Quando assumiu a presidência da BRF, maior processadora de alimentos do Brasil, em agosto do ano passado, o executivo Claudio Galeazzi tinha a missão de promover a integração total da antigas Sadia e a Perdigão, que, dois anos após a absorção da primeira pela segunda, ainda atuavam de forma independente em áreas vitais como a produção e a comercialização dos produtos. Os tão esperados ganhos de sinergia só vieram quando Galeazzi, que exibe em seu currículo passagens pelo comando de empresas como a cerâmica catarinense Cecrisa, a rede de supermercados Pão de Açúcar e a Lojas Americanas, recebeu carta branca para deixar sua marca registrada na empresa: um turnaround, com o fechamento de fábricas, redução de custos, demissão de diretores e contratação de novos executivos, mais alinhados à estratégia que estava sendo implantada.

O anúncio de sua saída, feito no dia 14 deste mês, exatamente um ano depois, pegou o mercado de surpresa. No dia seguinte, as ações da companhia caíram 2,38%. Em princípio, a expectativa era que de que Galeazzi, braço direito do presidente do Conselho de Administração e homem forte da BRF, o empresário Abilio Diniz, permanecesse pelo menos dois anos à frente da empresa. Segundo analistas ouvidos pela DINHEIRO, uma justificativa possível para a antecipação da sucessão é a de que o CEO já conseguiu realizar as mudanças necessárias.

“Não ficou claro o motivo da saída, por isso o mercado reagiu mal”, diz Danilo de Julio, analista da corretora Concórdia. “Mas acredito que quem assumir vai pegar uma empresa muito melhor para administrar.” Entre os cotados para ocupar a cadeira do septuagenário Galeazzi, pontifica o nome de Pedro Faria, 39 anos, ex-CEO do fundo Tarpon, um dos artífices da derrubada da antiga direção da BRF e da entrada de Diniz, atualmente lotado na presidência de operações internacionais da companhia. Os números mostram que o desempenho de Galeazzi à frente da BRF foi bom.

Somente com os ganhos resultantes da sinergia entre Sadia e Perdigão o executivo economizou R$ 2 bilhões. A empresa fechou o segundo trimestre deste ano com alta de 28% no lucro, que chegou a R$ 267 milhões. Já a dívida líquida caiu 25%, para R$ 5,1 bilhões. Ao mesmo tempo, teve de enfrentar internamente a concorrência da Seara, que se tornou um adversário de respeito desde sua venda pela Marfrig à JBS, dos irmãos Wesley e Joesley Batista. A questão, agora, é qual direção a BRF deve tomar. Ao que tudo indica, boa parte do trabalho de Galeazzi será mantida.

Faria já mostrou serviço. O executivo chamou a atenção pelo trabalho realizado no Oriente Médio, onde ele elevou as receitas e melhorou a rentabilidade, graças ao aumento das exportações de frango. “Isso é mérito do Galeazzi, que implantou uma cultura e alinhou os discursos dos executivos”, diz De Julio, da Concórdia. Na verdade, se Galeazzi sair antes do inicialmente previsto, Faria, caso emplaque, assumirá a direção da BRF pelo menos um ano depois do que pretendia seu aliado Abilio Diniz. Na época da saída do antigo CEO, José Antônio Fay, o nome do sócio da Tarpon foi apresentado ao Conselho para substituí-lo.

A oposição da Previ, maior acionista da BRF, adiou a operação. Há a expectativa, por outro lado, de que Faria também traga melhorias às operações da companhia. “Galeazzi sabe cortar custos e recuperar empresas”, afirma Celson Plácido, estrategista da XP Investimentos. “Mas o Faria conhece a operação e é isso que a BRF precisa neste momento.” O bom desempenho das operações internacionais, sob seu comando, dá ainda mais fôlego à sua nomeação.

A participação da receitas externas no faturamento de R$ 30,5 bilhões da BRF passou de 42,5%, no final de 2013, para 43,6%, em junho deste ano. Ampliar os negócios fora do País é um dos pilares da estratégia traçada por Diniz e Galleazi para a companhia. “O objetivo é equilibrar a receita vinda do mercado interno e internacional”, diz Plácido. Caso Faria não seja mais uma vez o ungido, uma coisa parece certa: o novo CEO virá dos atuais quadros da empresa. “Não faz sentido contratar alguém de fora”, afirma Plácido. “O mercado não aceitaria isso.”