18/11/2016 - 20:00
Desde o anúncio do programa de desinvestimentos da Petrobras, em julho do ano passado, para reforçar em US$ 19,5 bilhões o caixa da endividada estatal, o mercado aguardava com ansiedade quem levaria a Liquigás, sua distribuidora de gás liquefeito de petróleo (GLP), o tradicional gás de botijão. Considerado um dos ativos mais cobiçados do portfólio da petrolífera brasileira, especulava-se que grupos internacionais pudessem arrematar a empresa. Na quinta-feira 17, o destino dela foi definido. A Ultrapar, controladora da rede de postos Ipiranga e da Ultragaz, anunciou a compra da concorrente por R$ 2,8 bilhões.
Com a aquisição, a Ultragaz, que detém 23,7% do mercado, passará a ter 45,6%, muito à frente dos rivais Supergasbrás, com 20,5%, Nacional Gás, com 19,2%, e Copagaz, que responde por 8,1% do segmento. “Como o gás encanado não é algo comum nas casas dos brasileiros, faz sentido investir em distribuição de botijões GLP”, diz João Zuñeda, presidente da consultoria Maxiquim. De acordo com o último dado do IBGE, de 1999, o Brasil possui apenas 1,97% de casas com gás encanado. O negócio é, de fato, atraente para a Ultrapar. A fusão das duas empresas, no entanto, ainda depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Ouvida pela DINHEIRO, uma das concorrentes afirmou que pressionará o órgão antitruste a rejeitar o negócio, dada a grande concentração de mercado que Liquigás e Ultragaz terão juntas. O próprio CEO da Ultrapar, Thilo Mannhardt, reconheceu que uma intervenção do órgão é inevitável. “É óbvio que esse caso vai demandar muita atenção do Cade”, afirmou o executivo, em teleconferência com analistas, na sexta-feira 11, quando já se ventilava a possibilidade da transação. O mercado avaliou como positiva para as duas companhias a concretização do negócio.
No caso da Petrobras, evidencia a posição do presidente Pedro Parente de equilibrar as finanças da estatal, que já conseguiu US$ 9 bilhões entre cortes de custos e vendas de ativos. Já no lado da Ultrapar, revela o apetite do grupo para compras neste ano. Trata-se do terceiro grande negócio em 2016, após a aquisição da rede de postos de combustíveis Ale, por R$ 2,17 bilhões, a da parceria em lubrificantes com a gigante americana Chevron. “Confirmando a aquisição da Liquigás, o nível de alavancagem da Ultrapar vai para cerca de duas vezes o Ebitda, um nível considerado baixo”, diz Gustavo Allevato, analista do Santander.
Para especialistas, a compra da Liquigás representa o foco cada vez maior na distribuição adotado pela Ultrapar, dona de uma receita de R$ 76 bilhões. A Ultragaz se consolida como o segundo maior faturamento do grupo, que foi de R$ 4,6 bilhões em 2015, atrás apenas dos postos Ipiranga. Outra análise feita é que, mesmo com o eventual fatiamento da Liquigás, a Ultrapar terá poder de crescer as suas margens no negócio. “O poder de mercado dela aumentará, o que torna provável um aumento dos preços”, diz Phillip Soares, analista da Ativa Investimentos.