A CSN, controlada pelo grupo Vicunha, da família do empresário Benjamin Steibruch,  ganhou uma rival de peso na novela em que se transformou a compra da participação de 26% da Camargo Corrêa e  da Votorantim no capital votante da Usiminas. Trata-se da siderúrgica argentina Ternium, do grupo ítalo-argentino Techint, que confirmou ter iniciado conversas com os dois conglomerados brasileiros para ficar com o lote de ações. O grupo argentino é o terceiro a manifestar interesse no bloco acionário, depois de CSN e da gaúcha Gerdau. É possível ainda que a Ternium acabe ficando com outros 10% de ações ordinárias, colocados à venda pelo fundo de pensão dos empregados da Usiminas. A siderúrgica argentina chegou mais tarde à disputa, mas parece já estar à frente da CSN, aparentemente a maior interessada no negócio. O preço oferecido pela Ternium é ligeiramente superior: R$ 5,2 bilhões pelo bloco de ações, ante R$ 5 bilhões que a CSN aceitaria pagar. Mas o fator determinante na disputa não é a diferença de R$ 200 milhões entre as duas propostas: é o relacionamento do acionista-comprador com os outros integrantes do bloco de controle da Usiminas, os japoneses da Nippon Steel, que têm o direito de preferência em caso de venda pelos demais integrantes do acordo de acionistas.

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Steinbruch, da CSN: atritos com a Nippon Steel somam-se ao histórico de disputas
com parceiros e falta de diplomacia nas grandes negociações

É  justamente aí que Steinbruch sai em desvantagem em relação aos argentinos. Os japoneses deixaram mais do que claro que não aceitariam tê-lo como parceiro no grupo majoritário da Usiminas.  A oferta da Ternium foi mais bem recebida e os japoneses estariam dispostos a abrir mão do direito de preferência em favor da Techint. Conhecido pelo temperamento difícil, como provam os  atritos em diversas sociedades das quais participou, Steinbruch bateu de frente com a Nippon Steel na administração da Namisa,  mineradora de ferro controlada pela CSN. A Nippon Steel e a Sumitomo Metal faziam parte de um consórcio de investidores japoneses e coreanos que compraram 40% da companhia,  em 2008, por US$ 3,1 bilhões. Em junho deste ano, ambas saíram da Namisa e suas participações foram absorvidas por outros dois sócios japoneses integrantes do consórcio, a trading Itochu e a siderúrgica JFE.  

Os japoneses deixaram a empresa por desentendimentos com Steinbruch. “O Steinbruch não negocia, impõe suas vontades, e os japoneses não sabem trabalhar assim”, afirma uma fonte próxima à Nippon Steel. Quando os asiáticos entraram na Namisa, havia a perspectiva de forte expansão, que acabou não sendo cumprida por divergências entre Steinbruch e a Nippon em relação aos investimentos que seriam feitos. Um dos problemas foi a negociação para a fusão entre a Namisa e a mineradora Casa de Pedra numa subsidiária que abriria o capital. Os japoneses não aceitavam os termos da diluição de sua participação. Depois de sair da Namisa, a Nippon Steel, que é a maior acionista individual da Usiminas, com 27,8% do capital votante, ficou mais à vontade para bloquear mais explicitamente a entrada da CSN na companhia mineira. 

 

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Logo depois da oferta pelo bloco de controle feita por Steinbruch, os japoneses iniciaram estudos sobre as sinergias que a Gerdau poderia ter com a Usiminas, especialmente em sua coligada Açominas, fabricante de aços longos. “O que os japoneses querem é um sócio com o qual possam ter controle compartilhado, algo semelhante ao que existe hoje e que eles sabem que não terão com Steinbruch”, diz outra fonte envolvida nas negociações. O empresário negou repetidos pedidos de entrevistas feitos pela DINHEIRO. O grupo japonês chegou a aventar a hipótese de comprar fatias acionárias da Camargo e da Votorantim para posteriormente revendê-las à Gerdau. Embora tenha considerado a Gerdau como uma possível parceira, a Nippon Steel tem um relacionamento mais antigo com a Ternium. A siderúrgica argentina mantém acordos operacionais com os japoneses em duas usinas que estão sendo construídas no México, com investimento total de US$ 1 bilhão. 

 

A própria Usiminas detinha uma participação na Ternium, vendida no início do ano. Se os argentinos saírem vitoriosos, não será o primeiro negócio que Steinbruch perde justamente pelo seu histórico de dificuldades com sócios. “Ele é muito arrojado, mas sempre coloca os negócios dele em primeiro lugar”, diz uma fonte do grupo de acionistas da Usiminas. “Ele não consegue manter sócios.” Uma das atitudes que desagradaram aos acionistas da Usiminas foi a aquisição de ações em bolsa antes de fazer uma oferta pelo bloco de controle. Isso deu um caráter hostil à operação da CSN. Não é a primeira vez . No caso da cimenteira portuguesa Cimpor, a CSN lançou uma oferta pública realmente hostil, sem nenhum alerta aos principais acionistas. Perdeu o negócio justamente para a Votorantim e para a Camargo Corrêa, que compraram participações do grupo francês Lafarge, da Caixa Geral de Depósitos e do português Teixeira Duarte. Agora, Steinbruch insiste na estratégia: continua comprando ações da Usiminas no mercado e já tem 20,14% das preferenciais e 11,66% das ordinárias da companhia. 

 

Poderia reivindicar um assento no conselho no ano que vem. “Mas isso não adiantaria nada, porque um representante de um concorrente como a CSN será obrigado a se abster em muitas das decisões do conselho”, afirma o assessor de um dos grupos que estão vendendo as ações da Usiminas. Steinbruch construiu sua história negociando duro e, pelo menos em sua primeira grande briga desde que assumiu o comando da Vicunha, um grupo com origem no setor têxtil saiu vitorioso. O empresário conseguiu boas condições no lendário  descruzamento de participações acionárias entre a Vale e a CSN. As longas negociações foram desgastantes para todas as partes. No final, os conflitos com Steinbruch levaram outros sócios como Bradesco, Previ e BNDES a apoiar sua saída da Valepar e a financiar a transferência para a CSN.  

 

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