24/07/2015 - 19:00
Alice é uma heroína de beleza inquestionável e habilidades sobre-humanas que, há 13 anos, vem combatendo zumbis e corporações maléficas na série de filmes ‘Resident Evil’, baseada no videogame de mesmo nome. No último dos episódios da franquia (Resident Evil 5: Retribuição, de 2012), a protagonista vivida pela atriz Milla Jovovich acorda misteriosamente em uma nova realidade, como se a Terra fosse um local feliz de novo. Mas é claro que essa é só a calmaria que precede a tempestade de explosões, perseguições e cabeças detonadas numa metrópole pós-apocalíptica.
E qual o lugar mais adequado para simular tal cenário desolador? Para os produtores, Toronto, no Canadá, sede dos Jogos Pan-Americanos de 2015 e eleita pela revista The Economist como a melhor cidade do mundo. O maior município canadense, com cerca de 2,8 milhões de habitantes, é locação constante de produções cinematográficas de ação. Recentemente, as refilmagens de blockbusters como ‘Robocop’ e ‘O Vingador do Futuro’, assim como aconteceu com ‘Resident Evil’, fizeram muitos dos moradores de Toronto correrem ao cinema só pelo esporte de tentar identificar os pontos icônicos da cidade na tela.
Essa é uma realidade cada vez mais comum, e não só por conta das produções dos grandes estúdios americanos. É raro haver um fim de semana, especialmente no verão, em que algum ponto na região metropolitana não esteja fechado, cercado por cones, agentes de trânsito e policiais, para a gravação de filmes, séries de tevê e comerciais. Em 2014, o investimento recebido graças a essa indústria foi recorde, ultrapassando a casa do US$ 1 bilhão. Em 2014, o número de dias filmados em Toronto também saltou quase 20% em relação a 2013, chegando a 6.361, com diversas produções simultâneas.
Essa soma não inclui as filmagens em estúdio, apenas aquelas feitas em ruas, prédios ou locações públicas da cidade. A explicação para o sucesso está em três frentes: conveniência arquitetônica, custo reduzido e desburocratização das permissões. Os grandes arranha-céus e as calçadas largas da área central de Toronto podem facilmente se passar por construções de cidades como Nova York ou Chicago, por exemplo. Fechar uma dessas áreas na cidade canadense é até 50% mais barato do que em uma metrópole nos Estados Unidos. E para obter uma autorização de filmagem que inclua o bloqueio de ruas e a utilização de efeitos especiais em Toronto, podem ser necessários apenas quatro dias.
“A expansão e a diversificação dessa indústria são sinais positivos para o futuro de Toronto como um local de produção de primeira linha”, diz Michael Thompson, chefe do Departamento de Desenvolvimento Econômico da cidade. “Enquanto as grandes produtoras de TV e cinema dos Estados Unidos continuam a ser nossos maiores investidores, os valores obtidos com filmagem de comerciais quase dobraram desde 2012.” A atratividade de Toronto para esse tipo de negócio também é responsável pela fidelização de séries que ganharam destaque mundial, como Orphan Black, Suits e Beauty and the Beast.
Embora nessa indústria nunca seja possível contar com a certeza de mais uma temporada, a possibilidade de ser a “casa” de algumas produções por diversos anos é um fato positivo para a cidade. Os habitantes de Toronto, por sua vez, não parecem muito incomodados com o fechamento de ruas, explosões simuladas e pelo sobrevôo dos helicópteros com câmeras. Segundo o Escritório de Filmes, Televisão e Mídia Digital de Toronto, o número de reclamações é “irrisório”. Ainda assim, o governo local estabelece regras para garantir que a convivência com a indústria da filmagem seja pacífica.
Gravações em áreas residenciais não são permitidas entre as 23h e as 7h, a não ser que todos os moradores possam ser avisados com antecedência. E, em alguns casos, é preciso a aprovação por escrito da maioria deles. As diretrizes também especificam que “moradores e negócios não devem ser afetados por iluminação excessiva, fumaça ou barulhos que possam impedi-los de permanecer na propriedade”, a não ser que haja concordância prévia. Assim, a cidade do Pan consegue abrir as portas para o mundo, através do cinema e da tevê, sem fechar os olhos para os seus habitantes.