Em seu primeiro discurso, ainda na noite de domingo 5, depois de confirmar que a disputa pela Presidência da República seria decidida no segundo turno, a presidenta Dilma Rousseff fez uma afirmação importante. “Governo novo, ideias novas”, disse. “Ideias novas para a economia.” As palavras da presidenta refletem exatamente o que pensa a maior parte dos eleitores e praticamente a totalidade dos empresários, preocupados com uma economia que não cresce e se torna cada vez menos competitiva. Um pouco antes, o candidato tucano Aécio Neves havia comemorado a virada nas urnas, assumindo o papel de alternativa à inércia que tomou conta da economia brasileira nos últimos anos.

“Esse sentimento de mudança, amplamente presente no primeiro turno, já foi vitorioso no Brasil”, afirmou em Belo Horizonte, em discurso de agradecimento aos 34,8 milhões de votos que conquistou na primeira fase da eleição. Nos dias seguintes, o tucano deixou claro que pretende discutir a crise na economia brasileira, que deve crescer perto de zero neste ano, com inflação de 6,75% nos últimos 12 meses e deterioração significativa nas contas públicas. O modelo econômico dos últimos 12 anos de governo do PT já mostrou seu esgotamento.

Ele foi eficiente na resposta inicial à crise de 2008 e fez com que o Brasil, à época com capacidade ociosa, se recuperasse mais rapidamente do que outros países. Mas a manutenção dessa política e a falta de avanços levaram o País à estagnação. Pior ainda, a prática intervencionista do governo reduziu a confiança e diminuiu os investimentos. A política de reajuste do salário mínimo acima da inflação, responsável pelo aumento inicial do consumo, sem o aumento correspondente da produtividade do trabalho, elevou os custos de produção e tornou os produtos brasileiros ainda menos competitivos.

“A partir de 2009, saímos dos trilhos e passamos a percorrer outro caminho. Isso explica a desaceleração do crescimento econômico durante o governo da presidenta Dilma”, diz o economista Samuel Pessôa, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) e integrante da equipe econômica tucana, em seminário promovido pelo Tribunal de Contas da União (TCU), na segunda-feira 6. “O ministro da Fazenda chama de nova matriz econômica e eu chamo de ensaio nacional desenvolvimentista, adotado em função de ideologia”, afirmou.

Pessôa não admite que o principal motivo do baixo crescimento seja a crise internacional, como defende o governo, já que a economia brasileira ainda é uma das mais fechadas do mundo e depende menos do cenário externo. Nem ele, nem o economista Armínio Fraga, futuro ministro da Fazenda num eventual governo de Aécio Neves. “O quadro é mais interno do que externo. Falta o bom senso de reconhecer que não está dando certo, que o modelo fracassou”, afirmou Fraga, em debate com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na GloboNews, na quinta-feira 9. “O Brasil foi um dos países que mais geraram emprego durante a crise internacional”, rebateu Mantega.

O problema é que a geração de empregos perdeu força e já há setores da indústria em recessão, com demissões coletivas (leia reportagem aqui). A produção industrial acumula queda de 3,1% nos primeiros oito meses deste ano, em relação ao mesmo período de 2013, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Nos últimos anos, enquanto a economia andava de lado, cresceu a dependência do setor privado da boa vontade do governo, que concedeu apenas estímulos e desonerações setoriais, que não reduzem os custos da indústria como um todo.

“As regras de conteúdo nacional significam que protegemos algumas empresas, mas as que compram delas perdem produtividade”, diz o economista Marcos Lisboa, ex-secretário de política econômica da Fazenda e vice-presidente do Insper. O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que foi professor de Dilma na Universidade de Campinas e apoia o governo, concorda que é preciso aprimorar a gestão da economia. “O principal problema é rearranjar os estímulos ao crescimento, com um programa que rompa a inércia produzida pela crise”, afirma. A carga tributária, de 36,3% do PIB, é uma das maiores do mundo e a complexidade do sistema impõe custos extras para as empresas.

Aécio não promete redução do volume total – o que seria irrealista, dado que o próximo ano será de aperto para fechar as contas no azul –, mas diz que fará uma proposta de simplificação no primeiro ano, se eleito. “A simplificação é fundamental, porque vai gerar economia também nos gastos necessários para se pagar o imposto”, diz Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). O agronegócio, que se beneficiou com o aumento dos preços internacionais da soja e de outros produtos, se queixa da politização e do consequente enfraquecimento do Ministério da Agricultura.

Aécio propôs criar um superministério para cuidar do setor. Nos últimos cinco anos, 10% das usinas de etanol fecharam e outras devem deixar de produzir neste ano. O controle do preço da gasolina, além de causar prejuízo à Petrobras, acaba com a vantagem de preço do etanol e reduz o consumo do combustível.
A percepção de empresários e analistas de que o modelo atual se esgotou é confirmada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Na terça-feira 7, o FMI reduziu de 1,3% para apenas 0,3% a previsão de crescimento do PIB do País neste ano. O número fica ainda mais insignificante quando comparado à média mundial, que terá avanço de 3,3% neste ano, enquanto os emergentes devem crescer 4,4%.

O diagnóstico é claro: a fraca competitividade, a baixa confiança empresarial e as condições financeiras mais apertadas reprimiram os investimentos, enquanto a moderação no mercado de trabalho e no crédito reduziu o ritmo de expansão do consumo. Para os empresários da área de comércio exterior, a mudança de governo é uma esperança do fim desse ciclo negativo. Este será o terceiro ano consecutivo de queda nas exportações brasileiras e o primeiro com redução nas importações, uma indicação de anemia na atividade doméstica. “O Aécio tem falado uma coisa muito importante para os exportadores: previsibilidade”, diz o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

A mudança nas regras assusta o setor. Um exemplo é o Reintegra, que devolve créditos tributários dos produtos exportados. O programa foi anunciado em 2011, vigorou até o fim de 2013, acabou no início deste ano, foi anunciado para 2015 e, depois da grita geral, antecipado para este mês de outubro. O programa tucano para o setor elaborado pelo embaixador Rubens Barbosa, que já comandou as representações do Brasil em Washington e Londres, anima os empresários. “O governo escolheu os mercados do Sul, que são pequenos, e abandonou totalmente mercados importantes, como os EUA”, critica Castro. O programa de Aécio propõe manter a parceria com os demais países do Mercosul e, ao mesmo tempo, buscar novos acordos comerciais com países de economias mais fortes.

Para o cientista político João Augusto de Castro Neves, analista da consultoria Eurasia, de Nova York, quem quer que vença a eleição no dia 26 terá de fazer ajustes. Se for Aécio, o ambiente será melhor para isso, avalia. “Aécio terá credibilidade para implementar as mudanças, poderá culpar a herança maldita recebida do governo atual e terá maior tolerância do mercado”, afirma. Para que isso aconteça, só falta vencer Dilma nas urnas – na guerra das expectativas, que movem a economia e fazem o País andar, o tucano é o franco favorito dos mercados.

Colaborou: Carolina Oms