06/05/2022 - 0:15
Muitos ainda se lembram da famosa frase do ex-senador Romero Jucá durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Roussef. Ela retrata como as relações entre os Poderes da República funcionam desde sempre no Brasil. Agora, com as instituições ameaçadas pelos arroubos aqntidenocráticos do presidente Jair Bolsonaro, a ideia de um grande acordo nacional com o Supremo, com tudo, ganha outro sentido. Explico. Tudo começa com Bolsonaro descendo o verbo nos ministros do Supremo. Até aí, nada de novo. Para mostrar unidade, os ministros se juntam em um almoço de aniversário do presidente da Corte, Luiz Fux (foto). Sem o efeito esperado (que era mostrar a solidez da corte), o jeito foi se aproximar publicamente dos líderes de outros Poderes. Primeiro, Fux marcou uma agenda com o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na intenção de que o Senado participe do caso Daniel Silveira (deputado que recebeu indulto de Bolsonaro para não ser preso). O presidente do STF também marcou horário com o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para falar do importante papel das Forças Armadas na segurança das eleições. O que Fux não esperava é que Bolsonaro tivesse aprendido a dominar a arte da obstrução. O chefe do executivo garantiu que tanto Pacheco quanto Nogueira se encontrassem com ele (fora da agenda) antes de seguir para o encontro com o ministro do Supremo. O que disse Bolsonaro a cada um deles? Provavelnente, para que nem o Senado e nem a Defesa façam um grande acordo com o Supremo.
ROE VS. WADE
Como nossos pais

Em 1973 Norma McCorvey, que ficou conhecida pelo pseudônimo de Jane Roe, foi a responsável por derrubar no Texas a lei que tornava o aborto um crime. Em um julgamento histórico, que terminou na Suprema Corte, Roe bateu o argumento do promotor de Dallas, Henry Wade. E garantiu às mulheres liberdade de decisão em sua vida privada (desde que atendendo algumas diretrizes e leis estaduais). E foi assim por quase 50 anos. Até que um relatório vazado pelo site Politico.com revelou a versão, ainda não divulgada oficialmente, de um rascunho do relatório do ministro Samuel Alito. No texto, o juiz afirma que há maioria na Corte para derrubar a antiga decisão. A informação bastou para que mulheres fossem às ruas nos Estados Unidos pela manutenção do direito, fazendo jus às palavras de Belchior, imortalizadas por Elis Regina “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.
DIPLOMACIA
Fora do clubinho

Em junho deste ano será realizado, pela primeira vez depois de dois anos, um encontro presencial entre as lideranças do G7. O evento, agendado para ocorrer em Berlim, jogou na Alemanha a responsabilidade de escolher países emergentes para estarem no encontro e tratarem de modo conjunto os caminhos do mundo e das relações globais. Foram enviados convites para África do Sul, Índia, Indonésia e Senegal. Faltou alguém?
DIPLOMACIA II
Fora da eleição
Durante o período eleitoral, é praxe nas democracias que se convidem representanrtes de países estrangeiros para ver tudo de perto. O Brasil é referência no uso de urna eletrônica e na logística do voto, dado o seu tamanho continental, o que acaba despertando interesse de outros líderes mundiais. Na eleição de 2018, cerca de 15 países estiveram por aqui para acompanhar o processo. Em 2014 foram 21, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Ninguém virá este ano. O TSE até convidou líderes europeus para conferir a lisura do sistema de votação. Mas, por pressão do governo federal, precisou retirar os convites. Diplomatas europeus afirmaram que essa negativa mostra a dificuldade do Judiciário em manter sua independência. O Itamaraty confirmou que os convites foram feitos — e desfeitos.

“Ele quer tirar o poder do presidente para que o poder fique na Câmara dos Deputados e ele aja como se fosse o imperador do Japão” Ex-presidente Lula (PT), sobre a postura do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)
POLÍTICA
O fôlego dos últimos metros
No atletismo é comum dizer que vence o atleta que controla o ritmo na maior parte do percurso para ter condições de dar um pique nos metros antes da linha de chegada. Pois bem, na eleição também é assim. E a última sondagem de intenção de voto do Instituto Paraná mostra que Bolsonaro está mais perto do que nunca do ex-presidente Lula. Na pesquisa espontânea (sem apresentar o nome dos candidatos) Lula aparece com 27,6 % das intenções contra 25,2% de Bolsonaro. Com apresentação dos candidatos, Lula ficou com 40% e Bolsonaro com 35,2% — a menor diferença relatada até agora. Em entrevista no dia 4, Lula afirmou “estar tranquilo” com a margem. Segundo petista, Bolsonaro cresceu 3 ou 4 pontos com a desistência de Sérgio Moro, e isso era esperado. E são esses pontos que podem garantir aquele fôlego final que no atletismo faz o campeão mudar no último segundo.
RADAR PARA FICAR DE OLHO
0,34% foi a alta do IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, em fevereiro. A cifra é maior que a de janeiro (0,33%), mas inferior à expectativa de analistas (0,50%)
R$ 3,4 bilhões foi o superávit primário do governo central em fevereiro, no melhor resultado desde 2012, e revertendo o déficit de R$ 11,7 bilhões de fevereiro de 2021.
7,89% é o patamar da mediana do IPCA mensurado pelo mercado no dia 2 de maio, revela o Focus. O resultado fica acima dos 7,65% da semana anterior e muito distante da meta (5%)