20/06/2014 - 20:00
Um encontro em maio do ano passado, entre Jeffrey Immelt, o CEO global da americana General Electric, e o então recém-empossado prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, deu o pontapé inicial para o surgimento do maior projeto de iluminação pública do mundo. Na ocasião, o executivo sugeriu ao político paulistano que a cidade adotasse um sistema de luminárias LED, tecnologia desenvolvida pela empresa em 1962, mais econômica e duradoura do que as tradicionais incandescentes.
Agora, a maior cidade da América Latina prepara uma licitação, com previsão de lançamento até o fim deste ano, para uma PPP (parceria público-privada) a ser fechada com uma grande empresa do setor, que tenha a capacidade de trocar as 580 mil luzes dos postes paulistanos. Com esse projeto, a concessionária terá o direito de administrar a gestão de toda a infraestrutura de iluminação pública de São Paulo pelas próximas décadas. “Estamos dedicando milhares de horas à preparação desse projeto e pretendemos trazer para a cidade toda a tecnologia que temos disponível hoje”, diz Rodrigo Martins, presidente para a América Latina da GE Lighting.
Embora o projeto tenha nascido de uma sugestão da GE– companhia que ocupou a 84ª posição no ranking do anuário AS MELHORES DA DINHEIRO 2013 –, a disputa pelo contrato atrai todas as grandes forças do setor, que incluem também a holandesa Philips, a alemã Osram e a brasileira Unicoba, responsável por colocar as primeiras luzes LED nas ruas de São Paulo, no chamado Corredor Norte-Sul, que inclui a avenida 23 de Maio, que vai do centro até o Aeroporto de Congonhas.
No total, 41 empresas atenderam à convocação, das quais 11 enviaram estudos para análise da prefeitura, que deve selecionar uma dessas sugestões ou combinar as melhores ideias de cada uma delas para definir seu projeto e abrir a licitação. “Os estudos estão sendo analisados até 14 de julho por uma comissão especial de avaliação”, informa Simão Pedro Chiovetti, secretário municipal de Serviços. “Eles devem ser orientados por objetivos que promovam, entre outros pontos, a melhoria do índice de luminância, a redução do consumo de energia e o uso de ferramentas de tecnologia no controle efetivo e em tempo real da rede.”
Não é difícil entender o motivo de tanto interesse pela licitação. Trata-se de um valor e de um volume de substituição de lâmpadas nunca vistos na história. Se no edital for definido que a concessão durará ao menos 20 anos, conforme espera a indústria, a vencedora deverá receber mais de R$ 5 bilhões durante todo o período. Afinal, para compensar o investimento na troca da iluminação, que pode superar R$ 1,5 bilhão e demorar cinco anos, a concessionária deve embolsar a Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública, uma taxa paga pela população junto com a conta de luz, que rendeu aos cofres da prefeitura R$ 277 milhões em 2013.
São valores mais do que atraentes para um setor que movimentou R$ 4 bilhões no ano passado. Qualquer empresa que vença a disputa precisará investir na ampliação de suas fábricas ou até na construção de novas no País. Atualmente, o parque fabril nacional produz 12 milhões de luminárias LED por ano. Tudo isso faz com que todos os holofotes dos fabricantes estejam voltados para São Paulo. Algumas poucas cidades no mundo, como Buenos Aires, San Diego e Las Vegas, começaram a fazer a substituição de lâmpadas tradicionais por LED em suas artérias, mas nenhuma com o porte de São Paulo.
É um fenômeno que começou nos últimos três anos e que deve entrar numa nova fase com o pioneirismo paulistano. “É um projeto importantíssimo e um marco de referência para prestadores de serviços e fabricantes de equipamentos de LED”, diz Euben Monteiro, vice-presidente para a América Latina de estratégia, inovação e negócios com governo da Philips. “Várias cidades do Brasil e do mundo estão na expectativa de como São Paulo vai se sair, porque terá um grande desafio técnico e logístico.” Para Monteiro, caso seja bem-sucedida, a iniciativa paulistana deverá desencadear uma onda de projetos similares de grande porte ao redor do mundo.
Afinal, a iluminação com LED está atingindo o seu ponto de maturação, depois de uma grande evolução na última década. “A partir dos anos 2000, a tecnologia começou a ser aplicada em sinais de trânsito e refrigeradores, e nesta década começou a fazer sentido econômico para aplicações fora das casas”, diz Gerald Duffy, diretor global de produtos da GE Lighting. “Há seis anos, custava US$ 1 para se ter um lúmen, a medida do fluxo luminoso. Agora, pelo mesmo valor, pode-se comprar mil lúmens.” Isso também se traduz em uma economia de energia acima de 60% em relação às lâmpadas tradicionais.
“A lógica de negócios na hora de instalar um sistema de iluminação LED é pagar por um produto até quatro vezes mais caro que o tradicional, mas que ao longo do tempo traz diversas economias”, afirma Eduardo Park, presidente da nacional Unicoba. “A luz LED chega a ter vida útil três vezes mais longa.” Além disso, de acordo com os especialistas, o LED permite um melhor direcionamento da luminosidade. “A lâmpada tradicional emite luz para todos os lados, inclusive para o céu”, diz Lorie Cosio-Azar, chefe de projetos do departamento de serviços ambientais da cidade de San Diego, na Califórnia.
Outro benefício, que deve fazer parte do projeto paulistano, é a conexão wi-fi nas luminárias, para integrá-las a um centro de controle. Com isso, será possível uma gestão melhor e em tempo real dos ativos públicos. “Através da conexão, descobrimos defeitos nas lâmpadas antes que elas parem de funcionar e cortamos custos com equipes que ficavam circulando pelas cidades”, diz Lorie. Outro benefício trazido pela melhor luminosidade do LED foi percebido em Los Angeles. Nos pontos em que as lâmpadas foram instaladas, houve uma diminuição de 10% dos crimes. É motivo suficiente para agradar à população e a administradores públicos quase tanto quanto à indústria de iluminação.