29/04/2011 - 21:00
Em 2000, a jornalista anglo-americana Natalie Massenet, 46 anos, surpreendeu o mundo da alta-costura ao lançar uma nova plataforma para a venda de roupas e acessórios assinados por grifes consagradas e estilistas descolados. Batizado de Net-A-Porter, o portal de internet consumiu investimentos de cerca de US$ 2 milhões e saiu do papel apesar da oposição do marido de Natalie, Arnaud Massenet.
Executivo de um banco de Wall Street, ele considerava que o projeto teria poucas chances de prosperar. No ano passado, o Net-A-Porter foi adquirido pelo grupo suíço de luxo Richemont, dono das marcas Cartier e Montblanc. Natalie embolsou estimados US$ 80 milhões e o site passou a ser avaliado em US$ 560 milhões.
O Net-A-Porter é uma das iniciativas que serviram de inspiração para o WWW – What We Wear (O que nós usamos) comandado pelos empresários Isaac Duek e Ricardo Bellino, de São Paulo. Duek foi um dos criadores das marcas Forum e Triton. Bellino, entre outras atividades, foi sócio da agência de modelos Elite e se tornou conhecido ao prospectar investimentos no Brasil para o magnata americano Donald Trump.
O objetivo da dupla Duek-Bellino é transformar o WWW em uma alavanca de vendas de marcas premium brasileiras, como Carmin, Ellus, Forum e Adriana Barros, no País e no Exterior. “Queremos ser um canal de comercialização de roupas e acessórios, direcionado para as pessoas que acompanham as tendências da moda e vivem plugadas no mundo virtual”, disse Duek à DINHEIRO. O negócio exigirá investimentos de cerca de R$ 30 milhões em sua fase inicial. O lançamento do shopping está previsto para setembro.
Mais que apenas um portal de moda, a ambição da dupla Bellino-Duek é criar uma plataforma de negócios com bases também na chamada economia real. Para isso, além do shopping center virtual, o WWW contará com diversos serviços. A lista inclui desde uma tevê online para transmitir os desfiles semanais de cada marca, espaço para debates com especialistas em moda, área de blogs nas quais as usuárias poderão trocar ideias sobre a composição dos “looks”, além de uma revista eletrônica sobre estilo de vida. Essa última seguirá o conceito “compre enquanto navegue”.
Segundo Bellino, tudo que for mostrado em foto ou em um vídeo, da roupa aos acessórios, passando pelo mobiliário, estará à venda. Isso inclui até o pacote para o destino turístico usado como cenário para a fotografia ou para o videoclipe. A meta é conseguir a adesão de 30 grifes e gerar um volume de negócios de R$ 200 milhões no primeiro ano de operação. O ganho dos empresários virá da cobrança de uma comissão pós-venda de produtos e serviços. “Queremos ser um canal de vendas destacado na estrutura de cada grife que aderir ao projeto”, diz Bellino.
Apesar do otimismo, especialistas em gestão argumentam que, para ser bem-sucedido, o WWW terá de vencer desafios e quebrar resistências. O primeiro deles é alcançar um faturamento suficiente para viabilizar o negócio. “O problema para tirar um projeto desse porte do papel é a escala de venda necessária para rentabilizar a operação”, afirma Silvio Passarelli, diretor do Programa de Gestão do Luxo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).
A dupla Tuek-Bellino acredita, no entanto, que isso vem mudando rapidamente. Citam como exemplo a loja virtual da descolada marca paulistana Carmin. “Desde julho de 2010 já vendemos para clientes de 450 municípios e cerca de 30% deles compraram mais de uma vez”, diz Reynaldo Pasqua, diretor online da Carmin.
Em uma operação em larga escala e em um setor no qual não existe padronização de medidas, será preciso, porém, equacionar, até mesmo, questões tidas como secundárias. “O brasileiro gosta de tocar o tecido para sentir a textura e provar as peças antes de se decidir pela compra”, afirma André Robic, diretor do Instituto Brasileiro de Moda (Ibmoda).
Para disseminar o conceito da WWW, os empresários pretendem abrir uma loja temporária, conhecida como pop up store, em São Paulo. Ela funcionará como uma espécie de show-room para as empresas que aderirem ao portal. No local, será possível conversar com consultoras de moda e experimentar roupas e acessórios em cabines virtuais, nas quais a imagem da pessoa será transportada para um telão.