A pergunta valia US$ 1 milhão. Sem titubear, Watson arriscou “Bram Stocker”, diante de uma descrição do escritor irlandês, e levou a bolada, superando dois oponentes. A cena aconteceu em fevereiro deste ano, no programa Jeopardy, famoso game show da tevê americana, e instantaneamente elevou o novo milionário ao status de celebridade. Tanto que, na edição deste ano do Webby Awards, prêmio oferecido pela Academia Internacional de Ciências e Artes Digitais, considerado o Oscar da internet, ele foi eleito a personalidade do ano. O inusitado dessa história é que Watson não é uma pessoa, mas sim um supercomputador criado pela IBM. 

Seu sucesso, no entanto, não se resume aos fãs do programa, nem ele está sozinho nessa popularização dos supercomputadores. Assim como o Watson, outras máquinas potentes começam a fazer parte do cotidiano das pessoas e, principalmente, das empresas. 

O fenômeno acontece porque o preço dos supercomputadores caiu vertiginosamente, abrindo novos mercados para esses equipamentos, ao mesmo tempo que gerou uma disputa entre fabricantes de chips e computadores como Intel, AMD, IBM e Nvídia, para ver quem consegue oferecer a maior capacidade, pelo menor preço. Com isso, um supercomputador, que custava cerca de US$ 200 milhões em 2000 pode ser adquirido por pouco mais de R$ 30 mil, atualmente. 

 

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Em casa: para Arnaldo Tavares, da Nvidia, a indústria está democratizando a computação de alto desempenho 

 

Os supercomputadores podem ser definidos como máquinas com alto poder de processamento, cuja finalidade é realizar cálculos matemáticos complexos, no menor tempo possível. Seu desempenho é, no mínimo, 200 vezes superior ao de um computador comum. O supercomputador  mais rápido do mundo, o japonês K, do Instituto Riken, tem capacidade equivalente a de um milhão de PCs.

A velocidade dessas máquinas é medida em flops (o equivalente em português a operações de ponto flutuante por segundo ), unidade que fornece, basicamente, o número de cálculos por segundo. O K atinge a velocidade de 8,16 petaflops, ou 8,16 quatrilhões de cálculos por segundo. Para ser considerado um supercomputador, a máquina deve ter por volta de um teraflop de capacidade (um trilhão de cálculos por segundo). 

 

Antes restritas a universidades e centros de pesquisas, geralmente com altos investimentos governamentais, essas máquinas agora podem ser encontradas em empresas de exploração de petróleo, fabricantes de automóveis, bancos e indústrias farmacêuticas de todos os portes. “O Watson é um equipamento comercial”,  diz  Aníbal Strianese, responsável pela área de supercomputadores da IBM no Brasil. “Ele está à venda.”A redução no custo dos supercomputadores chegou a um ponto em que as máquinas estão quase se tornando domésticas. A fabricante de chips Nvidia, por exemplo, lançou,  neste ano,  o que batizou de  supercomputador pessoal. A máquina atinge uma velocidade de até quatro teraflops e custa a partir de R$ 35 mil. 

 

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Respostas rápidas: o Watson, da IBM, venceu dois ex-campeões do Jeopardy, nos EUA, e virou celebridade

 

Para comparar: o supercomputador do início dos anos 2000, que custava US$ 200 milhões, tinha capacidade de apenas 4,9 teraflops. “Estamos democratizando os supercomputadores”, afirma  Arnaldo Tavares, diretor de vendas da Nvidia. Segundo Reinaldo Affonso, diretor de desenvolvimento da fabricante de chips Intel, até empresas de médio porte estão se beneficiando do barateamento da tecnologia. Ele ressalta que não foi somente o custo da máquina que caiu. Atualmente, instalar e manter esse tipo de equipamento também é muito mais barato. “Em 2002, para conseguir três teraflops era preciso 90 metros quadrados”, diz Affonso. 

 

“Hoje, eu entrego quatro teraflops em quatro metros quadrados.” De acordo com Affonso, a expectativa é de que esse mercado, que movimentou US$ 19 bilhões em 2010, cresça 19%, em 2011. Principal concorrente da Intel, a AMD acredita que é possível levar para os computadores pessoais a mesma capacidade dos supercomputadores. “Na prática, tecnologias usadas nessas máquinas já chegam aos notebooks e desktops”, afirma Ronaldo Miranda, vice-presidente da AMD para a América Latina. Ao que parece, ao contrário dos humanos participantes de games na tevê, os supercomputadores terão bem mais do que 15  minutos de fama.

 

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