Apesar do aumento do número de automóveis em circulação e da consolidação do trem e do metrô nas maiores metrópoles do mundo, o ônibus ainda cumpre uma função vital na mobilidade urbana. Afinal, trata-se da única modalidade de transporte coletivo que pode deixar o usuário na porta de casa. Mas os veículos movidos a diesel começam a ser questionados nas principais cidades, graças à pressão de ecologistas e aos males causados pela poluição atmosférica. É nesse contexto que a Volvo espera encontrar pista livre para acelerar o Volvo Eletric Concept Bus, sua versão de ônibus 100% elétrico, lançado na segunda-feira 15, em seu QG de Gotemburgo, principal polo industrial da Suécia.

“Com este veículo, nós completamos nosso portfólio dentro do conceito de mobilidade sustentável nas cidades”, afirmou Hakan Agnevall, presidente da Volvo Buses. O veículo integra o projeto ElectriCity gerido pela prefeitura. Até então, a montadora contava apenas com o ônibus híbrido, dotado de bateria carregada pela energia cinética e tanque de combustível, e o elétrico híbrido plug-in, cuja bateria é carregada na rede aérea ou na tomada. Como no mundo dos negócios não existe vácuo, o espaço não ocupado por tradicionais fabricantes foi abocanhado pela chinesa Build Your Dreams (BYD), que já vendeu cinco mil unidades globalmente e fala até em instalar uma fábrica no Brasil.

Apesar da vantagem da concorrente, executivos da Volvo alegam que não entraram atrasados nessa corrida, pois seu foco sempre esteve na eletromobilidade, conceito que inclui toda a infraestrutura da operação. “Não vendemos apenas um ônibus mais eficiente e menos poluente, mas sim um pacote de mobilidade para o cliente”, diz Luis Carlos Pimenta, presidente da Volvo Bus Latin America. Nessa lista consta a consultoria para gestão da malha rodoviária e as estações de recarga, desenvolvidas pelos parceiros ABB e Siemens. A Volvo não revela os valores, mas estima-se que para acelerar nesse campo da mobilidade elétrica os investimentos podem ter chegado a US$ 400 milhões, em 10 anos, segundo analistas.

Quase 60% desta bolada teria sido gasta no desenvolvimento da bateria. A forma como os suecos tratam esse componente é considerado o ponto central de sua estratégia para o Volvo Eletric Concept Bus. Ao contrário dos rivais, a montadora não incluirá o custo da peça no preço final. Em vez disso, o operador pagará apenas por sua manutenção. Se pifar, a Volvo troca. Até o final do ano, a subsidiária espera receber um ou dois modelos do veículo para fazer um road show pela América do Sul. No entanto, suecos não estão sozinhos nesta caminhada. A Eletra, de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, também cultiva planos ambiciosos.

Até porque, foi a primeira a rodar no Brasil um veículo puramente elétrico em linha convencional, em 2014. Agora, se prepara para colocar no mercado o trólebus híbrido, que atua tanto na versão elétrica, ligado à rede aérea, quanto com o combustível convencional, o diesel, e é resultado da parceria com a catarinense WEG, a Mercedes Benz e a fabricante paulista de carrocerias Caio. “Essa tecnologia eliminaria a necessidade de implantação de pontos de recarga em todos os terminais e garagens”, afirma Iêda Maria Oliveira, gerente comercial da Eletra.

Iêda e Pimenta acreditam que esse segmento só irá se firmar no Brasil caso haja uma decisão firme das prefeituras, responsáveis pela gestão do sistema de transporte urbano. A preocupação se dá especialmente no caso da cidade de São Paulo, que está em vias de renovar a concessão das empresas, um negócio que deve movimentar R$ 120 bilhões, em 20 anos. “Não vejo uma disposição clara da prefeitura em adotar medidas neste sentido”, diz ela. O secretário de Transportes, Jilmar Tatto, rebate essa posição. Primeiro, argumenta que o debate está sendo colocado de forma equivocada.

“O enfoque sobre a poluição atmosférica nas grandes cidades não deve ser no ônibus, mas sim na redução da frota de carros”, afirma. “Em uma cidade como São Paulo, quem causa a poluição é o automóvel de passeio.” Mesmo assim, Tatto garante que sua intenção é expandir as opções de transporte sustentável na cidade, que conta com uma discreta rede de trólebus. “Os veículos com tecnologia limpa serão contemplados no edital que deverá ser liberado para consulta pública até o final do mês”, afirma o secretário. Um discurso que soa como boa música aos ouvidos do presidente mundial da Volvo Buses.