No centro-oeste dos Estados Unidos, próximo de Illinois e Kansas, o estado de Iowa dará o pontapé inicial da corrida presidencial do Partido Democrata, do atual presidente Barack Obama. Responsável pela maior produção de milho do país, algo como um quinto do total, e dono do maior rebanho de suínos, o estado de três milhões de habitantes é visto como ponto-chave para a disputa presidencial americana.

Em 1º de fevereiro, a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, o ex-senador de Vermont, Bernard Sanders, e o ex-governador de Maryland, Martin O’Malley, darão início em Iowa à peregrinação por 50 estados e a capital federal, que durará até 25 de julho, para convencer os delegados distritais sobre quem é o nome ideal para representar o partido na disputa contra os republicanos, que terão de decidir entre Donald Trump, Ted Cruz, Ben Carson e Jeff Bush. “O estado tem grande relevância por ser o primeiro na corrida eleitoral”, diz Donna Hoffman, professora do departamento de ciências políticas da Universidade de Iowa do Norte.

“Seu papel é fundamental para estreitar o campo dos candidatos, que podem até abandonar a corrida caso não tenham muito sucesso no local.” A favorita Hillary Clinton sabe da importância de Iowa. Não é à toa que escolheu o local para lançar sua campanha em 2007, quando tentou, pela primeira vez, disputar as eleições presidenciais. Em abril de 2015, ela voltou e percorreu o estado para começar a conquistar os delegados e os eleitores. À frente nas mais recentes pesquisas nacionais com 55% da intenção de votos, a ex-secretária de Estado representa uma linha mais conservadora dentro do seu partido.

Mesmo assim, sua popularidade, experiência no governo e tom mais moderado em questões internas delicadas, como a imigração e o sistema de saúde, agrada diferentes alas dos democratas. “A experiência dela tem um destaque muito grande entre os democratas”, diz Rubens Barbosa, embaixador do Brasil em Washington durante o governo FHC. “Hillary tem um vasto conhecimento e gabarito tanto em economia interna quanto de política externa, isso conta a favor inclusive do Brasil.” Embora a candidata veladamente apoiada por Obama lidere as pesquisas, o polêmico ex-senador de Vermont, Bernard (Bernie) Sanders, tem mexido com a cabeça dos eleitores e alcançou 36% nas intenções de voto.

Autodeclarado democrata-socialista, o político agrada a linha mais jovem do partido, principalmente os que apoiaram Obama nas últimas eleições. Recebido pelo presidente na Casa Branca na última quinta-feira, Bernie agitou os últimos debates apoiando um sistema público de saúde mais amplo, declarou reformas para os imigrantes e apoio às minorias, como homossexuais. Quando senador de Vermont – estado vizinho do Canadá –, apoiou um acordo com a Venezuela para o abastecimento de energia da região. “Sua política mais doméstica e focada nas minorias assusta a ala mais conservadora dos democratas”, diz Fernanda Magnotta, coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP.

“O fato dele também ter se declarado socialista pode contar negativamente ao final das prévias, principalmente pela cultura capitalista da população americana.” Visto como potência regional, o Brasil ainda é pouco citado no plano de política estratégica dos dois principais candidatos democratas. Superada a crise de espionagem dos EUA sobre ao governo brasileiro, com a paz selada em uma visita da presidente Dilma Rousseff à Washington em julho de 2015, o relacionamento comercial entre os dois países se manteve estável – a balança bilateral movimentou US$ 362,6 bilhões no ano passado.

Embora os republicanos, historicamente, tenham sido mais importantes para o Brasil, Donna Hoffman entende que, entre todos os candidatos, Hillary é a que mais tende olhar para a América do Sul, principalmente por sua experiência como secretária de Estado. “Por já ter trabalhado com Obama, vejo que ela pode manter a política econômica internacional do país”, diz a cientista política. “Sanders, por exemplo, tem pouca experiência nesse quesito, assim como os que correm pelo partido republicano, que não demonstraram interesse pela região.” Se ninguém ameaçar Hillary, ela pode significar uma virada na história recente entre o Brasil e os EUA.