conhecemos profundamente a empresa e apostamos nela no longo prazo.” Sua nova posição acionária chegou a 35%, aumentando três pontos percentuais.
Rubens Menin, CEO da MRV: “Conhecemos profundamente a empresa
e apostamos nela no longo prazo”.
A estratégia comandada por Menin parece ter dado certo: desde o anúncio do programa de recompra, os papéis da companhia subiram 26,1%. Assim como a MRV, outras 16 empresas estão recomprando suas ações. Se todas atingirem o montante máximo, podem despejar no mercado nada menos que R$ 2,8 bilhões, considerando as cotações de 17 de julho. O investidor deve fazer o mesmo? Na opinião de vários analistas, a recompra de ações pelas empresas é um bom indicador para o mercado, porque expressa confiança da administração em seus negócios. “É um bom sinal de que as ações estão abaixo do valor justo”, diz o analista-chefe da Gradual Investimentos, de São Paulo, Paulo Esteves.
E é mais que uma mera declaração de intenções, pois a companhia gasta seu precioso caixa para retirar papéis da bolsa, fonte mais barata de recursos. Isso só se justifica se as ações estiverem mesmo muito baratas — por exemplo, quando seu valor está abaixo do registrado nos balanços. “Dinheiro é um ativo muito caro para uma empresa recomprar ações só para impressionar o mercado”, afirma Rossano Oltramari, analista-chefe da XP Investimentos, do Rio de Janeiro. Outro benefício das recompras, para os acionistas remanescentes, é o aumento do valor pago em dividendos por ação. Explica-se: as ações recompradas normalmente são canceladas.
Mônica Molina, RI da CSU: ”Com a recompra evitamos que as ações
caiam por falta de liquidez”.
Isso resulta num número menor de ações pelas quais o lucro é dividido para distribuição. Algumas empresas fazem programas sucessivos, como é o caso da processadora de cartões de crédito CSU CardSystem, que está em sua quarta recompra. Segundo a diretora de relações com investidores, Mônica Molina, a tesouraria costuma entrar comprando em dias de baixo volume de negócios. “Assim evitamos que as ações caiam por falta de liquidez”, diz Mônica. No caso da CSU, a recompra não parece ter tido grande efeito sobre as cotações. As ações acumulam queda de 15,2%, no ano, até a quarta-feira 18, enquanto o Ibovespa caiu 3,8% no período.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) limita o montante de cada programa de recompra a 10% do total disponível em mercado. Isso evita influência excessiva das empresas na bolsa ou redução muito brusca no total de ações disponíveis para negociação. Esse é um dos pontos que o investidor deve analisar com cuidado: se o programa reduzirá muito a parcela do capital que está na bolsa, o que afeta a liquidez. “Pode não valer a pena entrar numa ação que será pouco negociada”, afirma Esteves, da Gradual. E, claro, não esquecer da lição de casa básica — ler balanços e notícias sobre a empresa para entender seu negócio e suas perspectivas de resultado antes de arriscar seu dinheiro em suas ações.