Os bancos brasileiros estão voltando a investir fora do País, depois de um período concentrados nas operações locais. Agora, o terreno principal da expansão internacional é a América Latina, facilitada pelas brechas deixadas pelos bancos europeus e americanos em crise. Os maiores alvos de disputa são participações de mercado em países como Peru, Colômbia e Chile, que devem crescer neste ano respectivamente 5,6% , 4,5% e 4,2%, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), acima do projetado para o Brasil. O primeiro negócio do ano, que deve ser anunciado nos últimos dias de janeiro, é a compra da corretora chilena Celfin Capital, que também opera na Colômbia e no Peru, pelo banco de investimentos brasileiro BTG Pactual por US$ 560 milhões. 

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Touro de Wall Street: bancos americanos, que já foram muito agressivos na
América Latina, agora estão retraídos na região.

As negociações já duram seis meses, e o BTG deve pagar parte em ações e parte em dinheiro, transformando os acionistas do Celfin em sócios do BTG Pactual com participações de cerca de 2%. A Celfin tinha no fim de 2010 R$ 250 milhões em ativos, enquanto o BTG Pactual chegou, em setembro, a R$ 60 bilhões. O diretor de operações e sócio do BTG Pactual, Roberto Sallouti, diz que o acesso a recursos de fundos de pensão chilenos e colombianos é um dos motivos para fechar o negócio. “Com a Celfin nos aproximamos do objetivo de ser o banco de investimentos líder na América Latina”, afirma. Depois de fechar o negócio com o banco chileno, controlado por Jorge Errázuriz, Juan Andrés Camus e Alejandro Montero, o BTG avalia abrir um escritório de representação na Argentina, para fazer operações de fusão e aquisição e atender companhias brasileiras com atividades no país. 

Neste mês, o BTG incluirá empresas mexicanas para cobertura por seus analistas. E analisará a entrada no México ainda este ano. Como banco brasileiro mais internacionalizado, com 20% de seus ativos (R$ 168 bilhões em setembro) alocados fora do País, o Itaú Unibanco também tem privilegiado a América Latina. Com atividades de varejo na Argentina, no Chile, no Uruguai e no Paraguai e 224 agências na região, o Itaú disputou, mas não levou o Colpatria, quinto maior banco de varejo colombiano. O ScotiaBank pagou US$ 1 bilhão pela instituição — o Itaú havia oferecido 20% menos, relatou o presidente Roberto Setubal numa apresentação para analistas. O banco de investimentos do conglomerado, o Itaú BBA, abrirá uma subsidiária  na Colômbia com patrimônio de US$ 200 milhões. 

 

A intenção, segundo o presidente do banco, Candido Bracher, é atender empresas brasileiras cada vez mais presentes no país. “A Colômbia é o Brasil de dez anos atrás, o potencial é enorme”, afirma o analista Federico Rey-Marino, da corretora americana Raymond James. Os outros alvos devem ser o Peru, cujo escritório de representação será transformado em banco, e o México. Ricardo Villela Marino, vice-presidente-executivo de operações latino-americanas do Itaú Unibanco, diz que o banco vai se expandir na região, mas não a qualquer preço. “O banco é sempre muito minucioso, disciplinado e até conservador em seus negócios”, disse Marino à DINHEIRO (leia entrevista ao final da reportagem). No ano passado, a prioridade do Itaú, segundo Marino, foi consolidar as operações onde a instituição já tem atividades de varejo, como o Chile. 

 

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Paulo Caffarelli, vice-presidente do BB: o banco estatal planeja crescimento internacional

rápido com novas aquisições na América Latina.

 

Com 100 mil clientes e US$ 7 bilhões em ativos no país, o banco comprou a carteira de quatro mil clientes de alta renda do HSBC e fechou uma joint venture com a gestora de recursos Munita, Cruzat & Claro. O Banco do Brasil, que inicia a reformulação de uma pequena operação de varejo nos Estados Unidos neste mês, também avalia compras em países da América Latina, segundo o novo vice-presidente de negócios internacionais e atacado, Paulo Caffarelli, que assumiu o cargo no início do ano. “Precisamos quebrar um paradigma e nos transformar num banco internacional nos próximos anos”, diz Caffarelli. “Se a gente se acomodar, pode comprometer no futuro até a competitividade nas  operações nacionais.” O BB tem 9% dos ativos totais no Exterior e quatro mil funcionários em 23 países.  

