A agenda do empresário Carlos Wizard Martins estava atribulada na semana passada. Seu primeiro destino era uma rodada de conversas com investidores em Nova York, seguindo depois para a Costa Rica, onde inauguraria a primeira unidade da escola de idiomas cuja marca leva no próprio nome. Fundada há exatos 25 anos, em Campinas, a Wizard tornou-se ponta de lança de uma operação bem maior, a Multi Holding, cuja presença chega até a China e, desde 2005, vem acumulando aquisições de redes de ensino, como Skill, SOS Computadores e Bit Company. A reportagem “O professor ficou bilionário”, publicada pela DINHEIRO em novembro de 2010, dava a dimensão do grupo de Martins, que acabara de receber um aporte estimado de R$ 200 milhões do fundo Kinea, do banco Itaú. 

 

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Martins, do grupo Multi: ”Nosso próximo passo é estruturar a holding

para a abertura de capital”.

 

Uma semana depois, a Multi compraria o Yázigi, por um valor estimado pelo mercado em R$ 100 milhões. “Nosso próximo passo é estruturar a holding para a abertura de capital”, afirma o professor, que responde hoje por uma rede de mais 1,1 mil escolas e faturamento de R$ 3 bilhões no ano passado. A história da Multi reflete bem a velocidade de expansão das franquias no Brasil. Neste ano, a atividade irá ultrapassar a barreira dos R$ 100 bilhões em receita bruta, equivalente à receita líquida obtida pela Vale, em 2011. São mais de duas mil marcas, 100 delas estrangeiras, fazendo do País o quarto maior mercado mundial, colado na Coreia do Sul, nos Estados Unidos e na China. 

 

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No início, o negócio era sinônimo de lanchonetes do McDonald’s, mas hoje quem brilha, mesmo, são as empresas brasileiras. O Boticário, comandado por Artur Grynbaum, segue como líder nacional, com 3,2 mil unidades e faturamento próximo a R$ 6,5 bilhões em 2012. “Desde 2008 abrimos mais de 200 lojas por ano”, diz Osvaldo Moscon, diretor de franquias do Boticário. “Em 2012, serão mais 250.” A maturidade do mercado está permitindo a formação de grandes grupos, com modelos de gestão sofisticados e escala global. É o caso da rede de livrarias Nobel, um negócio familiar que aos poucos incorporou diversas marcas, formando o primeiro fundo de investimento independente do ramo, o Franchising Ventures. 

 

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Grynbaum, o CEO: O Boticário tem aberto mais de 200 lojas por ano no Brasil.

 

Dono de 80% do grupo Brasil Franchising, o fundo gerencia a Sapataria do Futuro, Café Donuts, Zastras Brinquedos e Franquia Imóveis, entre outras redes, com unidades que vão da Espanha a Angola. “Temos crescido uma média de 20%, incorporando pelo menos uma marca a cada ano”, diz o fundador Sérgio Milano Benclowicz. “Dentro de mais algum tempo teremos porte para concretizar o plano de abrir capital.” Os empresários brasileiros de sucesso têm em comum mais visão de negócios do que fortunas para investir. Aos 17 anos, Alexandre Costa pegou US$ 500 emprestados do tio para reativar a marca Cacau Show, que a mãe usava como vendedora de porta em porta. Foram 15 anos fornecendo chocolates para o pequeno comércio e grandes supermercados até que o empreendedor paulistano optasse por abrir a própria rede. 

 

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Lanchonetes: redes de fast-food, como o McDonald’s,

eram uma das poucas opções de franquia nos anos 1990.

 

“Criamos um modelo que não existia, entre os produtos commoditizados da indústria e as marcas artesanais para o consumidor de alto poder aquisitivo”, diz Costa, que hoje possui cinco fábricas, 1,2 mil lojas franqueadas e faturamento previsto de R$ 1,5 bilhão, em 2012. Outro fator que tem favorecido a expansão das franquias é a redução do valor inicial de investimento. Embora o gasto médio gire em torno de R$ 250 mil , é possível abrir um ponto com até R$ 7 mil. Essa é a grande aposta do grupo Zaiom, que surfa na onda das microfranquias, com as redes Tutores (reforço escolar), Home Angel (cuidado de idosos), entre outras franquias. Aberto em 2008, o negócio já soma quase 500 unidades e deve faturar R$ 40 milhões em 2012. “Esse modelo transforma trabalhadores, muitos na informalidade, em verdadeiros empresários”, diz o fundador do Zaiom Artur Hipólito.

 

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