A cidade de Manaus, no coração da Floresta Amazônica, já foi considerada a “Paris dos Trópicos”. Foi na época do ciclo da borracha, que durou de 1879 a 1912, com um breve soluço durante a Segunda Guerra Mundial, na década de 1940. Depois desse período de esplendor econômico, a capital do Amazonas caiu no ostracismo, que durou pelo menos mais duas décadas. Em 1967, com a criação da polêmica Zona Franca de Manaus, a cidade retornou ao mapa da economia brasileira. Hoje, após 45 anos de altos e baixos, o projeto vive um novo ciclo de expansão, principalmente depois que os benefícios fiscais concedidos às empresas – isenção de imposto de importação e redução de IPI/PIS e Cofins – foram prorrogados até 2023, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2004. 

 

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Força nacional: 90% da produção de motos brasileiras é feita em Manaus, como na fábrica

da Honda (à esquerda). Polo também produz quase todas as tevês do País.

 

Desde 1967, quando foi criado, até 2004, os investimentos no Polo Industrial de Manaus somavam US$ 4 bilhões. Apenas nos sete anos seguintes à prorrogação dos benefícios, foram investidos mais US$ 6,8 bilhões. Nesse período, o faturamento das empresas da região cresceu de US$ 14,2 bilhões para US$ 41,2 bilhões, no ano passado. Os empregos passaram de 84,3 mil para 122 mil. Em 2012, nada indica que o crescimento do Polo Industrial de Manaus deva arrefecer. Nas duas reuniões realizadas neste ano, o Conselho de Administração da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) aprovou 99 projetos que preveem investimentos de US$ 1,4 bilhão em três anos. 

 

Entre os negócios liberados estão novas fábricas de bicicletas elétricas, lousas digitais, óculos, equipamentos ferroviários e estruturas fluviais. Em 2011, os novos projetos somaram US$ 3 bilhões, em 235 empreendimentos, que deverão estar a pleno vapor até 2014. Quem já está em Manaus estuda ampliar a produção. É o caso da fabricante americana de bens de consumo P&G, que já produz na região lâminas e aparelhos de barbear Gillette e escovas de dente Oral-B. “Hoje há comprometimento político com o modelo da Zona Franca”, afirma Bobby Reinoso, diretor da P&G em Manaus. “Por isso, decidimos investir ainda mais na região.” O horizonte de quem pretende investir na região também deve aumentar. 

 

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Selva e negócios: zona Franca de Manaus

deixou muitos empreendedores milionários

 

A presidenta Dilma Rousseff quer estender os benefícios fiscais do Polo Industrial de Manaus até 2073. A Proposta de Emenda Constitucional com esse objetivo encontra-se no Congresso Nacional. O superintendente da Zona Franca de Manaus, Thomaz Nogueira, avalia que a prorrogação do prazo irá gerar segurança para as empresas e deve incentivar novos investimentos. O executivo, no entanto, alerta que crescem, na mesma medida, os desafios para melhorar a infraestrutura logística da região, um dos gargalos para quem decide se instalar por lá. “A frequência da cabotagem e de voos precisa ser ampliada, mas a solução esbarra na ausência de portos e aeroportos suficientes”, diz Nogueira. 

 

Duas medidas na área portuária estão em andamento. O governo federal conduz licitação para um novo porto e um consórcio privado composto pelas empresas Log-In Logísitca Intermodal, Lajes Logística e Juma Participações também faz planos para investir nessa área. Mas os projetos são contestados judicialmente. Em seus 45 anos de atividade, a Zona Franca tornou-se referência no País na produção de eletroeletrônicos, como tevês e computadores, e motos. A indústria de eletroeletrônicos, por exemplo, é responsável por 45% da receita do polo, com faturamento em 2011 de R$ 18,1 bilhões. Estão ali empresas como a Nokia, Xerox, Samsung, LG e Philips. No caso do setor de duas rodas, mais de 90% da frota nacional, que somava 18 milhões de motos em 2011, foi produzida em Manaus. 

 

Estão instaladas na região fábricas de motos populares das marcas Honda, Yamaha, Suzuki e Dafra e de companhias de luxo como BMW e Harley-Davidson. No ano passado, o setor de duas rodas faturou US$ 6,9 bilhões em Manaus. Os negócios na área de motocicletas permanecem acelerados. Um exemplo é a chinesa CR Zongshen, dona da marca Kasinski no Brasil, que está investindo R$ 45 milhões, até 2014, em uma nova fábrica com capacidade para 190 mil motos. O presidente da subsidiária brasileira, Claudio Rosa Jr., afirma que está empenhado em atrair para Manaus fornecedores chineses. “Já fechamos contrato com uma companhia que produzirá chassis e estamos em negociações adiantadas com fabricantes de assentos, carenagens e amortecedores”, diz Rosa Jr.

 

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