Na segunda-feira, 2 de abril, o executivo brasileiro Issao Mizoguchi, 52 anos, nascido em São Bernardo do Campo, filho de pai japonês e mãe brasileira, iniciará mais um dia de expediente na sede da Honda, um prédio de quatro andares localizado no Morumbi, na zona sul de São Paulo. Não será um dia qualquer. Assim que iniciar suas atividades, Mizoguchi estará entrando para a história da companhia por ser o primeiro não japonês a presidir uma subsidiária do grupo Honda no mundo. Apesar de toda a simbologia desse fato, Mizoguchi pilotará a marca da mesma mesa na qual, desde 2009, comanda as vendas da empresa. Além de presidir a fabricante de motocicletas Moto Honda da Amazônia, ele também ocupará a vice-presidência do grupo na América do Sul. 

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Mizoguchi: ”Vou preparar outro sucessor brasileiro desde meu primeiro dia de trabalho”.

 

“Meu maior foco é a divisão de motos”, disse Mizoguchi à DINHEIRO. Simpático e de fala mansa, Mizoguchi se mostra contido, como a maioria dos japoneses, quando questionado sobre seu plano estratégico. “Queremos continuar alinhados aos desejos dos consumidores”, diz. “Os resultados serão apenas fruto desse trabalho.” De acordo com analistas, a nomeação de Mizoguchi é um sinal da importância do Brasil para a companhia. “A posse do executivo pode ser encarada como uma medida para acelerar a reação da marca no País”, diz Valdner Papa, coordenador do curso de gestão de concessionárias da Trevisan Escola de Negócios. 

 

De fato, o executivo assume o posto em um momento em que a divisão de automóveis e a de motocicletas estão perdendo participação de mercado. Na década de 1990, de cada 100 motos vendidas no Brasil, 92 tinham estampado o logotipo da montadora japonesa. Nos últimos dez anos, contudo, sua fatia encolheu. Hoje, ela detém 79,5% do setor. “Minha responsabilidade é manter nosso domínio na casa dos 80%”, diz Mizoguchi. Para isso, o executivo aposta na extensão da tecnologia bicombustível. Atualmente, apenas quatro dos 20 modelos comercializados pela Honda são flex, mas eles já representam 60% do total de vendas da marca no País. Outra carta que Mizoguchi tem na manga é o domínio no nicho de motos com motores acima de 450 cilindradas, da qual possui uma fatia de 23%. 

 

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Referência: a fábrica de Manaus é a mais produtiva do grupo.

 

Para esse consumidor, o executivo criou o serviço Honda Dream. Ele funciona como um espaço exclusivo dentro de uma revenda convencional, mas que conta com funcionários treinados para lidar com consumidores mais exigentes. Esse formato está presente em 73 dos 1.177 pontos de venda. O objetivo é fechar 2012 com, pelo menos, 100 revendas da bandeira Honda Dream. Como conselheiro do grupo Honda na América do Sul, Mizoguchi também pretende ajudar a subsidiária de automóveis a retomar a rota do crescimento no Brasil. A marca foi a oitava mais vendida em 2011, emplacando 92,8 mil automóveis e comerciais leves, um resultado decepcionante para quem comercializara 126,4 mil unidades em 2010, quando ocupava a sexta posição do mercado. 

 

Nesse intervalo, foi ultrapassada pela coreana Hyundai e pela japonesa Toyota. De acordo com ele, a marca teve de tirar o pé do acelerador, pois sofreu desabastecimento de peças em razão do terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão em março de 2011. A montadora aposta que conseguirá se recuperar com a recente atualização de visual do sedã Civic, da minivan Fit e do utilitário CR-V.

Para dar conta dessas tarefas, o executivo usará da ampla experiência amealhada ao longo de seus 28 anos de carreira na companhia. Formado em engenharia mecânica de produção pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), Mizoguchi ingressou na Honda em 1984. 

 

Seu principal mérito foi ter ajudado a consolidar a fábrica de motocicletas de Manaus, a mais produtiva do grupo no mundo. “Ele é uma pessoa superacessível, que tem a simpatia de todos e, ao mesmo tempo, é muito respeitado pelos japoneses”, diz um funcionário da montadora. Se depender de Mizoguchi, sua nomeação pode ser considerada uma porta aberta dentro da Honda. “Gostaria muito de passar o bastão a outro brasileiro quando decidir me aposentar”, afirma. “Trabalharei desde o primeiro dia já pensando em preparar o meu sucessor.”

 

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