23/05/2012 - 21:00
A turbulência financeira que devastou o setor financeiro dos EUA, a partir de 2008, teve como vítimas preferidas os presidentes de bancos americanos. A longa lista de executivos que sucumbiram inclui líderes de instituições como Lehman Brothers, Bank of America e Citybank. Um dos que sobraram da turma foi James Dimon, CEO do JPMorgan Chase. Mais do que sobreviver, ele prosperou: aproveitando os preços baixos, comprou o Bear Stearns e parte do Washington Mutual, consolidando o posto do JPMorgan como maior banco de investimento do país. O resultado catapultou Dimon, aos 56 anos, para o posto de estrela de Wall Street, uma espécie de professor de Deus americano, e candidato ao cargo de secretário do Tesouro dos EUA. Por quatro vezes, foi eleito pela revista Time uma das 100 personalidades mais influentes do mundo.
O tamanho do buraco: operações com derivativos deixam futuro de James Dimon em xeque.
O anúncio, feito na semana passada, de que o banco teve prejuízo de US$ 2 bilhões em operações financeiras suspeitas, jogou uma pá de terra sobre a credibilidade de Dimon. Afinal, sob seu comando, o banco perdeu o que seria equivalente em valores correntes à fortuna do legendário John Pierpont Morgan, o fundador da instituição. O rombo também fez entrar areia em seus movimentos políticos. Antes próximo do presidente Barack Obama, Dimon se afastou gradativamente dos democratas conforme o governo ia colocando em prática as reformas do sistema financeiro do país. Logo ele se tornou a principal voz contra as regulamentações impostas ao funcionamento do setor. Seu empenho conseguiu retardar a reforma: inicialmente marcada para começar em julho desde ano, foi postergada. Com o problema, no entanto, a cruzada ultraliberal do executivo assume agora feições quixotescas.
Num primeiro momento, quem pagou pelo prejuízo foi Ina Drew, a diretora de investimentos. Com três décadas de carreira no JPMorganChase, era considerada uma das executivas mais poderosas de Wall Street. No ano passado, recebeu mais de US$ 15 milhões em bônus e benefícios, tornando-se a oitava mulher mais bem paga do mundo, segundo a revista Fortune. Mas a cobrança da fatura não deve se limitar a Drew. Dois grupos de acionistas entraram com ações na Justiça americana em razão das perdas, alegando que o banco enganou os investidores sobre os riscos envolvidos nas operações. Ambos os processos apontam nominalmente o chefão Dimon como réu. A comissão que regula o sistema financeiro dos EUA, a SEC, também avisou que está analisando o caso. A expectativa no setor financeiro é de que, daqui para a frente, a chapa do próprio Dimon esquente.