 

Caffarelli está entusiasmado com a maior facilidade para fazer aquisições depois da crise americana, com o ganho de valor relativo de mercado dos bancos brasileiros. A última grande aquisição do BB foi a do Patagonia, banco de varejo com 850 mil clientes na Argentina, onde o crescimento econômico e a forte presença de empresas brasileiras torna a operação prioritária. A rede de 160 agências do Patagonia deve chegar a 230 em até cinco anos, principalmente para atender às necessidades das 350 corporações brasileiras presentes na Argentina. Além de linhas de crédito em moeda local, o BB administra folhas de pagamento dessas empresas, serviços de cobrança e outros que exigem uma rede de agências. 

 

O BB também está apostando na Colômbia: espera autorização para transformar seu escritório em Bogotá numa agência e continua atento a possíveis aquisições no país – e no Peru, Chile e Equador. Nos EUA, o Eurobank, pequena instituição de apenas US$ 100 milhões em ativos e três agências compradas na Flórida, adotará um novo nome: BB Américas. Outras 22 agências devem abrir em até cinco anos para conquistar parte da comunidade de brasileiros nos EUA, calculada em 1,5 milhão de pessoas. Se atingir a meta de 400 mil clientes nos Estados Unidos, o BB superaria 1,5 milhão de correntistas no Exterior. Na Ásia, o movimento de expansão dos brasileiros é mais pontual e procura, com operações especializadas, ter acesso aos grandes volumes de capital e captar parte do fluxo de negócios crescente com a região. 

 

À exceção do BB, que atende 120 mil dekasseguis no varejo, a presença é formada por corretoras e gestoras de recursos. A BB Securities está abrindo um escritório em Cingapura para a distribuição de títulos e pedindo a transformação de seu escritório em Xangai, na China, em agência. O BTG Pactual tem corretoras na região e acordos com a Citic Securities chinesa e o Sumitomo no Japão. O modelo de banco internacional perseguido pelos brasileiros mudou. A ordem agora é ter uma atuação mais restrita fora das regiões de origem. Dificilmente um brasileiro substituirá os bancos globais, que estão encolhendo em meio à crise. “O modelo de bancos globais mudou. Desta vez, não é uma mudança conjuntural, é estrutural”, afirma Sallouti, do BTG. “Os maiores bancos internacionais agora vão concentrar suas atividades em algumas regiões e, fora delas, estarão em nichos”.  

 

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“Se há um foco é o de fazer um bom negócio a um preço justo”

 

Não é por acaso o slogan da campanha publicitária do Itaú em jornais e revistas estrangeiros. “I am a global latin american” (sou um latino-americano global) acompanha fotos de personalidades brasileiras das artes e da música. A propaganda reflete a estratégia internacional, como explica o vice-presidente-executivo das operações do Itaú Unibanco na América Latina, Ricardo Villela Marino. 

 

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Ricardo Villela Marino, do Itaú: conservadorismo nas compras e prioridade

para expansão na América Latina; Colômbia, Peru e México são os próximos alvos.

 

Em quais países o Itaú quer crescer na América Latina? 

Olhamos as oportunidades em países onde existe estabilidade econômica, legislativa e governamental. Se há um foco é o de fazer um bom negócio, a um preço justo, em um país onde podemos crescer e agregar valor ao negócio.

 

Com US$ 70 bilhões em valor de mercado, o Itaú não poderia ser mais ousado nas aquisições na Europa ou nos Estados Unidos?

O Itaú Unibanco é sempre muito minucioso, disciplinado e até conservador em seus negócios. E esse perfil tem sido vencedor. A prioridade é consolidar as operações onde já temos estruturas de varejo. Outras oportunidades serão sempre analisadas.

 

O Itaú Unibanco pretende ser um banco global brasileiro? 

O Itaú Unibanco é especializado em América Latina e isso é reconhecido por investidores em todo o mundo. Mais do que ser um banco global, queremos ter excelência na prestação dessa assessoria. Há muitos anos “vendemos” o Brasil para investidores internacionais, sempre acreditamos que o futuro do País havia chegado. Vamos continuar promovendo o País.