04/12/2015 - 20:00
Para qualquer brasileiro, vencer na Argentina não é tarefa simples – e, quando acontece, tem um sabor especial. A seleção canarinho, por exemplo, nunca ganhou uma partida contra os anfitriões no estádio Monumental de Núñez, o maior de Buenos Aires, nem mesmo nos tempos de Pelé, Garrincha e Zico. Mas, apesar da rivalidade esportiva entre os países, no mundo dos negócios há bons exemplos de que a relação é mais amistosa. Um símbolo disso é a trajetória da paulistana de pais argentinos, Isela Costantini, de 44 anos.
A executiva foi escolhida pelo presidente recém-eleito, Mauricio Macri, para assumir o comando da companhia aérea estatal Aerolíneas Argentinas. Trata-se de um dos postos executivos de maior visibilidade no país, já que a empresa é motivo de orgulho para local assim como a Petrobras é – ou foi um dia – para os brasileiros. Mãe de dois filhos, Isela se credenciou à posição graças a seu bom desempenho à frente da GM para a Argentina, Uruguai e Paraguai. Isela é, frequentemente, elogiada por seu chefe, o colombiano Jaime Ardila, presidente da montadora na América do Sul, e bem vista no mercado automotivo.
“Ela sempre foi brilhante, dinâmica, uma boa negociadora e com um grande poder de argumentação”, diz o consultor do setor Francisco Satkunas. Ele mantinha contato direto com Isela quando foi diretor das plataformas Meriva e Corsa e a executiva era gerente de pesquisas de mercado na GM Brasil. “Ela ouve os outros, é muito organizada e serena. Todo mundo gostava dela.” No ano passado, Isela foi eleita por seus pares a melhor CEO da Argentina e, em 2013, chegou a ser incluída na lista de 50 mulheres mais poderosas do mundo pela revista americana Fortune.
Filha de um cardiologista que mora em Curitiba, Isela se formou na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná e começou a sua carreira na empresa de cosméticos O Boticário. Na GM chegou em 1998 e incluiu posições de marketing e pesquisas de produtos na América do Sul e nos EUA. A sua capacidade de negociação foi exercitada com os fortes sindicatos automotivos argentinos. Mas, na Aerolíneas, o desafio deve ser maior. A companhia, que chegou a ser privatizada para o grupo espanhol Marsans e depois estatizada pela presidente Cristina Kirchner, em 2008, coleciona prejuízos.
No primeiro semestre, registrou perdas de US$ 87 milhões. Para mantê-la em operação, o governo já desembolsou US$ 5 bilhões, mantendo uma estrutura inchada, com um excedente estimado de até 30% de trabalhadores, protegidos por seis sindicatos. “Existe uma relação simbiótica da empresa com o governo”, diz Jorge Leal Medeiros, professor de transportes aéreos da Universidade de São Paulo. “Por razões políticas, a empresa decidiu voar para todas as províncias do país.” A opção de Macri por Isela é um sinal de que existe um desejo de trazer um pouco do espírito da iniciativa privada a seu governo.