07/06/2013 - 21:00
No fim de maio, enquanto os católicos comemoravam o Corpus Christi, os executivos espanhóis do Banco Santander anunciaram uma transação que vinha sendo montada desde o início do ano. Por pouco mais de € 1 bilhão (R$ 2,8 bilhões), o banco vendeu 50% de suas atividades globais de gestão de recursos para duas administradoras de recursos americanas, a General Atlantic e a Warburg Pincus, gerida no Brasil por Alain Belda. Avaliada em € 2,04 bilhões, a empresa reúne as gestoras de 11 países – Brasil, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos são os principais. Ao todo, administra € 152 bilhões, 26% disso no Brasil.
“A associação permitirá à empresa de gestão de recursos do Santander ser mais competitiva ao oferecer alternativas de investimento”, disse Javier Marin, CEO do Santander, ao informar a transação. A meta, disse ele, é dobrar os recursos sob administração em cinco anos. Com isso, o banco também consegue capital para fazer frente aos tempos difíceis na Espanha e, ao mesmo tempo, reduz o risco de investir nos fundos que deverão ser os preferidos dos investidores. No Brasil, o Santander ocupa a sexta posição entre os administradores de recursos, e a aquisição não deverá alterar essa colocação significativamente no curto prazo.
Alain Belda: atuação em parceria com a General Atlantic no investimento
na empresa do Santander
Ela vai permitir, porém, um crescimento agressivo da General Atlantic no Brasil. “Estamos interessados em expandir nossa participação no mercado brasileiro, seja por meio do crescimento orgânico, seja por meio de aquisições”, diz Jonathan Korngold, diretor-executivo da General Atlantic em Nova York. A empresa gerencia cerca de US$ 17 bilhões em fundos de private equity em todo o mundo. Por aqui, ela se concentra em fundos de participação em empresas fechadas, conhecidos como private equity, e foi uma das principais investidoras na então Bolsa de Valores de São Paulo, antes de sua abertura de capital em 2007.
Recentemente, atuou como investidor-âncora na abertura de capital da empresa de fidelidade Smiles, no fim de abril, um papel pouco comum em companhias desse tipo. “Nosso objetivo é ampliar nossa participação em empresas abertas e nos processos de lançamento de ações”, diz Korngold, sem revelar cifras. “Sem a participação da General Atlantic, nosso processo de abertura de capital não teria sido tão bem-sucedido”, disse na ocasião Constantino de Oliveira Júnior, presidente do conselho da Smiles. A associação com o Santander vai dar velocidade e musculatura a operações como essas. Korngold é econômico ao falar sobre a estratégia, mas quem conhece os meandros da General Atlantic sabe que empresas com grande potencial de crescimento serão cada vez mais disputadas pelos investidores internacionais, com seu cerca de US$ 1 trilhão para investir só no mercado americano.
Charles Feeney: fundação de caridade de US$ 7 bilhões deu origem
à empresa de private equity
Os correntistas das agências de varejo do banco espanhol dificilmente vão perceber qualquer mudança no atendimento ou nos principais produtos de prateleira. Quem tem mais dinheiro para investir deve preferir fundos com grande potencial de valorização. Ou seja, as fronteiras entre fundos tradicionais de ações e carteiras de private equity vão se tornar cada vez menos nítidas. A operação junta parceiros improváveis. O Santander tem sido um dos bancos mais agressivos em aquisições, na Europa e na América Latina. Já a General Atlantic nasceu a partir de uma iniciativa filantrópica.
Ao voltar para casa após a Segunda Guerra Mundial, o americano Charles Feeney, hoje com 82 anos, resolveu garantir algum dinheiro vendendo bebidas importadas no porto de Nova York. Nos anos 1970, ele criou a empresa Duty Free e amealhou uma fortuna de US$ 7 bilhões. Bilionário improvável, que mora em uma casa modesta, não tem carro e só voa na classe econômica, Feeney já doou a maior parte de sua fortuna para caridade. “Meu desejo é que o último cheque que eu emita antes de morrer volte por falta de fundos”, diz ele. Em 1982, ele criou uma fundação de caridade para administrar o dinheiro e as doações, que deu origem à General Atlantic, que administra o que sobrou dos recursos.