Divórcios são, em geral, caros. Mas nenhum deve ter custado tanto quanto a separação de duas das maiores operadoras de telefonia do mundo. Por US$ 130 bilhões em dinheiro e ações, a americana Verizon comprou a participação de 45% da Verizon Wireless, que pertencia à britânica Vodafone, na segunda-feira 2, assumindo o controle total da maior operadora de telefonia celular dos EUA, com 118 milhões de assinantes e faturamento de US$ 75,9 bilhões no ano passado. É o terceiro maior negócio da história (confira tabela). A transação precisa ainda ser aprovada pelos acionistas de ambas as empresas e por órgãos antitruste dos EUA e da Europa. Analistas preveem que os governos não devem impedir o acordo, uma vez que a Verizon já era a sócia majoritária da Verizon Wireless. 

 

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É também o fim de uma relação turbulenta, iniciada em 1999. Os dois lados entraram em confronto quase imediatamente após a formação da Verizon Wireless. Ambas as partes estudaram, por vezes, assumir o controle total do negócio na base do tapetão, em razão de estratégias discrepantes. “Por interesse da Vodafone, a Verizon Wireless fez parcerias com empresas concorrentes da Verizon em telefonia fixa”, diz Renato Pasquini, analista de telecomunicações da consultoria Frost & Sullivan. “Agora essas amarras já não existem e é natural que a Verizon faça sinergias entre seus dois negócios.” O mercado reagiu bem. As ações da Verizon, que faturou US$ 115,8 bilhões no ano passado, subiram 3,5% nos dois pregões após a divulgação da compra da Verizon Wireless. 

 

Corretoras, como a RW Baird, subiram o preço-alvo do papel. “Sem ter de pagar 45% para a Vodafone, os dividendos da Verizon devem ser incrementados”, disse à DINHEIRO Allan Nichols, analista da consultora americana de investimentos Morningstar. O papel da Vodafone também teve alta similar ao da Verizon. A Vodafone, que teve receita de US$ 67,5 bilhões no ano passado, agora ganha um problema invejável: decidir a melhor forma de gastar os bilhões de dólares que receberá. A empresa anunciou que usará cerca de US$ 20 bilhões para reduzir sua dívida, de US$ 39 bilhões. O restante deve ser usado para consolidar posições em seu quintal. “A empresa deve investir em aquisições de companhias de porte médio nos países onde já atua”, afirma Nichols. 

 

O analista aponta a Índia como um provável alvo dos investimentos. No Brasil, há tempos circulam rumores sobre a vinda da empresa. Os primeiros comentários surgiram no ano 2000, quando se esperava que a companhia competisse no então recém-privatizado mercado de telefonia. A chegada, no entanto, foi discreta. A Vodafone fechou no mês passado uma parceria com a Datora, de São Paulo, focada no mercado de máquina a máquina (M2M). O presidente da Vodafone, Vittorio Colao, deu declarações que deixam em aberto a possibilidade de usar o fabuloso incremento no caixa em qualquer parte do globo. “Se encontrarmos boas oportunidades, vamos olhar para esses ativos”, afirmou Colao. Um divórcio caro, porém aparentemente bom, para as duas companhias.

 

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