19/12/2012 - 21:00
Enterrado na areia com uma caixa de papelão na cabeça, de modo apenas que pudesse respirar. É assim que o milionário inglês John McAfee, 67 anos, criador da empresa de antivírus que leva seu sobrenome, afirma ter se escondido por horas enquanto a polícia revistava sua casa na tarde de 11 de novembro deste ano. “Foi extremamente desconfortável”, disse McAfee, em uma entrevista por telefone na manhã do dia seguinte ao site da revista americana Wired. “Mas eles iriam me matar se me encontrassem.” Pitoresca, a cena foi apenas o primeiro capítulo de uma novela cujos desdobramentos se tornam, a cada dia, mais estranhos e, por vezes, surreais.
John McAfee, fundador da McAfee: ”blogar na cadeia deve
ser revolucionário. Vamos ver se isso pega”
A história começou quando, suspeito de envolvimento na morte de um vizinho e desafeto, McAfee – que não tem mais ligação com a empresa de antivírus desde que vendeu suas últimas ações, em 1994 –, fugiu da polícia. O curioso é que, em vez de viver no anonimato, ele decidiu não apenas manter contato constante com a imprensa como criou um blog para contar suas peripécias. Nele, McAfee se diz inocente e afirma ser perseguido pelas autoridades – corruptas, segundo ele – de Belize, na América Central, onde vive desde 2008, quando comprou um terreno que havia encontrado por meio do Google Earth. “Não quero soar indelicado, mas McAfee parece estar extremamente paranoico. Eu diria até mesmo maluco”, afirmou à Reuters Dean Barrow, primeiro-ministro de Belize.
“Ele tem de se comportar como um homem, respeitar nossas leis e falar com a polícia.” Conversar com as autoridades foi algo que McAfee evitou a todo custo. Em seu blog, porém, ele solta o verbo. Por meio dele, o empresário se diz vítima de uma armação. Para completar, McAfee ofereceu, também via blog, US$ 25 mil para quem localizar os “verdadeiros assassinos” do vizinho. E ainda encontrou tempo para financiar a produção de uma história em quadrinhos sobre sua vida. Uma das primeiras imagens divulgadas da HQ, que está sendo feita pelo desenhista americano Chad Essley, mostra McAfee dormindo enquanto Amy Emshwiller, uma prostituta de 17 anos, aponta uma arma para sua cabeça.
Aventura polêmica: tirinha mostra prostituta de 17 anos apontando uma arma para McAffe
No dia 5 de dezembro, McAfee foi, enfim, detido pela polícia da Cidade da Guatemala, para onde havia fugido com Sam Venegas, sua namorada de 20 anos. A prisão aconteceu depois que a revista americana Vice publicou em seu site uma foto de seu editor-chefe ao lado de McAfee. O título da nota: “Estamos com John McAfee neste exato momento, otários”. O detalhe – nem tão esperto assim – é que a foto, tirada com um iPhone 4S, incluiu automaticamente dados de geolocalização, função comum em smartphones e possível de ser desativada. O descuido acabou por entregar o ouro aos agentes da lei. Preso, McAfee surpreendeu mais uma vez, ao continuar atualizando seu blog. “Blogar de dentro da cadeia deve ser uma atividade revolucionária”, escreveu.
“Vamos ver se isso pega.” Na quarta-feira 12 um tribunal guatemalteco decidiu extraditá-lo para os Estados Unidos, país em que ele vivia antes de se mudar para Belize. Com um roteiro repleto de esquisitices e polêmicas, as aventuras de McAfee devem incomodar a companhia de antivírus que criou, ainda que ela não mantenha, há décadas, mais nenhuma ligação com o seu fundador. Procurada pela DINHEIRO, a empresa não se pronunciou sobre o assunto. O fato é que, com tantas surpresas e ingredientes típicos de um thriller hollywoodiano, é difícil prever qual será o destino final do empresário fanfarrão. Seja qual for, no entanto, sua saga tem todos os elementos para acabar nas salas de cinemas. Os direitos sobre sua história rocambolesca, não por acaso, já foram adquiridos por uma produtora canadense.