18/11/2022 - 0:10
O governo eleito ainda nem tomou posse, mas já é possível dizer que mudou consideravelmente o humor e as impressões da comunidade internacional em relação ao Brasil, que vinha sendo tratado como pária pelo mundo diante das estripulias do capitão e que, ao que tudo indica, começa a resgatar seu prestígio e espaço no concerto das nações. Bastou a troca de guarda para tanto. A simples vitória do petista Lula, em outros tempos apontado como “o cara!” pelo ex-presidente norte-americano Barack Obama, explica a proeza. Já na primeira semana após a confirmação do seu nome, foram registradas entradas de capital externo recordes, da ordem de US$ 1,8 bilhão. Lula, que havia sido euforicamente saudado por alguns parceiros, como Macron, da França, e Biden, dos EUA, está de novo recebendo pompa e circunstância nos grandes salões. Foi a estrela indiscutível da COP-27, onde reintroduziu os compromissos do País com a causa ambiental, para a felicidade e alívio de todos que já estavam prestes a planejar retaliações aos negócios nacionais por conta dos recordes de desmatamento e de queimadas verificados durante a era Bolsonaro e que não eram, sequer, alvo de medidas reativas por parte do governante. Lula pensa diferente e sabe que essa é uma moeda de troca valiosa. E ele pretende usá-la, até como senha para incremento das relações multilaterais. Estava no seu plano de governo e nos discursos de campanha a meta de contar com o apoio internacional — das mais variadas maneiras — para dar estofo ao seu terceiro mandato. Lula, que foi recebido na COP-27 por John Kerry, enviado dos EUA para o clima, quer ter o aval da comunidade estrangeira como instrumento para atuar com margem de manobra até na correlação de forças com os demais poderes. Nesse sentido, a projeção brasileira dentro do clube do Brics é tida como estratégica. O rumo desse bloco dos emergentes está, de fato, prestes a mudar. Existe a intenção de ampliar o seu tamanho, segundo proposta da China, que tem o endosso e interesse do próprio Lula, que trabalha no mesmo sentido. Na visão do futuro mandatário, o crescimento da relevância do Brics dará, por tabela, um peso de importância significativamente maior ao Brasil. Diante das tensões geopolíticas, a partir da guerra promovida pela Rússia na Ucrânia, e do prenúncio de recessão generalizada, novos destinos estão sendo buscados para o capital que ficou órfão de portos seguros. No Brics estão, além do Brasil, Rússia e China, a Índia e a África do Sul. O bloco representa, por si só, cerca de 40% da população global — leia-se consumidores em potencial —, responde por 25% do Produto Interno Bruto e mais de 20% do movimento do comércio mundial. Suas reservas somam a expressiva quantia de US$ 4 trilhões e o Brasil tem chances de se posicionar na liderança, ainda mais após o advento do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), sediado em Xangai, que é presidido hoje justamente pelo brasileiro Marcos Troyjo. Além do Brics, Lula almeja garantir espaço externo significativo a partir da confirmação da entrada do Brasil com cadeira cativa na comissão da OCDE e, quiçá, também no Conselho de Segurança da ONU. São ambiciosas metas, mas o demiurgo de Garanhuns se acha capaz de cumprir todas elas nos próximos quatro anos.
Carlos José Marques
Diretor editorial