26/09/2014 - 20:00
O consumo interno foi o combustível do crescimento do seguro automotivo no Brasil, nos últimos dez anos. Mas, em 2014, o velocímetro instalado no painel das seguradoras indica que o carro está perdendo velocidade. Com os juros em alta (a Selic, a taxa básica de juros da economia, está em 11% ao ano) e a renda comprometida com diversos financiamentos, como o da casa própria, de eletrodomésticos, entre outros, as famílias passaram a adiar suas decisões de compra. O resultado é que as empresas, que até então se beneficiavam da bonança econômica, deverão exibir balanços financeiros menos vistosos.
“Haverá impacto negativo para a toda a indústria automotiva”, diz Gersan Zurita, analista da agência de classificação de riscos Moody’s. Isso já é visível nos pátios lotados de carros zero-quilômetro das montadoras. Como parte da engrenagem desse carro, as seguradoras dependem da aceleração desse motor. A expectativa é que os volumes de prêmios das seguradoras, no segmento automotivo, sofram uma redução em seu ritmo, registrando uma taxa de crescimento entre 12% e 14% neste ano, abaixo dos 19,7% de 2013, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Isso é resultado não apenas do pé no freio das montadoras, mas também de um avanço no número de roubos e furtos, principalmente, nas grandes capitais, como São Paulo. Além disso, a concorrência levou as companhias a reduzirem pontualmente, por um curto período, os preços dos seguros e, consequentemente, a margem recuou no segundo trimestre. O movimento de queda das margens não deve parar por aí, segundo um estudo da corretora americana Marsh sobre a tendência de preços nos países da América Latina. Para não ficarem reféns desse cenário de instabilidade, as seguradoras têm desenvolvido estratégias de diversificação de receitas.
É o caso da corretora de seguros britânica Willis, que aposta em coberturas mais personalizadas, como o seguro apenas da carroceria do automóvel. “É uma estratégia para atender clientes que não se interessam pelos seguros completos”, afirma Tiago das Neves, diretor da unidade de affinity da Willis. Com essa nova diretriz, o executivo espera que a carteira de automóveis cresça 20% neste ano, apesar dos prognósticos não serem tão favoráveis ao setor. Já a Porto Seguro, a maior seguradora de automóveis do País, tem investido em mimos para os clientes.
Além de cartões e consórcio, a seguradora lançou o Porto Seguro Faz, que oferece serviços de profissionais como eletricista, encanadores e marceneiros para as residências. A Yasuda Marítima, por sua vez, decidiu fazer as malas e buscar clientes fora do eixo Rio-São Paulo. “Nossa carta na manga é crescer em mercados como Manaus, onde podemos oferecer produtos diversificados, como saúde, além da cobertura para automóveis”, afirma Celso Ricardo Mendes, diretor de operações da Yasuda Marítima. Não são apenas as pessoas físicas que estão na mira das seguradoras. No caso das frotas de automóveis de empresas, que é uma das especialidades da RSA, o diferencial também é a oferta de serviços exclusivos.
“Estamos oferecendo gerenciamento de risco, que ajuda tanto na logística quanto na segurança e representa menos sinistros”, afirma Thomas Batt, presidente da RSA. Além de buscarem novas fontes de receitas, as seguradoras estão fazendo a lição de casa e cortando custos para melhorar seus resultados. Uma das formas estudadas é o compartilhamento de estruturas e serviços, como guinchos. “Assim como aconteceu com os bancos, que agora estão reduzindo gastos com uso compartilhado de caixas eletrônicos, nós também estamos analisando essa possibilidade”, afirma Werner Suffert, diretor-financeiro e de relações com investidores da BB Seguridade.
Na Willis, o corte de despesas vem da redução de etapas no processo de fechamento de contrato. “Foi assim que compensamos a redução das margens”, afirma Neves. Tentando se tornar mais eficiente, a Allianz fez uma troca operacional no primeiro semestre. No entanto, o resultado não foi o esperado: a seguradora alemã perdeu quase 40% do seu faturamento de seguros, devido a uma pane no controle operacional. A estrada em 2015 não chega a entusiasmar. As seguradoras veem um cenário parecido com o atual. “Há a expectativa de que as montadoras retomem os investimentos e isso volte a puxar o crescimento do setor de seguros”, diz Fábio Leme, diretor de produtos para seguros automotivos da HDI.