Uma dívida de R$ 70 milhões, a intervenção da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), desde janeiro deste ano, e a dificuldade em encontrar um sucessor teriam sido os motivos que levaram o presidente da Samcil, Luiz Roberto Silveira Pinto,  a tomar a atitude extrema de pôr fim à própria vida, aos 74 anos de idade. O corpo do médico e empresário, um dos pioneiros na área de planos de saúde – a Samcil foi fundada em 1960 – foi encontrado na tarde da segunda-feira 4, em seu escritório. 

Silveira Pinto despachava em um de seus quatro hospitais, o Panamericano, no bairro do Alto de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. A hipótese de suicídio foi a primeira levantada pela polícia, que encontrou um revólver calibre 38 ao lado do corpo do médico. “Acho estranha essa atitude porque ele tem um patrimônio muito maior do que a dívida do grupo”, afirma o médico Paulo de Luna Pinheiro, amigo de Silveira Pinto.

 

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A morte do empresário surpreendeu outras pessoas próximas a ele. Embora capitaneasse uma companhia em sérias dificuldades financeiras, o médico, formado pela Escola Paulista de Medicina, estava acostumado desde cedo a lidar com a adversidade. A primeira experiência, inclusive, aconteceu quando ele tinha apenas 11 anos. 

 

Após a falência do pai, um industrial da cidade de Taubaté, no interior do Estado, na década de 1940, a família passou por inúmeras privações. “Meu pai não resistiu à crise do País após o final da Segunda Guerra Mundial”, disse Silveira Pinto,  em 2009, quando recebeu o título de Cidadão Taubateano. “Sua empresa fechou em 1947 e ele nunca mais se recuperou. 

 

Esse acontecimento foi um divisor de águas na história da minha família.” Após o episódio, o empresário morou durante a adolescência na casa dos tios e começou a trabalhar aos 13 anos. Estudou graças a bolsas de estudo e graduou-se em medicina em 1960, quando fundou a Samcil. 

 

Silveira Pinto levou sua empresa a ser o segundo maior plano de saúde do mundo, na década de 1970, apenas dez anos depois de fechar seu primeiro contrato de peso, com a Rede Record. De acordo com informações da própria empresa, o plano de saúde chegou a ter 700 mil associados e nove centros médicos, o que fez dela uma operadora de grande porte, segundo os parâmetros da ANS. 

 

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Ativo fixo: Hospital Panamericano, em São Paulo, onde Silveira Pinto trabalhava,

O empresário pretendia vender outras unidades

 

Em 2009, o médico lançou ações da Samcil na bolsa, numa tentativa de capitaliza-la. Recomprou as ações pouco tempo depois. A gestão da companhia vinha se mostrando problemática.  A última tentativa de profissionalização, em 2010, não deu certo e Silveira Pinto voltou ao comando da empresa. 

 

Desde janeiro, ele despachava acompanhado de um fiscal da ANS, que teria encontrado “inconsistências econômicas e financeiras” na administração da Samcil.  O que provocou a intervenção da agência foi o último balanço trimestral da companhia. “A empresa já vinha em dificuldades financeiras nos últimos dois anos”, diz uma fonte familiarizada com a situação da Samcil. 

 

A saída encontrada por Silveira Pinto para tentar resolver o endividamento foi se desfazer de parte do patrimônio. Há menos de um mês, Silveira Pinto colocou três hospitais à venda, o Santa Marta, localizado na zona sul de São Paulo, o Santo André e o Jardim, ambos na região do ABC paulista. Sua expectativa era le-vantar cerca de R$ 130 milhões. 

 

“Eles investiram muito dinheiro em hospitais e acabaram ficando sem liquidez porque não se vende um hospital de uma hora para a outra”, afirma Carlos Suslik, professor do MBA executivo em gestão de saúde do Insper. “Talvez ele não tenha tido tempo de executar essa estratégia porque não é fácil trabalhar sob intervenção”, diz o amigo Luna Pinheiro. “Eles impõem metas extremamente rigorosas que parecem impossíveis de cumprir.” 

 

Não era só o endividamento que preocupava o empresário. Segundo uma fonte do setor, o faturamento do grupo teria caído pela metade nos últimos anos. Em consequência, a prestação de serviços aos associados também começou a se deteriorar. Na última semana, pacientes com exames médicos agendados para um laboratório na avenida Angélica, região central da capital paulista,  eram orientados a procurar um laboratório localizado na Vila Carrão, na zona leste da cidade, a 15 quilômetros de distância. Procurada pela DINHEIRO, a Samcil  não se manifestou até o fechamento desta edição. 

 

O empresário tinha duas filhas e um filho, Luiz Roberto Horst Silveira Pinto, que nunca havia manifestado interesse em assumir a Samcil. No entanto, um dia após a morte do pai, ele reuniu a diretoria da empresa e, para surpresa dos presentes, comunicou  que dali para a frente passaria a comandá-la. A grande incógnita, agora, é saber se Luiz Roberto vai conseguir reverter a crítica situação da Samcil. Fontes do setor acreditam que ainda é cedo para vislumbrar o futuro da empresa, que teria perdido mais da metade da carteira de clientes nos dois últimos anos.  

 

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Outro caso de suicídio que chocou o País foi o de Paulo Ferraz, dono do Estaleiro Mauá, no Rio de Janeiro, em 1985. Endividado, Ferraz teve seu nome envolvido no chamado “escândalo da Sunamam”, como foi batizado o superfaturamento de navios financiados pela extinta Superintendência Nacional da Marinha Mercante, no valor de US$ 500 milhões.