O executivo israelense Amos Genish entrou na ampla sala de reunião, na sede da Telefônica Vivo, em São Paulo, em seu passo longo e firme. Com forte sotaque típico de um americano, ele me cumprimentou e providenciou uma ligação a viva-voz para Madri, na Espanha, onde está o brasileiro Eduardo Navarro, seu sucessor no cargo de presidente da maior empresa de telefonia do Brasil a partir de janeiro de 2017. Ao ser apresentado formalmente a Navarro, eu disse que, antes de entrevistá-lo, queria primeiro tirar algumas dúvidas com Genish. O brasileiro brincou: “Vou ficar com ciúmes.” Ao que o israelense retrucou: “Não se preocupe. Daqui a pouco, ninguém mais vai querer falar comigo.”

As risadas que se seguiram a essa brincadeira não escondem o fato de quem ascenderá à linha de frente da Telefônica Vivo. Navarro, que está há 17 anos no grupo espanhol, preside o conselho de administração da Vivo, mas até agora é pouco conhecido do mercado brasileiro. Genish deixa a presidência, segundo ele, porque acredita que concluiu a integração da operadora de origem espanhola com a GVT, empresa que ele fundou e a vendeu duas vezes – primeiro para os franceses da Vivendi e depois para a Telefónica. Na segunda-feira 10, as ações da Vivo caíram quase 7%, o que demonstra que o mercado foi pego de surpresa com as mudanças na cúpula da operadora brasileira. “Depois de 20 anos neste setor, quero descansar e curtir a família”, afirmou Genish, que é pai de três filhos adultos nos EUA e de outros dois pequenos, de um ano e três anos, no Brasil, onde se casou novamente.

A missão de suceder a Genish, considerado um dos mais bem-sucedidos CEOs do setor de telecomunicações, é de um mineiro natural de Belo Horizonte. Navarro se formou em engenharia metalúrgica na Universidade Federal de Minas Gerais, onde foi aluno de Vicente Falconi, o hoje incensado guru de gestão de grandes empresários brasileiros e o cérebro por trás das reestruturações em curso na Eletrobras e na Petrobras. Antes de migrar para a área de telefonia, Navarro trabalhou em empresas do setor siderúrgico, como a Belgo-Mineira, hoje ArcelorMittal. Nos anos 1990, virou consultor da McKinsey, participando do processo de privatização das principais siderúrgicas brasileiras. Ainda na consultoria americana, mudou-se para a Espanha em 1997 e atuou, ao lado da Portugal Telecom e da Telefónica, na histórica abertura das telecomunicações no Brasil. “Estava na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 1998, quando a Telebras foi vendida”, diz ele.

Um ano depois, voltou ao Brasil para trabalhar no grupo espanhol, onde foi a vice-presidente de estratégia e de regulação até 2005. Naquele ano, retornou à Espanha para assumir cargos na matriz, onde ficou até agora. Desde 2014, comanda a diretoria geral comercial e digital da Telefónica, com acesso direto a José María Álvarez-Pallete López, CEO da Telefónica, o sucessor de César Alierta. À frente dessa divisão, tornou-se o homem-chave no processo de digitalização das operações da empresa de telefonia espanhola. Em sua gestão, criou serviços de segurança e de computação em nuvem voltados para empresas. Ambas as áreas já acrescentaram receitas de € 300 milhões e € 600 milhões, respectivamente, aos cofres da Telefónica. “Os serviços digitais já representam 10% da receita da Telefónica”, afirma Navarro. Em 2015, o grupo espanhol faturou € 47,2 bilhões (aproximadamente R$ 165,8 bilhões). “O principal desafio de Navarro será prosseguir com a transformação digital, que já estava em curso na gestão de Amos”, diz Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria especializada em telecomunicações. 

Nesta semana, Navarro estará em São Paulo, onde participará da Futurecom, principal evento do setor de telecomunicações. A partir de agora, deverá ficar três semanas no Brasil e apenas uma na Espanha, até se mudar definitivamente para a capital paulista. Aos 53 anos, Navarro é solteiro e não tem filhos. Vive em Madri há 12 anos, mas escolheu o Barcelona como seu time de coração na Espanha. É um problema e tanto. Afinal, López, o CEO da Telefónica, é um fanático fã do Real Madrid. No Brasil, torce para o Cruzeiro. Seu hobby é a corrida. Já participou duas vezes da maratona de Nova York. No novo cargo, visão de longa prazo e paciência no curto devem ser essenciais para navegar no mercado brasileiro de telecomunicações.

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Papo cabeça

O que pensa Eduardo Navarro sobre três temas polêmicos

WhatsApp
“Não posso ser contra um serviço que a maioria dos usuários gosta. Mas, como diz o Amos, serviços semelhantes precisam seguir as mesmas regras”

Franquia de dados para banda larga
“É algo que precisa ser debatido. Mas o debate é difícil quando os usuários não têm ideia de quanto consomem de dados”

Oi
“Se houver uma reestruturação da Oi, vamos ver como será o desdobramento. A Oi tem muitos ativos em que temos interesse, como a infraestrutura no Rio e espectros de celular”