01/02/2012 - 21:00
O fundador da Apple, Steve Jobs, nunca foi motivado somente por ganhar dinheiro ao desenvolver aparelhos que revolucionaram diversos setores da economia mundial. Seu estímulo era criar produtos realmente bons para que deixassem “uma marca no universo”. Pois a pequena ilha de Taiwan adotou como estratégia nacional transformar os carros-chefe de sua economia em produtos reconhecidos pelos consumidores como de alta tecnologia e inovadores. A ideia é tornar o Made in Taiwan um selo desejado, afastando o país do histórico de subcontratada de empresas americanas e europeias. “Descobrimos que não dá dinheiro fabricar para outras empresas”, afirma Sam Chen, diretor do Institute for Information Industry (III), braço de inteligência industrial do governo de Taiwan.
No topo do mundo: Taipei 101, de 508 metros, o segundo edifício mais alto do mundo.
Ter sua indústria associada a produtos de baixo valor agregado, como acontecia até a década de 1980, custava dinheiro a Taiwan, que é considerada uma província rebelde pela China, o maior fabricante de produtos manufaturados do planeta. Ao lançar o primeiro plano de valorização de marcas e design locais, em 1988, as empresas taiwanesas tinham que oferecer seus produtos entre 15% e 20% mais baratos do que equivalentes de outros países. Um prejuízo estimado entre US$ 18 bilhões e US$ 24 bilhões em receitas anuais. Na época, as principais empresas da ilha asiática já detinham tecnologias próprias, mas fabricavam equipamentos para grandes marcas ocidentais. A HTC, fabricante de smartphones, por exemplo, desenvolveu na década de 1990 o primeiro palm top com tela colorida da Compaq.
A Asus, uma das cinco maiores fabricantes de PCs do mundo, desenhou a placa-mãe do processador 486, lançado pela Intel em 1989. Grandes projetos pelos quais não receberam nenhum crédito do grande público. A Acer, fundada em 1976, foi a primeira a dar o salto. Em 2000, passou a vender notebooks e computadores com marca própria. “Queríamos competir com líderes de mercado, como a Dell”, afirma Jim Wong, presidente corporativo da Acer. “Era a única maneira de sobreviver.” Mais do que não sucumbir, a Acer prosperou. Em 2003, já era a quinta maior marca de PCs do mundo. Em 2011, ficou na quarta colocação. Tornar marcas conhecidas, e ainda mais associá-las a um país, não é tarefa simples. Os programas de valorização de imagem de Taiwan já duram 23 anos. Em 2006, uma nova iniciativa foi lançada para tornar mais conhecidos outros setores, além da tecnologia da informação.
A Giant, líder mundial em bicicletas, investe em marketing 8% de suas receitas, que somaram US$ 1,4 bilhão em 2010. A Johnson, terceira maior fabricante mundial de equipamentos de ginástica, com presença em 63 países, se associou ao ciclista Lance Armstrong, sete vezes campeão da volta da França, para se tornar mais conhecida. “Menos de 5% das pessoas prestam atenção na marca dos aparelhos”, afirma Daniel Clayton, vice-presidente de desenvolvimento da Johnson. Apesar dos esforços, especialistas consideram que Taiwan ainda tem muito chão a percorrer antes de se tornar uma referência internacional. Para o consultor americano Simon Anholt, especialistas em marcas, o problema é que o país asiático não figura no imaginário do consumidor como um exportador de produtos com alto teor tecnológico. “Pode-se levar décadas até que as pessoas associem Taiwan a esses produtos”, disse à DINHEIRO.
Enviado especial a Taipei