Na parte suíça dos Alpes há 48 picos nevados com mais de 4 mil metros de altitude. Um deles, o Dufour, no Monte Rosa, alcança 4.634 metros, orgulho da população local. Mas desde domingo (19), o país possui um novo gigante na Europa, o 11º maior banco do mundo, com US$ 5 trilhões em ativos. O bancão é resultado de uma fusão exigida pelo Swiss National Bank (SNB), a autoridade central do país alpino, para unir o UBS com seu concorrente Credit Suisse e salvar o sistema financeiro europeu de uma crise sistêmica que quebraria instituições e empresas em cadeia. A imposição da fusão pelo SNB foi costurada após a tentativa de evitar a falência do Credit Suisse injetando o equivalente a US$ 54 bilhões na instituição no dia 16, mas a onda de saques de depósitos se manteve no dia 17. A aquisição, por US$ 3,2 bilhões, teve ajuda do governo, ou seja, dos contribuintes. As autoridades monetárias e o Tesouro suíço tornaram disponível uma linha de financiamento de 100 bilhões de francos suíços, cerca de US$ 108 bilhões.

De acordo com analistas de mercado, as negociações do final de semana foram complicadas. Nada surpreendente quando se trata de negociação entre dois arquirrivais pelo motivo de sempre: o preço. O acordo saiu a 0,76 franco suíço por ação, com um preço 60% abaixo do valor de 1,86 franco suíço no fechamento de mercado do dia 17. Antes da pandemia de Covid, o Credit Suisse possuía valor de mercado aproximado de US$ 100 bilhões.

Segundo relatório da casa de análise Levante Inside, a aquisição foi a melhor solução para evitar a quebra do Credit Suisse, que tem o dobro do tamanho do Lehman Brothers. O Lehman quebrou em setembro de 2008 e precipitou a maior crise financeira desde o crash da bolsa em 1929, e custou — por baixo — US$ 1,5 trilhão ao Tesouro americano. “Por isso, os suíços, sempre pragmáticos, preferiram salvar o Credit antes que ele falisse, evitando uma (sem trocadilho) avalanche de quebras bancárias”, afirmaram os analistas. O socorro aos banqueiros é sempre questionado pela sociedade, mas o argumento de autoridades como a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, em discurso no dia 21, é válido, evitar o pior: “O risco de contágio” e proteger milhões de empregos em empresas com depósitos em bancos.

PERDAS Além das perdas expressivas de mais de 60% com o valor das ações, os investidores de Contigent Convertible Bonds (CoCos), títulos de alto risco conversíveis em ações, tiveram suas posições marcadas como zeradas pelo SNB. O volume equivalente a US$ 17 bilhões nesses papéis classificados em balanços como Additional Tier 1 bonds (AT1s ou CoCo Bonds) viraram pó da noite de domingo (19) para segunda-feira (20) provocando perdas expressivas entre 6% e 7% em ETFs (fundos) europeus como o Invesco AT1 Capital Bond ETF e o Wisdom Tree AT1 Coco Bond ETF.

Na visão do analista da casa de análise VG Research, Guilherme Morais, o caso dos CoCos Bonds levou insegurança para os investidores europeus, pois esse é um mercado de US$ 275 bilhões em títulos de altíssimo risco. “Esses credores estavam no final da fila, com papéis conversíveis em ações”, afirmou Morais. Ou seja, o novo gigante dos alpes suíços foi um verdadeira gelada para o mercado de dívida.