Muitos ainda se lembram da famosa frase do ex-senador Romero Jucá durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Roussef. Ela retrata como as relações entre os Poderes da República funcionam desde sempre no Brasil. Agora, com as instituições ameaçadas pelos arroubos aqntidenocráticos do presidente Jair Bolsonaro, a ideia de um grande acordo nacional com o Supremo, com tudo, ganha outro sentido. Explico. Tudo começa com Bolsonaro descendo o verbo nos ministros do Supremo. Até aí, nada de novo. Para mostrar unidade, os ministros se juntam em um almoço de aniversário do presidente da Corte, Luiz Fux (foto). Sem o efeito esperado (que era mostrar a solidez da corte), o jeito foi se aproximar publicamente dos líderes de outros Poderes. Primeiro, Fux marcou uma agenda com o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na intenção de que o Senado participe do caso Daniel Silveira (deputado que recebeu indulto de Bolsonaro para não ser preso). O presidente do STF também marcou horário com o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para falar do importante papel das Forças Armadas na segurança das eleições. O que Fux não esperava é que Bolsonaro tivesse aprendido a dominar a arte da obstrução. O chefe do executivo garantiu que tanto Pacheco quanto Nogueira se encontrassem com ele (fora da agenda) antes de seguir para o encontro com o ministro do Supremo. O que disse Bolsonaro a cada um deles? Provavelnente, para que nem o Senado e nem a Defesa façam um grande acordo com o Supremo.

ROE VS. WADE
Como nossos pais

Greg Gibson

Em 1973 Norma McCorvey, que ficou conhecida pelo pseudônimo de Jane Roe, foi a responsável por derrubar no Texas a lei que tornava o aborto um crime. Em um julgamento histórico, que terminou na Suprema Corte, Roe bateu o argumento do promotor de Dallas, Henry Wade. E garantiu às mulheres liberdade de decisão em sua vida privada (desde que atendendo algumas diretrizes e leis estaduais). E foi assim por quase 50 anos. Até que um relatório vazado pelo site Politico.com revelou a versão, ainda não divulgada oficialmente, de um rascunho do relatório do ministro Samuel Alito. No texto, o juiz afirma que há maioria na Corte para derrubar a antiga decisão. A informação bastou para que mulheres fossem às ruas nos Estados Unidos pela manutenção do direito, fazendo jus às palavras de Belchior, imortalizadas por Elis Regina “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

DIPLOMACIA
Fora do clubinho

Evaristo Sa

Em junho deste ano será realizado, pela primeira vez depois de dois anos, um encontro presencial entre as lideranças do G7. O evento, agendado para ocorrer em Berlim, jogou na Alemanha a responsabilidade de escolher países emergentes para estarem no encontro e tratarem de modo conjunto os caminhos do mundo e das relações globais. Foram enviados convites para África do Sul, Índia, Indonésia e Senegal. Faltou alguém?

DIPLOMACIA II
Fora da eleição

Durante o período eleitoral, é praxe nas democracias que se convidem representanrtes de países estrangeiros para ver tudo de perto. O Brasil é referência no uso de urna eletrônica e na logística do voto, dado o seu tamanho continental, o que acaba despertando interesse de outros líderes mundiais. Na eleição de 2018, cerca de 15 países estiveram por aqui para acompanhar o processo. Em 2014 foram 21, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Ninguém virá este ano. O TSE até convidou líderes europeus para conferir a lisura do sistema de votação. Mas, por pressão do governo federal, precisou retirar os convites. Diplomatas europeus afirmaram que essa negativa mostra a dificuldade do Judiciário em manter sua independência. O Itamaraty confirmou que os convites foram feitos ­­— e desfeitos.

Ricardo Stuckert

“Ele quer tirar o poder do presidente para que o poder fique na Câmara dos Deputados e ele aja como se fosse o imperador do Japão” Ex-presidente Lula (PT), sobre a postura do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)

POLÍTICA
O fôlego dos últimos metros

No atletismo é comum dizer que vence o atleta que controla o ritmo na maior parte do percurso para ter condições de dar um pique nos metros antes da linha de chegada. Pois bem, na eleição também é assim. E a última sondagem de intenção de voto do Instituto Paraná mostra que Bolsonaro está mais perto do que nunca do ex-presidente Lula. Na pesquisa espontânea (sem apresentar o nome dos candidatos) Lula aparece com 27,6 % das intenções contra 25,2% de Bolsonaro. Com apresentação dos candidatos, Lula ficou com 40% e Bolsonaro com 35,2% — a menor diferença relatada até agora. Em entrevista no dia 4, Lula afirmou “estar tranquilo” com a margem. Segundo petista, Bolsonaro cresceu 3 ou 4 pontos com a desistência de Sérgio Moro, e isso era esperado. E são esses pontos que podem garantir aquele fôlego final que no atletismo faz o campeão mudar no último segundo.

RADAR PARA FICAR DE OLHO

0,34% foi a alta do IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, em fevereiro. A cifra é maior que a de janeiro (0,33%), mas inferior à expectativa de analistas (0,50%)

R$ 3,4 bilhões foi o superávit primário do governo central em fevereiro, no melhor resultado desde 2012, e revertendo o déficit de R$ 11,7 bilhões de fevereiro de 2021.

7,89% é o patamar da mediana do IPCA mensurado pelo mercado no dia 2 de maio, revela o Focus. O resultado fica acima dos 7,65% da semana anterior e muito distante da meta (5%)