Uma revolução silenciosa, mas poderosa, está em curso no mercado de telefonia celular. O corretor de ações Geraldo da Silva Maia, 47 anos, de São Paulo, é um exemplo dessa transformação. Desde 2009, ele divide suas ligações telefônicas entre duas operadoras: a TIM e a Oi. Para diminuir seus gastos com celular e aproveitar melhor as promoções oferecidas pelas empresas, Maia era obrigado a usar dois aparelhos. “Eu gastava R$ 150 e passei a pagar apenas R$ 37 sem ter de reduzir o número de ligações”, diz. Sua situa­ção, contudo, melhorou ainda mais em outubro de 2011, quando comprou um aparelho com dois chips, acabando de vez com o estorvo de ter de carregar dois celulares. 

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Dose tripla: para a Alcatel One Touch, comandada por Marcus Daniel, os modelos com mais

de um chip já representam 10% das vendas.

 

Multiplique esse comportamento num mercado com mais de 200 milhões de assinantes e pronto – os celulares viram armas de longo alcance na guerra de consumo da telefonia brasileira. Segundo levantamento feito pela consultoria alemã GfK, a venda dos celulares conhecidos como multichip cresceu 780% e movimentou R$ 2,7 bilhões, ano passado. Hoje, eles já representam 17% do mercado de telefonia móvel no País. São números expressivos para uma categoria que só foi oficialmente criada em 2008. Antes disso só existiam aparelhos piratas, sem homologação da Anatel, conhecidos jocosamente como xing-ling. “O crescimento da oferta e das vendas de celulares multichip foi um dos maiores destaques do mercado em 2011”, diz Cláudia Bindo, gerente de negócios da GfK. 

 

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“As fabricantes de aparelhos passaram, efetivamente, a investir nesse segmento.” Uma amostra de quanto as marcas vêm apostando nesse nicho é a quantidade de aparelhos lançados no mercado. Somente em 2011 surgiram 80 novos modelos e a lista não para de crescer.Mais recentemente, a nova onda é o aparelho capaz de operar com até três linhas. A Alcatel One Touch, controlada pelo grupo chinês TCL, é uma das que acreditaram nesse filão. Hoje, mais da metade de seu portfólio é formada por telefones multichip e sua maior aposta é o de três chips. “É um sucesso de vendas e já representa 10% de nosso faturamento no País”, afirma Marcus Daniel, CEO da subsidiária da Alcatel. A companhia reinou absoluta até a LG entrar nessa disputa, em fevereiro. 

 

“Pegamos o smartphone mais vendido de nossa linha e introduzimos mais um chip”, afirma Rodrigo Ayres, gerente-geral de estratégias de celular da LG. Diversos fatores contribuíram para que os celulares multichip se consolidassem no País. “A lei de portabilidade de 2009 abriu um leque de oportunidades”, diz Arthur Barrionuevo, professor de telecomunicações da Fundação Getulio Vargas. A primeira fabricante a se aventurar neste mercado foi a coreana Samsung. “Percebemos que havia uma demanda reprimida de consumidores que buscavam celulares de dois chips, mas não estavam dispostos a comprar um aparelho de marcas desconhecidas”, diz Roberto Soboll, diretor de produto da Samsung. A empresa conta com oito modelos com essa tecnologia, vendidos por até R$ 600, e está lançando mais dois aparelhos neste mês. 

 

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Soboll, da Samsung: a companhia coreana foi uma das primeiras a apostar no mercado de multichips.

Hoje, vende oito aparelhos no Brasil. Em breve, lançará mais dois.

 

Outras marcas que também não ficaram de fora desse segmento são as concorrentes Motorola e a Nokia. Se para as grandes a demanda pelos celulares de mais de um chip se mostrou atraente, para as empresas de menor porte transformou-se num trampolim para crescer no País. A italiana Onda Móbile Communication é uma delas. Até 2009, seu negócio no País se limitava à produção de minimodens e roteadores 3G. “Manteremos o foco nos aparelhos de mais de um chip porque acreditamos que esse mercado ainda crescerá muito”, diz Vincenzo Di Giorgio, CEO da Onda Mobile para a América Latina, que se associou à compatriota TIM na produção de celulares. Essa parceria, aliás, foi a primeira grande iniciativa da TIM nesse nicho. “Vemos esse tipo de celular como uma oportunidade de crescer, captando clientes de outras operadoras”, afirma Roger Solé, diretor de marketing da operadora. 

 

Segundo ele, a comercialização desses modelos já representa mais de 10% do total de vendas da  empresa de telefonia. O executivo revela que as estratégias adotadas por conta desses consumidores foram essenciais para a implantação de políticas de preço mais agressivas, que ajudaram a retomar a vice-liderança do mercado de telefonia celular, liderado pela Vivo. Essa tendência também vem revolucionando a maneira como as operadoras se relacionam com os consumidores. “A venda de celulares multichip coroou o cliente como o senhor supremo na hora da escolha”, afirma Ricardo César de Oliveira, diretor de operações e vendas consumo da Claro, controlada pelo grupo mexicano América Móvil. A Vivo é a única operadora que, de acordo com a GfK, ainda não incluiu os aparelhos multichip ao portfólio comercializado em sua rede própria.

 

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