14/11/2012 - 21:00
Em um banco de sêmen, os negócios começam à temperatura de menos 196 graus Celsius. Dentro de tanques de nitrogênio líquido que se mantêm sob esse frio inimaginável para um ser humano, está a atividade de uma empresa especializada em criar vida. Trata-se da paulista Pro-Seed, único banco de sêmen brasileiro, responsável por atender os casais com dificuldades para procriar devido à infertilidade masculina. O material, coletado de doadores anônimos com as mais diversas características físicas – altos, baixos, de pele clara, escura, asiáticos e dos diferentes tipos sanguíneos –, abastece cerca de 250 médicos e clínicas especializadas em reprodução humana espalhadas pelo Brasil.
O mercado de bancos de sêmen movimenta US$ 150 milhões no mundo.
Cada amostra coletada, selecionada e armazenada custa de R$ 1,5 mil a R$ 2,5 mil no Brasil
Sem ele, todo esse mercado, que movimenta R$ 300 milhões ao ano no País, teria dificuldades de operar. É uma demanda ininterrupta. “Todo dia recebemos pedidos para cinco casais e a cada duas semanas aparece um médico novo especializado em reprodução”, diz a veterinária Vera Beatriz Fehér Brand, fundadora e diretora do Pro-Seed, que resolveu criar o negócio quando o Hospital Albert Einstein, de São Paulo, fechou o seu banco de sêmen em 2007, e sugeriu que ela assumisse os seus clientes. “É um negócio em expansão.” Com essa demanda, a empresa fatura pouco mais de R$ 1,5 milhão ao ano. Se não é um faturamento que cause inveja a um hospital ou plano de saúde, também não faz feio frente aos maiores do seu nicho de atuação.
O maior banco de sêmen do mundo, o americano California Cryobank, tem receita de US$ 23 milhões ao ano. Globalmente, esse mercado movimenta em torno de US$ 150 milhões por ano. Os Estados Unidos ficam com a maior fatia desses recursos e suas empresas exportam sêmen para 60 países. A Organização Mundial da Saúde estima que existam no mundo cerca de 100 milhões de casais inférteis. Mas, mesmo no Brasil, as expectativas de crescimento são bastante favoráveis. Em apenas três anos, o número de tentativas de gravidez assistida aumentou 50%, para 30 mil ciclos. “As pessoas estão mais bem informadas, a nova classe C tem mais dinheiro e o preço do tratamento caiu”, diz Artur Dzik, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
A veterinária Vera Fehér fundou a Pro-Feed, após o fim do banco do Hospital Albert Einstein
Casais homossexuais de mulheres e as solteiras estão também mais dispostos a recorrer à fertilização. No Pro-Seed, eles representavam menos de 5% dos negócios há apenas seis anos. Hoje, superam 30% dos casos. Há, ainda, o interesse de muitos homens que vão passar por terapias com alta possibilidade de deixá-los inférteis – como quimioterapia e radioterapia – optarem por congelar o próprio sêmen, como segurança para o caso de desejarem ter filhos no futuro. O mundo moderno também tem colaborado para aumentar o número de casais inférteis. De 10% a 15% dos casais entre 16 e 38 anos de idade sofrem desse mal. O estresse, a má alimentação e o consumo de drogas são fatores que prejudicam a produção de espermatozoides.
Um dos empecilhos para que o negócio do sêmen expanda-se ainda mais no Brasil é a sua severa regulação. Nos Estados Unidos, as empresas podem pagar aos doadores, o que aumenta o volume de candidatos. Jovens universitários aproveitam para incrementar as suas rendas dessa forma. No País, o fornecimento de sêmen pago é proibido. “Contamos com os homens adultos conscientes e altruístas”, afirma Vera. A Pro-Seed ganha dinheiro cobrando dos clientes o serviço de armazenagem do sêmen em tanques de nitrogênio ou pelo trabalho de descongelamento e isolamento dos melhores espermatozoides. O custo pode variar de R$ 1,5 mil a 2,5 mil. Essa é só uma parcela dos gastos de uma gravidez assistida, que pode variar de R$ 5 mil a R$ 20 mil.