01/07/2016 - 20:00
A Estácio se tornou alvo de duas rivais – Kroton e Ser Educacional. Desde o começo de junho, elas fizeram quatro diferentes propostas para a combinação dos negócios. É a maior disputa no setor de educação privada no País, que envolve ainda um terceiro player: o principal acionista do grupo educacional fluminense, Chaim Zaher, que detém 14% das ações da Estácio, a preside, e já afirmou que não irá assistir passivamente ao movimento dos concorrentes. Zaher anunciou, na quarta-feira 29, que pretende fazer uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) para comprar 36% do capital e, assim, assumir o controle da Estácio.
Na manhã da sexta-feira, dia 1º, a Estácio divulgou um fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), informando que concorda com a proposta financeira da Kroton. Isso, porém, não significa que ela a aceitou. Uma reunião da diretoria da Estácio deverá analisar as propostas da Kroton e da Ser Educacional. Na sexta-feira, as ações da Kroton fecharam em alta de 4,88% a R$14,26, e as das Estácio Participações subiram 0,9%, fechando a R$ 17,11. Os papéis da Ser Educacional subiram 0,6% para R$ 12,55. No fim da tarde, DINHEIRO apurou com exclusividade que a Ser vai tentar bloquear a transação no Cade.
Pela primeira vez, duas empresas listadas em bolsa disputam uma terceira também de capital aberto. Com isso os papéis das três empresas dispararam. O negócio começou por causa de uma pechincha. De janeiro a maio deste ano, as ações da Estácio acumulavam queda de 19% e eram negociadas com grandes descontos em relação aos seus pares – Ser Educacional acumulava alta de 50% e Kroton apresentava uma valorização de 18%.
Parte disso deveu-se aos resultados do primeiro trimestre, que vieram abaixo do esperado pelo mercado. De acordo com relatórios da BB Investimentos, apesar na alta de 11,1% na captação de novos alunos, o tíquete médio cresceu muito abaixo da inflação (2,3%, na comparação com o primeiro trimestre de 2015), por conta da política de descontos nas mensalidades. Somado à alta de 68% nas despesas comerciais, que foram catapultados por despesas de marketing (a Estácio é uma das patrocinadoras da Olimpíada), houve redução dos resultados operacionais, gerando um recuo de 2,2 pontos percentuais na margem Ebitda. O Ebitda da companhia de janeiro a março foi de R$ 197,5 milhões. Com a desvalorização das ações, a empresa passou a ser alvo da concorrência. Rodrigo Galindo, CEO da Kroton, abriu a disputa, no que foi seguido por José Janguiê Diniz, da Ser Educacional.
Ao final de maio, em relatório enviado a investidores da Coinvalores, os analistas avaliavam que o preço alvo do papel era de R$ 17,20. A ação da Estácio, que encerrou maio cotada a R$ 10,86, fechou junho a R$ 16,96 – alta de 56% no mês. Houve quem arriscou e ganhou. O gestor americano BlackRock, por exemplo, aproveitou a desvalorização das ações para elevar sua fatia na Estácio a 5%, em 28 de abril. Já a Lazard Asset Managment optou por reduzir sua participação no grupo fluminense de educação para 4,59% na primeira semana de maio e deixou de ganhar dinheiro. Mas enquanto a situação da Estácio permanece indefinida, qual seria a melhor estratégia para o investidor que já tem ações das três empresas ou que está pensando em comprar?
Para Daniel Liberato e Felipe Silveira, analistas da corretora Coinvalores, o momento é de cautela. “O momento não é de entrada porque não há um grande upside para o investidor”, alertam. Segundo eles, no curto prazo, a fusão pode diluir as participações dos acionistas da Kroton ou da Ser na nova entidade criada, ou o preço a ser pago na operação pode pressionar o valor dos papéis. Já Bruno Giardino, analista de investimento do Santander, acredita que o mercado já precificou o potencial de sinergias de fusão entre Estácio e Kroton, dada como a mais provável de acontecer para o banco. “O investidor precisa olhar o potencial de criação de valor da combinação dos negócios, e muito disso já foi precificado.”
Na segunda proposta, a Kroton elevou a relação de troca para cerca de R$ 17,25 por ação da Estácio, bem próximo da projeção feita pelo time da Coinvalores. Para eles, a recomendação de compra só acontece quando há perspectiva de ganhos superiores a 15%. Por isso, o status atual é de manutenção dos papéis da Estácio. Já em relação aos investidores que têm ações da Ser Educacional e da Kroton, a corretora recomenda o acompanhamento do desenrolar das propostas, porque existe o risco de o custo da transação reduzir a margem de ganhos dos acionistas. O prazo da Kroton encerrou-se à meia-noite da quinta-feira 30, mas as negociações deverão ser prorrogadas. O prazo estabelecido pela Ser Educacional expira em 8 de julho.
No entanto, outros analistas ouvidos pela DINHEIRO recomendam a venda das ações da Ser e da Kroton porque não há uma perspectiva de que os valores das ações continuem subindo por muito mais tempo e agora é uma boa oportunidade para embolsar os ganhos. “Para que essa curva de preço continue em ascensão é necessário que haja boas notícias em um curto prazo”, pondera Giardino, do Santander. “Caso nenhuma das fusões se concretize”, afirma ele, “a tendência é que haja a destruição do valor criado, ou seja, as ações devem cair.”