06/06/2016 - 18:00
Reconhecer as pinturas coloridas do artista plástico pernambucano Romero Britto não é, nem de longe, um grande desafio. Ao contrário. O seu estilo está presente em mais de duas centenas de produtos licenciados e na mão das mais diversas classes sociais, o que gera um faturamento de quase R$ 300 milhões por ano ao artista. Os seus traços estampam desde uma simples caneta de R$ 10 até telas de cifras milionárias, que estão pendurados nas paredes de diversos endinheirados.
Um quadro com sua assinatura, que retrava o casal John e Jacqueline Kennedy, já foi arrematado por US$ 250 mil na Sotheby’s de Londres. Algumas dessas pinturas pertencem ao mexicano Carlos Slim, o quarto homem mais rico do mundo, dono da América Móvil – controladora de empresas como Claro, Embratel e Net – cuja fortuna é avaliada em US$ 50 bilhões. Agora, além de apreciador dos traços de Britto, Slim é o seu principal parceiro nos negócios. O Grupo Carso, holding controlada pelo mexicano, se tornou responsável pela administração global da marca Romero Britto pelos próximos dez anos.
Até hoje, ele já a licenciou para mais de mil produtos. “A nossa intenção é ampliar as vendas para regiões como a Ásia, em que ainda não estamos tão presentes”, diz Britto, com um sotaque de quem vive há 30 anos em Miami. “E essa parceira me dá tempo e tranquilidade para me dedicar às minhas obras.” Apesar de a relação profissional ter se iniciado recentemente, a amizade entre Britto e Slim já vem de anos. Desde 2008, para ser mais exato. Ambos se conheceram em Nova York, quando o mexicano quis saber mais sobre o artista das telas chamativas.
Dali, Britto presenteou o bilionário com retratos de toda a família Slim, incluindo o patriarca. A afinidade também foi demonstrada publicamente. Cinco anos após o primeiro encontro, a família do mexicano abriu as portas do museu Soumaya, pertecente à família e com um acervo de 60 mil obras, para Britto comemorar o seu aniversário de 50 anos e ser o primeiro artista vivo a expor as suas peças no espaço localizado na Cidade do México. Em 2014, Slim estava presente em mais uma comemoração do brasileiro.
Para esta parceria, o alvo vai ser difundir ainda mais arte do pernambucano e passar por cima de diversos preconceitos que Britto sofre exatamente por conta de sua popularidade. Sua marca poderá ser trabalhada por todas as empresas que formam a holding do Grupo Carso. Além, é claro, de qualquer uma que quiser sua versão Romero Britto. Essa variedade, no entanto, é o principal alvo de críticas ao artista. Por estampar diversos produtos, sem muito parâmetro, Britto é visto como comercial demais.
“Aqueles críticos mais puristas não apreciam que um artista se torne comercial”, diz Daniela Khauaja, professora da ESPM e especialista em branding. “Mas ele nunca quis fazer uma arte de milhões, mas algo que todos pudessem ter.” E é exatamente dessa forma que o pintor se defende das críticas. “Essas pessoas gostam de criticar tudo e a minha intenção sempre foi democratizar a arte”, afirma ele. “O público em geral e diversas pessoas importantes gostam e isso me basta.” De fato, personalidades célebres são suas admiradoras. Em 2013, por exemplo, ele foi pessoalmente a um jantar no Palácio de Buckingham, em Londres, convidado pelo príncipe Charles.
Na ocasião, entregou um retrato do então recém-nascido George, filho do príncipe William e o terceiro na linha de sucessão real britânica. Diversas marcas poderosas também se associaram a Britto. A fabricante americana de brinquedos Mattel, a relojoaria suíça Hublot, a montadora inglesa Bentley já fizeram parcerias com ele. Personagens de Walt Disney, como o Mickey Mouse, também tiveram suas versões coloridas criadas pelo artista. Com o apoio de Slim, Britto espera que essas conquistas sejam apenas o início de sua jornada. “Ainda consigo produzir 250 obras por ano”, diz. “Sei que existem muitos lugares a serem alcançados.”
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O império de Slim
Saiba quais são as principais empresas do quarto homem mais rico do mundo
• América Móvil – principal operadora de celular da América Latina, com mais de 152 milhões de linhas ativas. É dono das operadoras Embratel, da NET e da Claro no Brasil
• Grupo Sanborns – uma das grandes varejistas do México e da América Central. Conta com lojas de departamento e livrarias, além do comércio pela internet
• Carso Infraestructura y Construccíon – investidora em grandes projetos de infraestrutura nos setores de habitação, óleo e energia em toda a América Latina
• Fundación Carlos Slim – cuida da área filantrópica do bilionário. Apoia programas de educação, saúde e esporte pelo México